Diario Editorial: A sociedade embrutecida

Publicado em: 25/08/2017 07:23 Atualizado em:

O Brasil tem muito o que aprender quando se trata de tolerância e preconceitos de naturezas diversas. Dois casos ocorridos esta semana, um nacional e outro local, servem como balizadores do ódio que é disseminado e agora potencializado em redes sociais de relacionamento na internet e em aplicativos de celulares. O primeiro diz respeito à Miss Brasil 2017, a recém-eleita piauiense Monalysa Alcântara, vítima de recorrentes ataques racistas após receber a coroa no concurso de beleza desbancando outras 26 concorrentes. Universitária e modelo de 18 anos, a terceira negra eleita no país em 60 edições do Miss Brasil foi chamada de “plebeia”, “empregadinha” e houve até quem desejasse a morte para ela antes do Miss Universo.

Em Pernambuco, a fúria de muitos se voltou contra o casal formado por Taynan dos Prazeres e Yudi dos Santos, o primeiro transsexual-pai de Pernambuco. Os dois moram em São Lourenço da Mata e são pais de Ariel, um bebê de um mês que ganhou nome agênero, ou seja neutro, e que será criado dentro da mesma filosofia. Segundo eles, Ariel será orientado sem binarismo para que no futuro possa escolher ser e viver como mulher ou homem.

Não só a notícia, dada com exclusividade nas páginas do Diario de Pernambuco e tratada como indicativo de um fenômeno social que começa a ser visto no mundo, mas os próprios personagens se transformaram em alvo de centenas de ataques verbais. A família da criança diz ter se sentido intimidada diante de tamanha reação negativa dos leitores.

O tema é dos mais delicados. Até mesmo entre simpatizantes e militantes da Comunidade LGBT surgiu divergência sobre o futuro que está sendo construído para Ariel. Compreende-se. Aceita-se. Debates sobre excessos, valores, sexualidade, gênero e sobre o futuro que queremos e teremos são opiniões moldagem para o novo mundo, que está aí e não se pode negar.

Tanto no caso de Ariel quanto no caso de Monalysa o que não é aceitável é a falta de respeito para com os outros. Até que ponto a divergência e a contrariedade diante de algo com o qual não se apoia dão livre passagem para que um cidadão provoque ou ataque o outro como bárbaros embrutecidos?


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