O livro como revolução: bienais e o despertar cultural do Brasil
Rogério Robalinho
Produtor cultural, diretor da Cia de Eventos e coordenador da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco há mais de três décadas
Publicado em: 15/04/2025 03:00 Atualizado em: 14/04/2025 22:29
O cenário brasileiro da leitura e do consumo de livros revela mais do que estatísticas frias: mostra uma sociedade em permanente disputa entre o potencial cultural latente e um preocupante distanciamento do livro como prática cotidiana. Dados recentes, revelados pela pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, apontam que apenas cerca de 52% dos brasileiros declaram ter o hábito da leitura. O número médio de livros consumidos a cada trimestre (aproximadamente 2,6 livros por pessoa) confirma que, apesar dos esforços empreendidos até aqui, ainda convivemos com profundas contradições que limitam o alcance da literatura como ferramenta de transformação social e cultural.
Como coordenador da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco há mais de três décadas, acompanhei de perto os desafios impostos por essa realidade. Vi o mercado editorial brasileiro alternar ciclos de crescimento promissor com períodos difíceis marcados por crises econômicas e mudanças bruscas nos hábitos culturais da população.
Mais do que testemunha, fui também um agente ativo das profundas transformações que as Bienais, como eventos estratégicos, ajudaram a impulsionar na sociedade brasileira. Hoje, posso afirmar com segurança: as Bienais e as grandes feiras literárias brasileiras representam não apenas uma oportunidade ímpar de estímulo ao consumo de livros, mas são verdadeiros motores de transformação cultural, capazes de moldar leitores, influenciar tendências literárias e redefinir o papel da literatura no Brasil.
A força das Bienais reside precisamente na sua capacidade de atrair e mobilizar diferentes públicos. Pesquisas realizadas durante a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro (2019) e a Bienal de São Paulo (2022) revelaram um perfil instigante dos visitantes desses eventos: mais de 95% deles se declararam leitores frequentes, apresentando um consumo médio de até sete livros nos três meses anteriores à pesquisa. Esses números, significa%u019Fvamente superiores às médias nacionais, comprovam que eventos literários desempenham papel decisivo na formação de uma comunidade leitora forte, engajada e crítica. Contudo, vão além: indicam que o público das Bienais já está predisposto a se tornar um agente multiplicador, inspirando outras pessoas em suas redes sociais e círculos de convivência a adotarem o hábito da leitura com mais frequência e profundidade.
No entanto, limitar o impacto das Bienais apenas àqueles que já são leitores habituais seria ignorar talvez o maior valor social e cultural desses eventos. Ao longo das três décadas em que atuo diretamente na realização da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, presenciei inúmeras vezes a poderosa capacidade transformadora que essas iniciativas têm sobre o público ocasional, aquele que, muitas vezes, frequenta uma Bienal por curiosidade ou influência externa. Esses visitantes têm contato, talvez pela primeira vez, com um ambiente que celebra o livro como objeto central de identidade cultural. Eles encontram uma atmosfera vibrante, onde escritores consagrados, autores emergentes, influenciadores digitais e leitores entusiastas convivem num espaço de diálogo, descoberta e paixão genuína pela literatura. Muitos saem da Bienal transformados, convertendo-se em leitores frequentes e defensores da leitura em suas comunidades.
É especialmente animador notar o impacto desses eventos no público jovem, frequentemente apontado, de forma equivocada, como distante do livro. Nas últimas edições da Bienal de Pernambuco, bem como nas maiores bienais do país, o que testemunhamos é exatamente o contrário: uma juventude ávida por descobrir novas vozes literárias, animada pela interação direta com autores favoritos e influenciada positivamente por uma nova geração de influenciadores digitais que têm no livro seu maior foco de interesse. Jovens leitores não apenas lotam auditórios e sessões de autógrafos como também passam a demandar mais títulos, mais diversidade e mais representatividade no mercado editorial. Essas demandas impulsionam o mercado editorial a evoluir, democratizando a produção cultural e permitindo que editoras independentes e autores autopublicados disputem em condições mais igualitárias a atenção de um público cada vez mais exigente e crítico.
O impacto econômico direto das Bienais também merece destaque contundente. Esses eventos representam momentos estratégicos cruciais para as editoras e autores, concentrando uma parcela significativa do faturamento anual do setor e permitindo lançamentos importantes que definem tendências literárias e editoriais para os meses seguintes. Editoras de todos os portes, inclusive pequenos empreendimentos independentes e autores autopublicados, encontram nesses eventos uma vitrine essencial para atingir um público mais amplo, confirmando o papel das Bienais não apenas como promotoras da cultura literária, mas como essenciais fomentadoras da economia criativa do país.
Ainda mais fundamental é o papel desempenhado pelas Bienais na formação cultural e educacional de crianças e adolescentes. Eventos como a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco possibilitam que escolas, educadores e famílias integrem crianças ao universo dos livros em um ambiente estimulante, alegre e convidativo. Ao participarem dessas experiências desde cedo, milhares de jovens brasileiros têm sua relação com a literatura moldada de forma positiva e duradoura, consolidando hábitos que repercutirão em toda a sua trajetória escolar e profissional.
Após mais de três décadas dedicadas à produção cultural e à realização da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, posso afirmar com convicção: as Bienais não são apenas eventos culturais importantes; são eventos essenciais, indispensáveis e estratégicos para a construção de uma sociedade mais crítica, educada e socialmente consciente. Sua capacidade de transformação ultrapassa os limites da cultura e toca o cerne da cidadania, da educação e do desenvolvimento nacional.
