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O Medo

Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues
Advogado e Professor Universitário

Publicado em: 01/12/2023 03:00 Atualizado em: 30/11/2023 23:23

Recentemente fui acometido de uma doença que me deixou com medo, medo de parar minha atividade profissional por um tempo, medo de suas consequências, medo de sua evolução, medo de desestabilizar meu lar e o sustento de minha família e assim perdi muitas noites de sono, e terminei por piorar meu quadro, que já era difícil.

Descobri que o medo é didático e pode ser paralisante.

As definições dos dicionários indicam que a palavra medo significa uma espécie de perturbação diante da ideia de que se está exposto a algum tipo de perigo, que pode ser real ou não. Pode-se entender ainda o medo enquanto um estado de apreensão, de atenção, esperando que algo ruim vá acontecer.

Para além das definições da palavra, o medo é uma sensação. Essa sensação está ligada a um estado em que o organismo se coloca em alerta, diante de algo que se acredita ser uma ameaça.

O medo saudável é aquele que tende a nos afastar dos perigos, quando, por exemplo, nos deparamos com um tubarão no meio do mar, ou de um animal peçonhento em nossas proximidades.

O medo é uma reação a algum estímulo ameaçador, que pode ser real ou imaginado. O cérebro reage colocando o organismo em estado de alerta, o que provoca alterações por todo o corpo: aceleração dos batimentos cardíacos, desconforto intestinal, insônia e sono agitado.

Ele é algo natural e protetor e faz com que nos previnamos de situações arriscadas. Sem o medo, atravessaríamos sem olhar para os lados, andaríamos em ruas escuras sozinhos, passearíamos no parapeito dos prédios, não cuidaríamos da saúde. É claro que não é possível controlar tudo ou viver em um ambiente totalmente seguro. O que importa é identificar o tipo de medo e conseguir transformar o estado de medo em prudência

É normal se preocupar: você pode sentir preocupação, mas é importante não deixar que isso vire um pensamento constante. Existem dois tipos de preocupação: a pessimista, que bloqueia e aumenta a ansiedade (pensamentos típicos desse tipo de preocupação são: “vamos todos ficar desempregados”), e a construtiva, que mostra uma abordagem saudável e estratégica (esse tipo de preocupação nos leva a mais reflexões como: “Qual a probabilidade de eu ser demitido e, se isso acontecer, será temporário ou definitivo? Como posso agir caso isso aconteça?

O medo não pode ser paralisante e dominar todo o meu ser, tenho que saber que sou dotado de diversas sensações e desejos que não só o medo e, além de tudo, somos dotados de racionalidade, e, ainda, podemos nos socorrer de especialistas que venham ministrar terapias e tratamentos à respeito do medo que sentimos.

O medo pode ser uma força que nos impulsiona para a morte interior.

O sujeito amedrontado diante da vida e dos desafios existentes no caminho, não consegue agir em determinadas situações. Como diz a música de Lenine : “ O medo é uma chave que apagou a vida.”. A indecisão o paralisa e o coloca num labirinto de ansiedades.

Alguém que exige muito de si mesmo e deseja apenas agradar o outro, perde a sua verdadeira essência e vive na dependência da aceitação de alguém. E aí, como diz a letra da música do Lenine, o sujeito vive o “ Medo que dá medo do medo que dá.” É comum também, acontecer em relacionamentos profissionais, de amizade, familiares e amorosos. Principalmente em família. Um filho, por exemplo, que está sempre em busca da aceitação dos pais rigorosos e controladores, não consegue ser ele mesmo. Passa a fazer somente aquilo que os pais desejam. Acaba assim, na dependência de ser aceito.

Precisamos nos conhecer, saber de nossos medos e agonias, tentar conviver e fazer que eles me tragam vida e não falecimento pessoal e interior.

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