O peso de uma intimação
Vladimir Souza Carvalho
Magistrado
Publicado em: 28/03/2020 03:00 Atualizado em: 28/03/2020 08:26
Muitas, as demandas. A advogada, que as patrocinava, montou uma rede de sustentação em diversas cidades do interior, para agregar clientes. Na capital, chegou a colocar propaganda em jornal. Assim, com todo esse aparato, ações choveram, todas de segurados, matéria de Previdência Social, a inicial de uma repetida em todas. Umas, bafejadas por acordos, os depósitos efetuados e levantados. Pretensão segura, acolhida, sentença favorável se reiterando.
Em algumas, contudo, a documentação insuficiente alterou a caminhada. Brotou despacho para sanar omissões, sem atendimento no prazo certo. Abriu-se, na marcha processual, a intimação pessoal do demandante via carta com AR, evitando-se a precatória. Bom, exatamente aí, começou o drama, porque uma delas foi dirigida a um pacato segurado, que, nem ao menos, se lembrava mais de ter firmado procuração. A carta chegou no endereço devido. A esposa a recebeu. Timbre da Justiça Federal. O receio de problema envolvendo o marido. Não havia lugar para equívoco. O envelope consignava o nome e endereço dele. Problema que lhe estragava o dia, urubus sobrevoando sua cabeça como se ali se escondesse alguma carniça.
O medo que a carta provocava, ao lado da curiosidade, a fizeram abrir o envelope. No texto a intimação para o marido sanar a omissão, em quarenta e oito anos, sob pena de extinção do feito. Leu, releu. Não entendeu o porquê do esposo estar recebendo intimação da Justiça Federal. Dúvida atroz. O marido, ao retornar, a encontrou na varanda da casa. Era de sua alçada, como esposa, saber de tudo. Com a carta balançando na mão, perguntou que mal feito fizera para a Justiça Federal - cujo nome já lhe dava medo - lhe intimar? Ele, na defensiva, ouvindo o sermão, coitado, jurava inocência. Nessa noite, não se cumprimentaram na hora de dormir, ele ruminando a origem de tudo, até que a luz surgiu no fundo do túnel. De manhã cedo, rumou para Aracaju. Conversou com o emissário da advogada, que, algum tempo atrás, lhe procurara. Voltou feliz, repassando a mulher a verdade de tudo. Que a ação fosse extinta. Não queria mais saber dela. Receber carta da Justiça Federal, mais nunca. Só não disse que os sermões da esposa lhe aporrinhavam, e, aliás, agora e sempre. Tudo explicado, a paz voltou a reinar na Dinamarca.
Em algumas, contudo, a documentação insuficiente alterou a caminhada. Brotou despacho para sanar omissões, sem atendimento no prazo certo. Abriu-se, na marcha processual, a intimação pessoal do demandante via carta com AR, evitando-se a precatória. Bom, exatamente aí, começou o drama, porque uma delas foi dirigida a um pacato segurado, que, nem ao menos, se lembrava mais de ter firmado procuração. A carta chegou no endereço devido. A esposa a recebeu. Timbre da Justiça Federal. O receio de problema envolvendo o marido. Não havia lugar para equívoco. O envelope consignava o nome e endereço dele. Problema que lhe estragava o dia, urubus sobrevoando sua cabeça como se ali se escondesse alguma carniça.
O medo que a carta provocava, ao lado da curiosidade, a fizeram abrir o envelope. No texto a intimação para o marido sanar a omissão, em quarenta e oito anos, sob pena de extinção do feito. Leu, releu. Não entendeu o porquê do esposo estar recebendo intimação da Justiça Federal. Dúvida atroz. O marido, ao retornar, a encontrou na varanda da casa. Era de sua alçada, como esposa, saber de tudo. Com a carta balançando na mão, perguntou que mal feito fizera para a Justiça Federal - cujo nome já lhe dava medo - lhe intimar? Ele, na defensiva, ouvindo o sermão, coitado, jurava inocência. Nessa noite, não se cumprimentaram na hora de dormir, ele ruminando a origem de tudo, até que a luz surgiu no fundo do túnel. De manhã cedo, rumou para Aracaju. Conversou com o emissário da advogada, que, algum tempo atrás, lhe procurara. Voltou feliz, repassando a mulher a verdade de tudo. Que a ação fosse extinta. Não queria mais saber dela. Receber carta da Justiça Federal, mais nunca. Só não disse que os sermões da esposa lhe aporrinhavam, e, aliás, agora e sempre. Tudo explicado, a paz voltou a reinar na Dinamarca.
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