É tempo, portanto, de ampliarmos nossa compreensão sobre o papel crucial que as Bienais desempenham na construção do Brasil como uma nação leitora. Expandir seu alcance, diversificar seus públicos e fortalecer o impacto desses eventos é uma missão necessária e urgente. Somente assim poderemos garantir que cada Bienal cumpra seu maior objetivo: despertar no brasileiro o amor definitivo pela leitura e pela literatura, motores fundamentais do nosso desenvolvimento social e cultural.
Como coordenador da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco há mais de três décadas, acompanhei de perto os desafios impostos por essa realidade. Vi o mercado editorial brasileiro alternar ciclos de crescimento promissor com períodos difíceis marcados por crises econômicas e mudanças bruscas nos hábitos culturais da população.
Mais do que testemunha, fui também um agente ativo das profundas transformações que as Bienais, como eventos estratégicos, ajudaram a impulsionar na sociedade brasileira. Hoje, posso afirmar com segurança: as Bienais e as grandes feiras literárias brasileiras representam não apenas uma oportunidade ímpar de estímulo ao consumo de livros, mas são verdadeiros motores de transformação cultural, capazes de moldar leitores, influenciar tendências literárias e redefinir o papel da literatura no Brasil.
A força das Bienais reside precisamente na sua capacidade de atrair e mobilizar diferentes públicos. Pesquisas realizadas durante a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro (2019) e a Bienal de São Paulo (2022) revelaram um perfil instigante dos visitantes desses eventos: mais de 95% deles se declararam leitores frequentes, apresentando um consumo médio de até sete livros nos três meses anteriores à pesquisa. Esses números, significa%u019Fvamente superiores às médias nacionais, comprovam que eventos literários desempenham papel decisivo na formação de uma comunidade leitora forte, engajada e crítica. Contudo, vão além: indicam que o público das Bienais já está predisposto a se tornar um agente multiplicador, inspirando outras pessoas em suas redes sociais e círculos de convivência a adotarem o hábito da leitura com mais frequência e profundidade.
No entanto, limitar o impacto das Bienais apenas àqueles que já são leitores habituais seria ignorar talvez o maior valor social e cultural desses eventos. Ao longo das três décadas em que atuo diretamente na realização da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, presenciei inúmeras vezes a poderosa capacidade transformadora que essas iniciativas têm sobre o público ocasional, aquele que, muitas vezes, frequenta uma Bienal por curiosidade ou influência externa. Esses visitantes têm contato, talvez pela primeira vez, com um ambiente que celebra o livro como objeto central de identidade cultural. Eles encontram uma atmosfera vibrante, onde escritores consagrados, autores emergentes, influenciadores digitais e leitores entusiastas convivem num espaço de diálogo, descoberta e paixão genuína pela literatura. Muitos saem da Bienal transformados, convertendo-se em leitores frequentes e defensores da leitura em suas comunidades.
É especialmente animador notar o impacto desses eventos no público jovem, frequentemente apontado, de forma equivocada, como distante do livro. Nas últimas edições da Bienal de Pernambuco, bem como nas maiores bienais do país, o que testemunhamos é exatamente o contrário: uma juventude ávida por descobrir novas vozes literárias, animada pela interação direta com autores favoritos e influenciada positivamente por uma nova geração de influenciadores digitais que têm no livro seu maior foco de interesse. Jovens leitores não apenas lotam auditórios e sessões de autógrafos como também passam a demandar mais títulos, mais diversidade e mais representatividade no mercado editorial. Essas demandas impulsionam o mercado editorial a evoluir, democratizando a produção cultural e permitindo que editoras independentes e autores autopublicados disputem em condições mais igualitárias a atenção de um público cada vez mais exigente e crítico.
O impacto econômico direto das Bienais também merece destaque contundente. Esses eventos representam momentos estratégicos cruciais para as editoras e autores, concentrando uma parcela significativa do faturamento anual do setor e permitindo lançamentos importantes que definem tendências literárias e editoriais para os meses seguintes. Editoras de todos os portes, inclusive pequenos empreendimentos independentes e autores autopublicados, encontram nesses eventos uma vitrine essencial para atingir um público mais amplo, confirmando o papel das Bienais não apenas como promotoras da cultura literária, mas como essenciais fomentadoras da economia criativa do país.
Ainda mais fundamental é o papel desempenhado pelas Bienais na formação cultural e educacional de crianças e adolescentes. Eventos como a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco possibilitam que escolas, educadores e famílias integrem crianças ao universo dos livros em um ambiente estimulante, alegre e convidativo. Ao participarem dessas experiências desde cedo, milhares de jovens brasileiros têm sua relação com a literatura moldada de forma positiva e duradoura, consolidando hábitos que repercutirão em toda a sua trajetória escolar e profissional.
Após mais de três décadas dedicadas à produção cultural e à realização da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, posso afirmar com convicção: as Bienais não são apenas eventos culturais importantes; são eventos essenciais, indispensáveis e estratégicos para a construção de uma sociedade mais crítica, educada e socialmente consciente. Sua capacidade de transformação ultrapassa os limites da cultura e toca o cerne da cidadania, da educação e do desenvolvimento nacional.
É tempo, portanto, de ampliarmos nossa compreensão sobre o papel crucial que as Bienais desempenham na construção do Brasil como uma nação leitora. Expandir seu alcance, diversificar seus públicos e fortalecer o impacto desses eventos é uma missão necessária e urgente. Somente assim poderemos garantir que cada Bienal cumpra seu maior objetivo: despertar no brasileiro o amor definitivo pela leitura e pela literatura, motores fundamentais do nosso desenvolvimento social e cultural.
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