Teatro Stepan Nercessian interpreta Chacrinha no Recife e afirma: "Os apresentadores de hoje não correm riscos" Musical sobre a vida e obra do velho guerreira terá sessões de sexta a domingo no Teatro de Santa Isabel

Por: Marina Simões - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/10/2015 09:10 Atualizado em:


Stepan Nercessian elogi espírito anárquico do Cassino do Chacrinha. Foto: Marcos Pacheco/Divulgação
Stepan Nercessian elogi espírito anárquico do Cassino do Chacrinha. Foto: Marcos Pacheco/Divulgação

“Quem não se comunica se trumbica”. “Teresinhaaaa!”. “Vocês querem bacalhau?”. Os bordões inesquecíveis ajudaram Chacrinha a se tornar uma das divindades do panteão artístico brasileiro. Inovador, brincalhão, copiado até hoje, ele consolidou um estilo de programa de auditório na TV brasileira, após brilhar no rádio. Nascido Abelardo Barbosa, em Surubim, no Agreste, o pernambucano é revivido em espetáculo encenado de sexta a domingo no Teatro de Santa Isabel - justamente na semana do aniversário de 98 anos de nascimento. Chacrinha, o musical, tem texto de Pedro Bial e Rodrigo Nogueira, com direção de Andrucha Waddington.

O espetáculo explora a trajetória de Abelardo até virar Chacrinha, o “primeiro palhaço da televisão brasileira”, e mostra o sucesso do Cassino do Chacrinha. O ator Pedro Henrique Lopes é o jovem Abelardo saído de Pernambuco para se consagrar no sul do país. O musical é dividido em dois atos. “Mostramos o quanto a cultura nordestina influenciou o Abelardo a virar o Chacrinha. E a essência do Sertão está de forma muito forte nele”, diz o ator Stepan Nercessian, o Velho Guerreiro no segundo ato da peça.

Ele captou os trejeitos, as emoções e a desenvoltura de Chacrinha para apresentar angústias e dificuldades enfrentadas pelo comunicador.  Expõe facetas menos conhecidas, como a de um homem agitado, tímido e que se achava feio, mas tinha tesão por se comunicar e não abriu mão do que acreditava. “Ele tinha obsessão pela perfeição e organização. Nada podia dar errado. No programa era tudo organizado para ele chegar e bagunçar”, diz Nercessian.

O musical termina em festa no “Cassino do Chacrinha”, com direito a chacretes, troféu abacaxi, bacalhau e buzina. No palco, 18 atores-bailarinos recriam o concurso de calouros com covers de Sidney Magal, Roberto Carlos, Ney Matogrosso, Fábio Junior.

O cassino na tv

O Cassino do Chacrinha fez história. Exibido de 6 de março de 1982 a 2 de julho de 1988, o programa apresentava atrações musicais, entrevistas e show de calouros nas tardes de sábado da Globo. Por lá, passaram nomes como Paralamas do Sucesso, Alceu Valença, Titãs, Ultraje a Rigor, Leo Jaime. Após 27 anos da morte do apresentador, a atração foi reprisada pelo Viva em março de 2014 e aumentou em 16% a audiência no horário, além de ficar no ranking dos dez mais vistos entre o público acima de 25 anos do canal pago. Um especial gravado durante a encenação do Chacrinha, o musical, estrelado por Stepan Nercessian e com a presença de vários artistas, será exibido no Viva, no sábado, às 20h30. O canal estuda criar versões inéditas do programa, misturando antigos jurados com novos artistas, como fez com o Globo de Ouro e o humorístico Sai de baixo. 

Entrevista >> Stepan Nercessian


Como a geração que não conheceu o Chacrinha pode se interessar pela montagem?
Temos vários tipos de público. Para quem o conheceu é um deleite e quem nunca o viu acaba conhecendo um grande personagem. Vejo uma série de jovens que vão acompanhando os pais e avós. Certa vez uma menina perguntou ao pai: “Tinha um cara doido assim na TV?”.

O que você acha dos programas de auditório atuais?
Acho que estão muito pasteurizados. Cada um do seu jeito, mas é como se não fosse ao vivo. A plateia se manifesta militarmente, senta, levanta, nada que extrapole isso como o Chacrinha fez. Os apresentadores não correm riscos. É tudo ensaiado, esquematizado. Um ao vivo que parece meio morto. Muitos deles têm jurados, dançarinos, calouros, mas nenhum que tenha o conjunto da obra. Não tem principalmente a sensação de alguém que está se jogando sem rede. Que não esteja fazendo as coisas sem saber onde vai parar. Esse risco era bonito, sinto falta disso nas telas.

Como foi o processo de composição do personagem?
Como não sei imitar, procurei fazer o Chacrinha como se fizesse qualquer outro personagem. Busquei entender as emoções, os sentimentos e o temperamento dele. Sabia que não ia aparecer apenas com figurino característico, mas também ia representar as angústias, o diálogo com a família, as relações pessoais. Primeiro fiz isso e com a chegada do figurino e cenário chegamos a esse resultado que todo mundo fala que ficou igual. Não queria fazer nada de fora pra dentro. E acabou que a magia do teatro, que não conseguimos explicar, fez o resto.

Serviço
Chacrinha, o musical
Quando: Sexta e sábado, às 20h e domingo, às 19h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio)
Ingressos: Camarotes A: R$ 50 e R, Camarotes B: R$ 50 e R, Plateia: R$ 100 e R, Frisas: R$ 100 e R
Informações: 3355-3323

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