Literatura A Instrumentalina e a perenidade da lembrança De maneira simples e com belas ilustrações, conto de Lídia Jorge mostra como algumas recordações nos acompanham pela vida

Por: Bárbara Valdez

Publicado em: 22/10/2016 13:00 Atualizado em: 21/10/2016 22:26

Ilustrações de Anna Cunha dão um charme maior ao texto. Foto: Anna Cunha/Reprodução
Ilustrações de Anna Cunha dão um charme maior ao texto. Foto: Anna Cunha/Reprodução

Um livro singelo e, que a primeira vista, pode ser confundido com uma obra infantil, seja pela capa ou pelas ilustrações delicadas que o compõem. No entanto, A instrumentalina, conto escrito pela portuguesa Lídia Jorge, é um relato saudoso de uma mulher que relembra seus tempos de criança, em especial os momentos de alegria que passou com o tio e a bicicleta de corrida dele, chamada de Instrumentalina. O exemplar, escrito em 1992, foi publicado recentemente no Brasil pela editora Peirópolis e traz ilustrações de Anna Cunha.

Em um texto com pouco mais de 40 páginas, a autora expressa como uma lembrança pode se fazer presente durante a vida inteira. No caso da narradora, a relação afetiva com o tio Fernando, com a liberdade da infância e a ideia quase mágica que ela via na bicicleta ficaram gravadas em sua memória, mesmo quase 30 anos depois dos acontecimentos. É apenas um recorte das diversas experiências que aquela menina deve ter vivido ao longo do tempo, mesmo assim ele tem vida própria e o leitor consegue imaginar tudo que se construiu antes e depois daquelas cenas.

"Quem uma vez percorreu os caminhos do paraíso, sentado num transporte de delícia, jamais pode esquecer a imagem do objeto condutor." P. 13

As ilustrações carregam um tom delicado, com cores sutis e o traço mistura inocência e certa tristeza. Eles retratam o clima da casa onde a personagem viveu enquanto menina, alegre junto aos primos e primas e ao tio que corre veloz na bicicleta, mas também tenso junto a um avô conservador e a mulheres tristes (sua mãe e tias) que esperam pelos maridos que as abandonaram.

O conto tem uma linguagem mais rebuscada, então vale uma segunda leitura para realmente entender algumas passagens. De qualquer forma, para expressões ou determinadas palavras há um glossário no fim do livro explicando o significado de cada uma. São termos caracteristicamente usados na cultura portuguesa.

Em relação ao conteúdo, a narrativa é prazerosa e de rápida leitura. As imagens também dão um encantamento maior ao texto. De forma geral é um exemplar que a cada olhar, provavelmente vai deixar uma a sensação aquela sensação quente de memória.

"Um conto breve faz um sonho longo." P.9

A literatura gosta de reviver memórias

Livros de gêneros e anos diferentes têm como ponto de partida as lembranças de personagens. Foto: Montagem/DP
Livros de gêneros e anos diferentes têm como ponto de partida as lembranças de personagens. Foto: Montagem/DP


Produções de diferentes autores e épocas usam do artifício da lembrança para construir seus enredos. Muitas vezes a história começa no presente e aí o narrador volta no tempo, para apresentar momentos marcantes que ele ou algum outro personagem da obra viveu. Nisso o período que já se foi torna a ganhar intensidade e mostra que nada morre enquanto alguém recordá-lo.

Eu, robô, de Isaac Asimov

São nas lembranças da Dra. Susan que o leitor acompanha o surgimento dos robôs na sociedade. Em um conjunto de nove contos, uma das obras mais famosas da ficção científica debate a ética, emoção e o que é significa ser humano.

A sutileza do sangue, de Andrea Ferraz

Um livro que mostra o Sertão pernambucano pelos olhos de uma família. Ao misturar biografia com ficção, a narrativa acompanha tios, pais, avôs e irmãos ao longo do tempo, nas mudanças de vividas e observadas no lugar.

Água para elefantes, de Sara Gruen

Um romance. Uma narrativa que mostra as aventuras da juventude e os percalços da velhice. A vida tem um ciclo e um senhor apaixonado pelo circo revive os momentos em que morou em um.

O oceano no fim do caminho, de Neil Gaiman

Recheado de fantasia e com certos toques sombrios, a história mostra um homem adulto que por alguns momentos revive uma aventura da infância, algo que foi tão incrível que ele duvida até mesmo se realmente aconteceu.
 



Acompanhe o Viver no Facebook:


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL