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Todos os mundos. Um só mundo: as cidades do século 21

Zeca Brandão
Arquiteto e urbanista, PhD pela Architectural Association School of London e professor associado da UFPE

Publicado em: 17/08/2019 03:00 Atualizado em: 17/08/2019 15:13

Em julho do ano que vem o Brasil sediará pela primeira vez o Congresso Mundial de Arquitetos, encontro promovido pela União Internacional de Arquitetos (UIA) que abriga delegações de 120 países e é reconhecida pela ONU como a única organização mundial de arquitetura e urbanismo. O evento ocorrerá na cidade do Rio de Janeiro, contará com a participação de 150 palestrantes, vindos dos cinco continentes, e tem como expectativa atrair um público de 15 mil pessoas, entre arquitetos e estudantes. O UIA2020RIO pretende discutir a cidade do Século XXI e apresenta para o debate um tema bastante sugestivo: “Todos os Mundos. Um só Mundo. Arquitetura 21”.

Contrariando todas as previsões feitas pelos deterministas tecnológicos, a era das telecomunicações não tem reduzido as grandes concentrações urbanas. Pelo contrário, apesar da tecnologia de informação ter tornardo a presença física-espacial irrelevante na realização das atividades contemporâneas, as pessoas continuam sendo atraídas para os centros urbanos. Na verdade, as cidades adquiriram uma importância no cenário global que nunca tiveram antes.

A nova infraestrutura tecnológica converteu o espaço mundial em um espaço relacional único, e o processo generalizado de internacionalização da produção e do consumo fez com que a cidade assumisse um novo papel no avanço global, convertendo-se em um dos atores primordiais do desenvolvimento do território. Assim, as cidades, que historicamente funcionavam como organizações locais a reboque do desempenho regional, passaram a desempenhar um protagonismo no desenvolvimento nacional e internacional.

Entretanto, ao mesmo tempo em que a globalização provoca uma certa padronização sócio-cultural entre cidades distintas, observa-se também uma grande demanda pela diferença e pela singularidade do espaço urbano. O processo de globalização, na sua estratégia por nichos de mercado, tem explorado com frequência essa singularidade e, juntamente com uma espécie de “homogeneização global”, tem surgido um novo interesse pela “especificidade local”. Parece que, no lugar de destruir as identidades regionais, a globalização tem na verdade produzido novas identificações “globais” e “locais”. Nesse sentido, a arquitetura - sobretudo a arquitetura urbana - tem se constituído não só como instrumento de reflexão social, gerando o autoconhecimento que fundamenta a identidade “local”, mas também como promotora cultural divulgando de forma “global” a imagem da cidade a qual ela ajuda a construir.

É nesse contexto que considero sediar o 27º Congresso Mundial de Arquitetos importante. Há 40 anos que ele não se realiza na América Latina, onde apenas três cidades abrigaram o evento no passado: Havana em 1963, Buenos Aires em 1969 e a Cidade do México em 1978. Durante todo esse tempo, o encontro tem sido realizado em cidades de países desenvolvidos, que, naturalmente, enfatizaram as questões urbanas referentes a sua realidade. O UIA2020RIO será uma grande oportunidade de discutirmos com profissionais do mundo inteiro uma agenda nossa, na qual aspectos específicos das cidades em desenvolvimento possam ser relacionados com o universo dos países desenvolovidos. Só assim será possível plugar as nossas cidades “locais” na rede interurbana “global” e, consequentemente, entrar de forma definitiva no século XXI.

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