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Polêmica Qual a cara da Uber no Recife? Depois de dois meses funcionando na capital, motoristas e passageiros mostram que aplicativo atraiu perfis diversos. Legislação deixa a desejar

Por: Larissa Rodrigues - Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/05/2016 10:44 Atualizado em: 01/05/2016 11:57

No próximo dia 3, a Uber completa dois meses de funcionamento no Recife. Nesse período, a polêmica em torno do aplicativo só aumentou. Conflitos entre taxistas e motoristas do novo serviço da cidade se acentuaram. Até gente que não tinha nada a ver acabou sofrendo agressões por ser confundido com motorista de Uber. Legal ou ilegal? Autoridades e empresa ainda não chegaram a um consenso a respeito da atividade no Recife, o que incentiva o embate entre as duas categorias e seus defensores.

No meio de tudo, com polêmica ou sem polêmica, o fato é: a Uber trouxe à capital a oportunidade de fazer e economizar dinheiro em ano de crise. Cidadãos com as mais variadas condições vem garantindo que o alívio no bolso é real, seja trabalhando na Uber, seja economizando ao usar o transporte, que oferece preços acessíveis. A empresa não divulga quanto o serviço tem movimentado no Recife, mas os relatos de quem trabalha e de quem usa apontam para a vantagem financeira, entre outras. Mas quem são essas pessoas? O que elas acham da nova forma de trabalhar e se locomover?

Pessoas com as mais variadas necessidades

Sílvia trabalhava em uma indústria e foi demitida. Hoje tem quase a mesma renda.
Malu Cavalcanti/ Esp. DP
Sílvia trabalhava em uma indústria e foi demitida. Hoje tem quase a mesma renda. Malu Cavalcanti/ Esp. DP


Os perfis de quem aderiu a Uber para trabalhar são bem diversificados. Demissões por causa da crise, complemento de renda e até insatisfação com a ex-profissão, por coincidência de taxista, são relatos comuns. Sílvia Braga Raposo tem 49 anos. Separada, sem filhos e moradora de Jaboatão dos Guararapes, Grande Recife. Passou 14 anos vendendo máquinas industriais. Tinha renda média de R$ 4 mil mensais. Em dezembro de 2015, veio a notícia: estava demitida. “Foi um dos cargos mais extintos. Caiu muito o comércio das máquinas, importadas e vendidas com preço de dólar”, relatou.

Precisando recomeçar, ela pensou num mercado alternativo. Sabia ser inútil buscar emprego na concorrência, com setor inserido na crise. Foi quando teve a ideia da Uber. “O mais difícil eu já tinha adquirido, o carro. Procurei informação on line e achei um vídeo de alguém que já estava na empresa. Ouvi uma palestra, levei a documentação e comecei a rodar em 15 de março.” Como todo recomeço, não foi fácil para Sílvia. Ela precisou investir no carro para convertê-lo para gás. Gastou R$ 4 mil. Dividiu em três parcelas, mas diz estar conseguindo retirar o dinheiro da prestação. “Trabalho de oito a dez horas por dia. Faço em média R$ 800 por semana”, comentou.
O gaúcho Mércio Espíndola foi caminhoneiro e taxista antes de aderir à Uber no Recife.
Joao Velozo/Esp. DP.
O gaúcho Mércio Espíndola foi caminhoneiro e taxista antes de aderir à Uber no Recife. Joao Velozo/Esp. DP.

Contador formado, o gaúcho Márcio Espíndola Corrêa, 47 anos, chegou ao Recife em 2004. Se apaixonou por uma pernambucana. Tem experiência no volante. Trabalhou como caminhoneiro. Depois, como taxista. No final do ano passado e início deste ano, passou 45 dias no aeroporto do Recife observando como funcionava a praça de táxis do local. Achou a experiência triste. “Exigiram uma documentação infernal. Além disso, você trabalha 14 horas seguidas, dia sim dia não, porque a maioria é rendeiro. Nenhum proprietário dirige táxi, eles terceirizam. Tem cara com 120 táxis na praça”, revelou.

Já sabendo da Uber em São Paulo e avaliando o assunto, foi um dos 100 primeiros motoristas no Recife.
Hoje, seu maior rendimento é a Uber, cerca de R$ 4 mil por mês. Mas continua com o escritório, onde tira R$ 1,5 mil mensal. “Trabalho de 10 a 14 horas por dia, rodo pela Zona Norte. Sempre tenho revistas e jornais, amendoin, balas, paçoca e água mineral.” Para Márcio, a melhor coisa da nova atividade é a sensação de liberdade. “Trabalho quando quero, na hora que quero. O ruim é você ter que trabalhar bastante. Mas a empresa é séria, paga em dia e assume os compromissos se houver ônus”, defendeu.

A flexibilidade de horário também atraiu o supervisor de operações de uma empresa de call center, no local há cinco anos. José Joaquim da Silva Neto, 29, trabalha de dez a 12 horas por dia de segunda a sexta. Às vezes finais de semana, no sábado pela manhã. Só lhe sobram a tarde de sábado e o domingo para rodar na Uber. “Mas precisava aumentar minha renda para pagar o curso de Direito. Junto o dinheiro do aplicativo para ano que vem fazer a faculdade. Não penso em deixar o emprego e ficar só na Uber. Neste momento é apenas um complemento.”

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