Diario de Pernambuco
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Mudam-se os tempos, mudam-se os costumes

Luzilá Gonçalves Ferreira
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 24/03/2020 03:00 Atualizado em: 24/03/2020 06:13

Acho que o título acima é parte de um poema atribuído a Camões. Ou seria de Sá de Miranda? O fato é que em razão dos últimos acontecimentos, como escrevia Drummond, estamos vendo a necessidade de mudança de hábitos no trato cotidiano, nos costumes, nos gestos, em nosso modo de vida. Nesta semana, por exemplo, deveríamos ter a solenidade de doação do acervo do escritor Maximiano Campos à Biblioteca da Fundação Joaquim Nabuco. Uma importante doação pelo que significa de disposição ao público daquilo que fez parte da formação intelectual e espiritual, de  um pernambucano: o que lia Maximiano, de onde nasceram suas ideias sobre a literatura, sobre Pernambuco, sobre o Brasil, sobre o estar no mundo? Essa doação significa algo que deveria reger o destino das bibliotecas de nossa gente, o de não  deixar que se disperse o que marcou e marca parte de nossa vida e alma pernambucanas.

A doação permanecerá firme, mas a solenidade que a marcaria foi cancelada, por razões que todos sabemos. Como foi cancelada a reunião de preparação a um Seminário de Estudos sobre a criação literária, sobre o prazer da leitura, que aconteceria no mês de abril, na biblioteca da Secretaria de Educação de Pernambuco, na Várzea. A professora Luzimar e o bibliotecário Fernando nos haviam contactado para participar do evento, e tínhamos iniciado nossas leituras, a partir de ideias da pesquisadora Marisa Lajolo, que por várias vezes esteve no Recife, participando de simpósios no Centro  de Artes da UFPE, no Departamento de Letras, sob orientação do professor e poeta Aldo Lima. Pensávamos também em estudar, com os participantes do simpósio, as ideias de Paulo Freire e de Cristovam Buarque, sobre a necessidade de repartir com os alunos, nossa alegria do contato com a literatura, como abertura para nossa visão de mundo, levando-nos a abrir os olhos para a beleza do que  nos cerca, paisagens, coisas, animais, plantas e que tudo isso se refletisse em nosso modo de viver, como seres humanos, como cidadãos responsáveis no seio da comunidade. Que nossas escolas sejam e continuem a ser espaços de convivência, de descobertas, de criatividade, de prazer, como tem mostrado a ação do secretário Fred Amancio e sobretudo nas escolas de referência – que o estado tem multiplicado. E não aquela escola triste, que se opunha à liberdade da vida lá fora, para o menino, conforme escreveu Ascenso Ferreira, que não entendia  a beleza dos versos dos Lusíadas nem a importância de decorar certos acontecimentoa da formação histórica da França, por exemplo.

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