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Carta aos leitores de Colégio de freiras

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 16/03/2020 03:00 Atualizado em: 16/03/2020 07:06

Em geral, recebo com humildade as críticas aos meus livros. Até porque este é um dever dos críticos, senão uma obrigação. Uma única vez respondi a uma crítica aqui em Pernambuco, porque o crítico foi agressivo demais, usou palavras duras e repetiu quando reclamei. Pareceu-me, assim, que estava querendo briga. E se era briga que queria, lá vou eu. Depois percebi que fui muito inocente e parei. Nunca mais voltei ao tema. Agora com o lançamento de Colégio de freiras surgiram duas críticas que me causaram alguma inquietação.

A primeira delas – escrita pela colunista Tati Bernardi, da Folha de S. Paulo –, com o título: “Seriam as feministas seres de outro mundo?”, estranha o fato de que minha personagem Vânia tenha criado uma entidade religiosa chamada “Congregação das Guerreiras de Daniel” para a defesa de meninas que perdem a virgindade antes do casamento, com ares de extraterrestre, justamente porque imagina que os primeiros ETs foram vistos e descritos pelo profeta Daniel. É uma crítica aos conservadores que não acreditam nas feministas.

A Congregação é uma clara ironia às igrejas que proliferam no Brasil por qualquer pastor que se sente no direito de criar uma “teologia” com ares de sindicato e uma gorda conta bancária. É claro que respeito muito as igrejas evangélicas, mas não a vulgarização que se estabeleceu no Brasil. Aliás, já havia feito isso em Maçã Agreste, quando o pastor Jeremias criou a seita Os Soldados da Pátria por Cristo.

Tati faz uma crítica a duas mãos: uma “feminista”, pega pesado e fere muito, a outra, “crítica literária”, que elogia e aplaude, destacando aquilo que chama de “cenas cinematográficas”, ao lado dos personagens dr. Vesúvio e Abdon, o mágico que inventou a água, a luz e a liberdade; o anjo torto de Vânia.

Agora o crítico Sérgio Tavares parece ter voltado ao mesmo tema na revista São Paulo Review, com reparos aos meus truques técnicos. Por isso estou tratando deste assunto aqui e por isso peço licença aos meus leitores que não são obrigados a aguentar os meus achaques, principalmente no que diz respeito à minha obra literária, o que venho fazendo desde a década de 70 do século passado.

Em princípio, o artigo de Sérgio é muito elogioso, faz ótimas referências à novela, mas parece não entender completamente a congregação, por exemplo, o que me inquietou muito. Colégio de freiras é, antes de tudo, uma novela de forte crítica social, e questiona muito firmemente a educação religiosa destinada às mulheres brasileiras.

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