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O coronavirus e os economistas

Paulo Rubem Santiago
Professor da UFPE, Mestre e Doutorando em Educação

Publicado em: 31/03/2020 07:00 Atualizado em:

Acabo de ler em matéria de jornal do Sul do país agora em março que os economistas nada poderão fazer ante a escalada do coronavírus e seus impactos nas bolsas de valores, nas exportações e nos investimentos estrangeiros em países afetados. Aponto, porém, que poderiam ter feito muito, bem antes.

Na condição atual do vírus disseminam-se a desinformação, o medo, interesses escusos e a generalização, empurrando a economia mundial para mais um período de grave crise, sobretudo porque seus  pilares predominantemente especulativos de 2008-2009 não foram destruídos desde então e é bem possível que a saída da crise econômica decorrente do coronavírus se dê, mais uma vez, às custas dos orçamentos públicos, apropriados a favor de empresas e negócios à beira do precipício agora.

Ao mesmo tempo, difícil imaginar que as autoridades econômicas nos quatros cantos do mundo, em tempos de capitalismo turbinado e especulativo, não tenham, em momento, algum, imaginado que consequências poderiam ocorrer na saúde e no desenvolvimento urbano com os seus programas de austeridade fiscal, privatização dos serviços públicos e redução de investimentos públicos em água e saneamento ambiental. Pensassem de forma distinta, o que não poderia ter sido feito antes então pelos sanitaristas casos seus sistemas de saúde, com financiamento adequado, assegurassem o acesso universal, a atenção básica e a integração das políticas de saneamento ambiental e desenvolvimento urbano para a prevenção de doenças e a promoção do bem-estar da maioria das populações atingidas?

Economistas ortodoxos subestimaram tais consequências, desdenharam dos riscos de uma situação como a atual pandemia encontrar sistemas de saúde mal preparados, sem pessoal habilitado, sem redes de proteção e ação imediata para identificar e isolar os meios de transmissão do vírus. Assim, sem sistemas únicos de saúde estruturados hierarquicamente e financiados adequadamente a tendência é vermos, de fato, a propagação do vírus impor o fechamento de fábricas, o cancelamento de voos, a suspensão de aulas, entre outras atividades. Lamentável é sabermos que, por ano, morrem mais de 2 milhões de pessoas por gripe em todo o mundo e isso ser absorvido como natural pelos sistemas econômicos no planeta. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a Resolução 58.33 da Assembleia Mundial da Saúde de 2005 diz que todos devem ter acesso a serviços de saúde sem necessidade de sacrifícios financeiros, mas o mundo está longe da cobertura universal. Ainda segundo a OMS o primeiro problema para isso “é a disponibilidade de recursos. Nenhum país, independentemente do grau de riqueza, foi capaz de assegurar que toda a gente tenha acesso imediato a todas as tecnologias e intervenções que podem melhorar a sua saúde ou prolongar a sua vida “(OMS,2010).

Assim, além de se mostrar tão grave nos seus efeitos quanto rápido em sua disseminação, o coronavírus revela também a falência de sistemas de saúde mal financiados, mal estruturados, sem hierarquização e capacidade de atendimento e prevenção. Causa disso, a economia da especulação e da esperteza e seus programas de ajuste fiscal contra os mais pobres e os direitos sociais têm que ser enfrentados e desmontados, ao lado da promoção dos sistemas arrojados de financiamento público para uma saúde universal, equânime e de qualidade em todo o mundo.

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