Diario de Pernambuco
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Do calor atual e do urubu

Vladimir Souza Carvalho
Presidente do TRF5

Publicado em: 14/03/2020 03:00 Atualizado em: 15/03/2020 07:35

O calor está brabo, de manhã, de tarde e de noite. Parece que o Diabo sopra seu bafo quente por toda a terra. A gente se segura na esperança da chuva. Calor em excesso, tempo parado, árvores que se recusam a não balançar, céu que vai se engravidando de nuvens escuras, tudo aponta para uma trovoada, na ânsia de se ouvir o som rouco dos trovões, o espetáculo de luz que os relâmpagos provocam. Com a trovoada, a chuva refresca a terra, molhando-a, enchendo os rios e as fontes, fertilizando tudo a fim de se plantar verduras e frutas, e, na abundância de ofertas, os preços caindo, o bolso sentindo menos a pancada semanal das feiras. O que vem do céu é bento.

A chuva se cerca de vontades. Escolhe os lugares onde vai cair. É de suas mamas que desce a água, além do que, por um gesto de falta de atenção, muitas vezes, cai, desenfreadamente, num lugar, e escassamente, em outros, não escolhendo o horário, talvez por não dispor de um relógio. A chuva é quem dita a música, e, nós, aqui, simples mortais, que nem sabemos o nome do deus da chuva, para a ele dirigir orações, ficamos à mercê de sua boa escolha.

Enquanto isso, no momento, o ambiente favorece o calor, que se eleva, assustadoramente, só perdendo para os milhões que as investigações policiais enumeram no âmbito dos que tanto roubaram. Se o homem sente o calor e, simultaneamente, a força dos raios solares, fico imaginando a aflição do urubu, sim, do urubu, que, em minha terra, quando menino, em menores temperaturas, voava com uma asa se equilibrando e a outra transformada em abano.

O calor de hoje, contudo, é mil vezes superior ao daqueles tempos. O urubu, a sobrevoar os locais, em busca de carniça, recebe maior impacto. Daí a descoberta, na minha aldeia, recentemente, em terreno baldio, de três urubus assados, as penas totalmente queimadas. Os entendidos, classe que lá não falta, consideraram que os três urubus voaram um pouco além do normal e foram atingidos pelos raios solares, a queimar, de início, as penas, e, depois, todo o corpo, deixando-os intactos, embora transformados em cinza. A sociedade de proteção aos animais queria protestar contra o calor em manifestação pública, que, infelizmente, não foi possível em face do elevado calor do horário marcado. Não se sabe ainda qual será a nova data.

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