Il dolce far niente (O doce fazer nada)

Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues
Advogado e Professor Universitário

Publicado em: 07/07/2023 03:00 Atualizado em: 07/07/2023 06:57

Essa é a tradução literal e representa basicamente isso mesmo: a doçura de fazer nada, de ficar de boa, relaxando. Os italianos prezam muito por uma pausa, um momento para realmente não fazer nada e aproveitar, mesmo que estejamos cheios de obrigações.

Em Cabo Verde, o mesmo conceito e vivenciado com o que chamam de “MORABEZA”, ou aproveitar o tempo da vida com amabilidade de felicidade, e como sentimos isso quando experimentamos as primeiras sensações ao pisar naquele belíssimo arquipélago africano.

O conceito perpassa pelo ócio criativo, em aprendermos em ter um tempo “ocioso” voltado ao restabelecimento de nossas memórias e vivências. Dentro deste conceito encontra se o “slow food”, onde longas e fartas refeições são servidas e são aproveitadas sem contagem de tempo, em contraposição ao que conhecemos como “fast food”.

O “dolce far niente” é uma terapia mais do que eficaz para eliminar o estresse que carregamos, muitas vezes sem perceber, e que está incutido em nossas ações cotidianas. Corremos de um lado para outro, quase perdemos a hora ou o ônibus, levantamos pela manhã dando um salto da cama, comemos depressa demais porque temos que retornar ao trabalho…

O nosso cérebro necessita de um descanso de fato para que novas experiências possam ser sentidas em toda sua intensidade.

Muito preocupante é a prática constante de nossos adolescentes de não saberem lidar com o tempo ocioso e acreditarem ser perda de tempo.

O grande Domenico De Mais assim relata:

“O ócio é necessário à produção de ideias, e as ideias são necessárias ao desenvolvimento da sociedade. Do mesmo modo que dedicamos tanto tempo e tanta atenção para educar os jovens para trabalhar, precisamos dedicar as mesmas coisas e em igual medida para educá-los ao ócio.

Existe um ócio dissipador, alienante, que faz com que nos sintamos vazios, inúteis, nos faz afundar no tédio e nos subestimar. Existe um ócio que nos depaupera e outro que nos enriquece. O ócio que enriquece é o que é alimentado por estímulos ideativos e pela interdisciplinaridade.

O tédio abordado pelos existencialistas é sobretudo uma falta de sentido. Uma falta e uma busca de sentido, que nascem, justamente, do excesso de tempo disponível e da inexistência de compromissos que sirvam para preenchê-lo. Como quando estamos carentes de alguma coisa fundamental que possa servir de âncora para a nossa existência, ou como quando não compartilhamos objetivos para os quais possamos canalizar as nossas energias mais positivas.”

Aproveitemos e saibamos contar o tempo de nossas vidas adequadamente e estimulando nosso corpo e mente para vivermos.

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