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Acreditando e desconfiando

Adhailton Lacet Porto
Juiz de Direito

Publicado em: 18/03/2020 03:00 Atualizado em: 18/03/2020 09:24

E a vida prossegue e continuamos vivenciando um momento sem acreditarmos plenamente em nossas instituições, sempre desconfiando daquilo que nos é dito. Essa desconfiança me fez lembrar o poeta Thiago de Mello, quando em seu poema Estatutos do Homem, no artigo IV vaticina solene: “Fica decretado que o homem/não precisará nunca mais/ duvidar do homem./Que o homem confiará no homem/ como a palmeira confia no vento,/como o vento confia no ar,/como o ar confia no campo azul do céu”.

Por outro lado, acreditamos em tantas coisas como horóscopo; vida após a morte, céu e inferno. Tem gente que acredita em governos, outros em religiões. Muitos não acreditam em nada, e mesmo assim são felizes.

Tolstoi e Voltaire não acreditavam no talento de Shakespeare. No amor muitos ainda acreditam, mas ao dinheiro se apegam com mais fervor. Numeroso contingente só acredita na beleza exterior e nos ornatos de grife para seu realce. E a poesia, devemos nela acreditar? Para que serve? E o poeta maranhense Ferreira Gullar é quem responde: “serve para quando a morena for embora”.

Acredita-se em quem escreve difícil. Dizem que quando Hegel começou a escrever sua obra, somente ele e Deus sabiam o que ele queria dizer; ao final, só ele. Epicuro acreditava que a morte era uma quimera, “porque enquanto eu existo, ela não existe; e quando ela existe, eu já não existo”. Um bom bocado só acredita na força bruta. Acredita-se também em esquerda e direita. E mesmo diante de toda a negaça, há quem acredite em almoço grátis. Eu, por minha vez, acredito no menino que ainda não deixei de ser, na esperança de que “o homem confiará no homem/como um menino confia em outro menino”, como poetou Thiago de Mello.

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