Tributo A incrível história do menino de 10 anos que criou um museu para Luiz Gonzaga no Sertão Museu de Luiz Gonzaga tem mais de cem objetos e já atraiu o interesse da família do Rei do Baião

Por: Marcela Assis - Diario de Pernambuco

Publicado em: 21/01/2016 10:55 Atualizado em: 22/01/2016 13:50

Espaço foi lançado no dia do aniversário do forrozeiro. Foto: Ronuery Rodrigues/Divulgação
Espaço foi lançado no dia do aniversário do forrozeiro. Foto: Ronuery Rodrigues/Divulgação

Quando Luiz Gonzaga compôs, parceria com Zé Marcolino, Numa sala de reboco (1965), os pais de Pedro Feitosa nem se conheciam. Cinco décadas depois, a canção precisou ser executada só uma vez para inspirar o menino de 10 anos a homenagear o Rei do Baião. Decidido a divulgar a obra do pernambucano, o cearense caminhou até a casa de cimento aparente onde mora o avô e pediu o objeto mais antigo que ele tivesse. Foi assim que uma máquina de costura se tornou o primeiro item exposto no Museu de Luiz Gonzaga, montado na casa da bisavó, na Rua Alto da Antena, em Dom Quintino, Crato, no Cariri.

Quem se interessar em visitar o acervo será gentilmente guiado pelo fundador, que divide a rotina entre a escola e a “administração” do espaço. “Tem dia que só tenho aula de manhã. Aí, meu pai toma conta e explica para as pessoas. À tarde, eu falo. Faço isso melhor que ele”. Por enquanto, o museu é composto por elementos que pareçam ser da época de Gonzaga.

Ciente da história do cantor, o cearense escolheu a data de aniversário dele, 13 de dezembro, para iniciar as atividades do museu, em 2015. O artista, lembra, ele conheceu com auxílio de uma professora. “Cheguei na escola cantando Asa Branca, mas não sabia a letra toda. Minha professora me ajudou. Depois, minha tia me deu um MP3 com músicas dele, gostei muito”. Os amigos de turma parecem não compartilhar do interesse: “Dizem que Gonzaga tem música chata, de velho. Digo ‘música chata é funk’”.

Idealizador guia os visitantes pelo espaço. Foto: Rafael Pereira/Divulgação
Idealizador guia os visitantes pelo espaço. Foto: Rafael Pereira/Divulgação

Apesar de Numa sala de reboco servir de inspiração, ele faz questão de destacar que a vontade de criar um centro em memória do Rei do Baião nasceu há dois anos. Caminhando pelo Museu do Gonzagão, em Exu, cidade natal do músico, Pedro começou a imaginar como seria se ele pudesse ter algo parecido na rua onde mora: “Não tinha nada daquele jeito por aqui”. O presidente da ONG Parque Aza Branca, responsável pelo centro, Júnior Parente, se orgulha pela contribuição: “Fico feliz em saber dessa história. Significa que Gonzaga continua vivo ao ponto de um menino de 10 anos ter despertado o interesse em criar um museu para homenageá-lo”.

O projeto tem atraído doações. Hoje, soma mais de 100 objetos, entre sandálias de couro, livrinhos de cordel e cuias. Na “gerência”, Kaio Everton, 7, primo de Pedro. Entre as pessoas que decidiram ajudar, a professora universitária e pesquisadora pernambucana Simone Ventura. “Me senti na obrigação de ajudar. É criança do interior e não tem acesso a muitas coisas, mas decidiu fazer um museu. Falei com meus alunos que fizeram documentário sobre Gonzaga e eles autorizaram que eu o enviasse”, diz.  O sobrinho do Rei, Joquinha Gonzaga, teria se interessado. “Ele me disse que queria visitar o museu. Acho que chega na próxima semana”.

Acervo é composto por itens que pareçam contemporâneos ao Rei do Baião. Foto: Rafael Pereira/Divulgação
Acervo é composto por itens que pareçam contemporâneos ao Rei do Baião. Foto: Rafael Pereira/Divulgação

Entrevista >> Pedro Lucas Feitosa

“Eles dizem que Gonzaga tem música chata, de velho”

Qual seu objeto favorito do acervo?

É uma sanfoninha de brinquedo que ganhei do meu primo. Ele até me ajuda no museu, trabalha na gerência e faz a limpeza das coisas comigo.

O que você mais ouve das pessoas que vão conhecer o museu?
Falam que estão impressionadas, porque sou uma criança e já me preocupo com isso. Dizem para eu não parar.

>>Em nome do rei

Parque Aza Branca
No local, situado em Exu, cidade natal de Luiz Gonzaga, é possível conhecer o Museu do Gonzagão. No acervo, sanfonas, roupas, chinelos, discos e outros objetos que pertenceram ao Rei do Baião. Além do espaço, visitantes podem entrar na casa onde morou o artista.
Onde fica: rodovia Asa Branca, quilômetro 38, Exu
Funcionamento: das 8h às 12h e das 13h às 17h. Aberto todos os dias, exceto às segundas-feiras

Cais do Sertão
Inaugurado em abril de 2014, com investimento inicial de R$ 97 milhões, o Cais do Sertão foi instalado no antigo Armazém 10 do Porto do Recife. Tem cerca de 2 mil metros quadrados e expõe riquezas materiais e culturais do universo gonzagueano, com ambientes sensoriais e de interação tecnológica.
Onde fica: Avenida Alfredo Lisboa, s/n, Bairro do Recife
Funcionamento: das 11h às 17h, exceto às segundas-feiras

Memorial Luiz Gonzaga
O espaço, no Recife, é um centro de memória aberto para visitantes e pesquisadores. Quem passa pelo espaço tem a oportunidade de ver réplicas de partituras e documentos relacionados a Luiz Gonzaga. Parte do acervo é cópia do material exposto no Museu do Gonzagão.
Onde fica: Pátio de São Pedro, casa 35, bairro de São José
Funcionamento: das 9h às 17h, de segunda a sexta


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