LANÇAMENTO

Livro investiga evolução dos traços do pintor Reynaldo Fonseca

Livro %u201CReynaldo Fonseca%u201D, que será lançado hoje, no Mepe, percorre toda a vida do artista pernambucano e a sua inserção na cena artística nacional

Publicado em: 21/05/2024 06:00 | Atualizado em: 21/05/2024 03:18

Obra "Reynaldo Fonseca"  faz cronologia da pintura do artista pernambucano (Crédito: Reprodução)
Obra "Reynaldo Fonseca" faz cronologia da pintura do artista pernambucano (Crédito: Reprodução)
Há quem nasça para a arte e quem dela nunca se afaste até o fim da vida. Reynaldo Fonseca teve o privilégio de viver ambas as realidades. Aos cinco anos, pintou o seu primeiro quadro e, ao completar 75 anos de carreira, brindou a data com um álbum de gravuras. Ao longo desse percurso, ganhou uma legião de admiradores entre o público geral, críticos e colecionadores. O legado do artista na arte pernambucana, muitas vezes esquecido nas páginas dos jornais e documentos da época, será celebrado hoje, às 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), com o lançamento do livro "Reynaldo Fonseca".

Com textos em português e inglês, em 272 páginas, a publicação compila o extenso acervo do pintor, desde os anos 1930 até sua morte. A maioria das obras sobre Reynaldo se restringem ao seu período no Rio de Janeiro, durante os anos 1980, e subestimam a importante contribuição dele para a cena artística do Recife. “Acho que as pessoas só conhecem uma parte da história do Reynaldo, não sabem como ele chegou ao seu estilo de trabalho nem como ele o desenvolveu. A proposta do livro é exatamente essa: mostrar desde o começo da carreira dele como seu trabalho evoluiu”, diz a co-autora Denise Mattar, também responsável pela curadoria. A publicação foi realizada com o patrocínio do REC Cultural, através da Lei de Incentivo à Cultura.

Colaborador na obra, Maurício Redig de Campos, sobrinho de Reynaldo, exalta a maestria do tio na pintura. “Reynaldo Fonseca é conhecido como um artista dedicado aos detalhes, cuja vida foi marcada pelo constante aprimoramento de sua arte. Cada um de seus desenhos é uma obra-prima, onde cada traço é meticulosamente planejado e executado com maestria. Sua busca incansável pela perfeição e harmonia nas cores o levou a criar um universo único, facilmente reconhecível como seu”.

Praticamente autodidata, Reynaldo recebeu poucas orientações sobre técnicas de pintura. Ele frequentou a Escola de Belas Artes de Pernambuco como ouvinte aos 11 anos, quando foi aluno de Lula Cardoso Ayres e fez curso de magistério em desenho. Depois, se mudou para o Rio e estudou durante seis meses com Cândido Portinari. “Reynaldo não foi propriamente aluno do Portinari, mas ia ao Rio de Janeiro e, uma vez por semana, levava sua produção para ser orientado por ele. Reynaldo considerava o Portinari um de seus mestres”, comenta Mattar. 

A curadora se debruçou sobre a vida e obra de Reynaldo Fonseca a partir de 2019, em parceria com a família, que cedeu acesso para o acervo inteiro. De acordo com Mattar, foram encontrados relatos inéditos sobre as inspirações de Reynaldo e como a fotografia moldou seu trabalho artístico. “Incluímos a fotografia, o desenho e, depois, a obra final, explicando como ele chegava ao resultado. Na verdade, ele nunca copiava uma fotografia; se inspirava em um gesto, em um detalhe, porque era completamente antissocial. Gostava de ficar quieto no seu canto e dizia que ter um modelo seria algo que o incomodaria muito. Por isso, preferia trabalhar com fotografias. 

Desde os primeiros traços feitos aos 5 anos até o domínio dos pincéis, Reynaldo explorou diferentes formas de pintura, como a aquarela, bico de pena, pincel seco e, por último, óleo sobre tela. Ele aplicava camadas finas de tinta, visando alcançar a transparência ou a cor desejada. Logo, começou a ter sucesso nas vendas, mas todo o dinheiro arrecadado era reinvestido em sua própria obra. À medida que sua situação financeira melhorava, comprava molduras, telas e tintas de qualidade superior. “Ele era, de fato, um artista inteiramente voltado para sua pintura, que buscava questões eternas”, destaca a curadora.

Após ganhar dinheiro e obter reconhecimento com a pintura, ele interrompeu seu trabalho e passou a se dedicar exclusivamente às artes gráficas na década de 1950, produzindo ilustrações para livros e artigos de jornal no Gráfico Amador. A motivação por trás disso era desconhecida, até que Denise Mattar encontrou uma carta de Reynaldo destinada ao crítico de arte Jaime Maurício. Ela afirma que foi a descoberta mais relevante no processo de pesquisa. “Ele diz que ficou tão insatisfeito com a pintura em um certo momento que resolveu trabalhar apenas com gravura e desenho. Quando encontra seu caminho, decide segui-lo, embora com muitas variações, até o final da vida”.
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