MÚSICA

Qual o futuro do jazz no Brasil e no mundo?

Diferentes vertentes do jazz impressionam no C6 Fest, em São Paulo, e festival pode ser grande abertura para crescimento do público do estilo musical no país

Publicado em: 18/05/2024 14:04 | Atualizado em: 18/05/2024 14:40

 (Charles Lloyd em apresentação de abertura do C6 Fest, em São Paulo. Foto: Divulgação)
Charles Lloyd em apresentação de abertura do C6 Fest, em São Paulo. Foto: Divulgação
São Paulo (SP) - Em que momento do jazz estamos hoje? Evento que desde a sua primeira edição, no ano passado, traz ao Brasil nomes de várias regiões do país e do mundo para explorar a diversidade e renovação desse e de outros estilos musicais, do rock ao soul, o C6 Fest abriu na última sexta-feira (17), no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, com uma sequência de apresentações que desafiam essa pergunta com músicos de variadas origens e formatações estilísticas – e de permanente espírito de vanguarda.
 
Um dos mais experientes saxofonistas do gênero, o flautista norte-americano Charles Lloyd, aos 85 anos, por exemplo, é um dos precursores do jazz psicodélico e tocou por muitos anos com a geração do rock da década de 1960, incluindo Jimi Hendrix, The Doors e Grateful Dead. A apresentação do quarteto do artista, composto tradicionalmente por piano, bateria e contrabaixo, demonstrou como a versatilidade do gênero se mantém viva e em constante transformação. Com um fôlego que sustenta mais de uma hora de espetáculo, o saxofone de Lloyd passeia pelos diferentes tempos do jazz, do mais lento ao acelerado, e consegue surpreender a cada minuto com seus improvisos.
 
Em uma chave mais rigorosa, a apresentação da maestrina sul-coreana Jihye Lee, um dos nomes proeminentes do gênero hoje, mostra como essa mesma imprevisibilidade do estilo também pode seguir uma formatação clássica sem perder sua força. A regente teve grande sucesso no começo da carreira como cantora de indiepop e surpreendeu ao quebrar o tom instrumental da sua apresentação e soltar a voz acompanhada pelos metais, intensos metais, liderados pelo saxofone, e uma bateria cheia de idas e vindas.

 (Maestrina Jihye Lee e orquestra. Foto: Divulgação)
Maestrina Jihye Lee e orquestra. Foto: Divulgação

Na presença do dueto instrumental composto pelos brasilienses Pedro Martins e Daniel Santiago, o C6 Fest explorou em sua abertura o potencial sensorial, intimista e contemplativo do dedilhado de violão e guitarra. A dupla fortemente inspirada com Tom Jobim, Dorival Caymmi e Clube da Esquina transforma uma sonoridade reconhecível desses ícones da música brasileira e algo novo e tão imprevisível e cheio de balanços quanto o melhor do jazz. Composições autorais de ambos, que já possuem projetos em conjunto (como os álbuns “Simbiose” e “Movement”), surpreenderam a crítica e o público do festival – e eles vem sendo cada vez mais considerados promessas do gênero do país.

 (Daniel Santiago (à esquerda) e Pedro Martins (à direita). Foto: Divulgação)
Daniel Santiago (à esquerda) e Pedro Martins (à direita). Foto: Divulgação

Uma demonstração curiosa da linha experimental do jazz é o guitarrista dinamarquês Jakob Bro, que cria paisagens sonoras desafiadoras através de uma vertente mais eletrônica e que mistura seu trompete com ruídos sombrios que remetem a trilhas musicais noir. Seu trio Uma Elmo, composto pelo trompetista norueguês Arve Heriksen e o baterista espanhol Jorge Rossy, constrói um clima abstrato e demonstra um estilo característico da cena escandinava do gênero. 

 (Jakob Bro e trio 'Uma Elmo'. Foto: Divulgação)
Jakob Bro e trio 'Uma Elmo'. Foto: Divulgação

Cada uma dessas vertentes contou, na abertura do C6 Fest, com grande apreço da plateia, com aplausos de pé para todas as apresentações. Em entrevista ao Viver, a curadora e organizadora do festival, Monique Gardenberg, comentou sobre a importância de mostrar essa diversidade e atualização frequente do jazz para os brasileiros.
 
“O C6 Fest tem esse propósito de explorar múltiplas formatações para evidenciar o que há de maior qualidade em cada uma delas e principalmente as dimensões a que o jazz pode ser levado. Jakob Bro, por exemplo, tem uma pegada incrível de experimentação com o eletrônico e nos leva para outros lugares. Precisamos abrir este leque e, nos próximos anos, pretendemos trazer, além dessas atrações internacionais, cada vez mais nomes do Brasil também, como o pernambucano Amaro Freitas, que tem um trabalho maravilhoso”, destaca Monique. “É muito lindo ver o jazz se reinventando, porque mesmo os artistas consagrados, como Charles Lloyd, estão constantemente nos surpreendendo e são uma eterna vanguarda do gênero. É isso, inclusive, que faz com que tantos jovens procurem eventos como esse e o jazz siga atemporal e vivo”, completa. 
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