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Editorial Socorro para os mais vulneráveis

Publicado em: 21/03/2020 03:00 Atualizado em: 21/03/2020 07:13

No Brasil, a concentração de renda exclui grande parte da população do acesso aos bens e serviços proporcionados pelo crescimento econômico. A regra: reproduz-se o modelo da casa grande e senzala. Afastam-se os pobres para a periferia.

Com o Estado praticamente ausente, faltam políticas públicas aptas a reduzir o hiato que separa os dois mundos. Educação, saúde, transporte, segurança são de segunda qualidade. O saneamento é luxo. Água potável chega a poucos. Tratamento de esgoto nunca figurou no dicionário dos moradores.

A conhecida frase de Albert Einstein sintetiza a consequência da escassez de iniciativas para mudar a realidade herdada do Brasil colonial. “É insanidade”, diz o pai da teoria da relatividade, “esperar resultados diferentes fazendo sempre a mesma coisa.” O paradigma escravocrata se multiplica: excluídos geram excluídos, que geram excluídos, que gerarão excluídos.

Salvo em discursos eleitoreiros, recheados de promessas de mudanças, a situação se mantém década após década. Mas o novo coronavírus quebra a normalidade. O Sars-CoV2 não conhece fronteiras nem limites. Pior: tem transmissão muito rápida. Para lhe frear a velocidade, o governo receita medidas simples e eficazes. Entre elas, a higiene das mãos e o distanciamento social.

No começo, o vírus contaminou brasileiros de classes mais privilegiadas que viajaram para o exterior ou mantiveram contato com eles. Com a transmissão comunitária, o quadro se agravará. As autoridades sanitárias dizem que a próxima semana será crucial para evitar a explosão de ocorrências.

O temor é a chegada às comunidades pobres. Na maior parte das moradias, falta água, falta sabão, falta espaço. Como seguir as recomendações preventivas? Impõe-se quebra de protocolos – abrigar os mais vulneráveis em escolas, estádios, igrejas, clubes para possibilitar a observância do isolamento social.

Não só. Carros-pipas precisam fornecer água. Sabão e sabonete têm de chegar com urgência às mãos de quem precisa. Talvez jogados de helicóptero. É hora de solidariedade. Quem pode mais ajuda os que podem menos. Que tal os bancos entrarem na guerra que é de todos? Cada um tem de colaborar para manter a população sã. Só assim se evitará a sobrecarga do sistema de saúde – pesadelo do Brasil e do mundo.

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