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Velocidade de propagação - informação e contaminação

João Rogério Alves Filho
Economista e sócio-diretor da PPK Consultoria

Publicado em: 20/03/2020 03:00 Atualizado em: 20/03/2020 07:26

Ao longo da segunda década de nosso recém-inaugurado milênio, a humanidade vem exercendo um autodidatismo na forma de lidar com a velocidade de informações, considerando-se aqui desde a revisão das noções de etiqueta no trato interpessoal, até mesmo a aspectos que flertam com a criminalidade, a exemplo da disseminação de notícias falsas ou caluniosas.

Os desafios dessa nova forma de convívio social se mostram com múltiplas e surpreendentes facetas, nem todas elas ainda desveladas, a exemplo do que vivemos mundialmente, ao longo das últimas poucas semanas, diante da já decretada pandemia do coronavírus.  Até os dias atuais nunca havíamos nos deparado com o acompanhamento em tempo real da propagação de uma doença, com direito a atualização minuto a minuto do número de infectados em cada país e região, somando-se, ainda, infográficos com animação e demais efeitos especiais na cobertura “ao vivo” dessa crise.

A semana passada mostrou-nos, ainda, o efeito dominó que a velocidade das informações transmitidas a partir do resultado da reunião entre representantes de dois blocos comerciais pode gerar quando somada aos fusos horários que regem os mercados a partir do Japão, terra do sol nascente.

Apresenta-se, dessa forma, mais um desafio aos cidadãos digitais. Se por um lado a disseminação das formas de prevenção e intercâmbio de experiências entre diversos agentes governamentais, econômicos e de saúde é algo de relevante importância para a minimização dos danos em um evento dessa magnitude, por outro lado, a possibilidade trazida a cada indivíduo de propagar desinformações e pânico é algo que há que ser analisado como um potencializador também muito significativo no agravamento dessa crise de dimensão global.

Simultaneamente, já não é precoce afirmar que cada cidadão enquanto agente propagador de informações e formador de opinião, mediante uma postura sóbria e responsável na checagem de fontes sérias e confiáveis para o repasse de dados e orientações, poderá se mostrar um vetor de arrefecimento dos efeitos danosos por ele trazidos.

Os resultados econômicos decorrentes da pandemia enfrentada estão longe de poderem ser quantificados com algum nível de confiança. Os modelos econométricos, em elaboração com essa finalidade, devem buscar desentranhar o efeito da Covid-19 de um quadro mundial que já se prenunciava recessivo globalmente para o ano de 2020.

Dessa forma, sendo os indicadores de desempenho gravemente negativos das bolsas de valores, referência que vem dominando as manchetes nos últimos dias, é importante atentarmos que os mesmos não refletem, por si, em correlação perfeita, o desempenho de uma empresa ou uma economia. Em verdade, tais índices refletem o preço que os investidores estão dispostos a comprar ou vender ações naquele dia/leilão específico, devendo ser, por certo, significativamente menor a eventual queda da economia global nos próximos meses, que os dois dígitos que se apresentam a cada circuit break das bolsas de valores.

Calma, atenção e responsabilidade. A partir de uma equação composta por essas variáveis, haveremos de atravessar esse momento com significativa redução de danos, aprendendo por fim que as redes sociais e de comunicação podem e devem servir de instrumento de construção de soluções para a humanidade.

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