RECIFES DE CORAL

Sensíveis às mudanças climáticas, corais sofrem redução de 14% no mundo

Por: Aline Melo

Publicado em: 20/10/2021 19:21 | Atualizado em: 20/10/2021 19:50

Recifes de coral em Tamandaré, Sul de Pernambuco. (Foto: Cortesia/Peld Tams)
Recifes de coral em Tamandaré, Sul de Pernambuco. (Foto: Cortesia/Peld Tams)
O relatório "Estado dos Recifes de Coral do Mundo: 2020”, divulgado pela Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN) no início de outubro, indica que houve uma redução de 14% na quantidade de corais no mundo entre 2009 e 2018, devido ao aquecimento da temperatura dos oceanos, causado pelas mudanças climáticas, à pesca predatória e à poluição. No Brasil estão localizados os únicos recifes de coral no Atlântico Sul, espalhados ao longo de 3.000 km da costa nordeste do país. São ecossistemas com alta biodiversidade, porém são bastante sensíveis aos impactos das atividades humanas. 

O estudo possui um capítulo sobre a situação dos corais no Brasil, coordenado por Beatrice Padovani Ferreira, pesquisadora do Reef Check Brasil e do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Durante a análise, os pesquisadores envolvidos destacaram o branqueamento de corais em 2019-2020, causado por uma onda de calor com a maior mortalidade já registrada no Brasil, sendo uma perda estimada de 50% de algumas espécies.
 (Foto: Cortesia/Peld Tams)
Foto: Cortesia/Peld Tams

"Os recifes saudáveis são uma proteção natural da costa para populações costeiras que vivem em áreas periféricas e não têm para onde se deslocar numa possível elevação do nível do mar e também frente à intensificação de tempestades. Além disso, os recifes provêm alimento, garantindo segurança alimentar para a população e também renda para o turismo. Então existe uma grande dependência econômica desses ambientes, principalmente para comunidades que não têm tanta mobilidade", explica Beatrice sobre a importância do monitoramento constante dos corais no Brasil.

O documento da GCRMN é a maior análise da saúde global dos recifes de coral já realizada e se baseia em dados coletados por mais de 300 cientistas a partir de 2 milhões de observações individuais de 12.000 locais de 73 países abrangendo um período de 40 anos. A pesquisa brasileira começou em 2002 como parte de um programa nacional de monitoramento de recifes de coral e foram coletadas cerca de 6.300 observações para chegar aos resultados.  
 (Foto: Cortesia/Peld Tams)
Foto: Cortesia/Peld Tams

Mudanças Climáticas
De acordo com a publicação mais recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em agosto deste ano, a situação não é nem um pouco positiva: estima-se um aumento de 1,5 °C de aquecimento nas próximas duas décadas, mais cedo do que em avaliações anteriores. Para desacelerar esse quadro, as emissões de carbono precisam ser reduzidas pela metade até 2030 e zeradas até 2050. Ao contrário, se forem mantidas altas emissões, o IPCC indica que o mundo pode aquecer até 5,7°C até 2100. 

O cenário apresentado pelo IPCC é alarmante, principalmente quando se trata dos recifes de coral, bastante impactados com o aquecimento dos oceanos, como explica Beatrice: "As mudanças climáticas podem provocar deslocamento de organismos: populações de peixes podem se deslocar, ficando menos abundantes em algumas áreas.  Então é também preocupante para a pesca. Por isso, no geral, a gente precisa trabalhar ao máximo ações locais e também participar dos movimentos para diminuição das mudanças climáticas através das medidas que têm sido preconizadas pelo IPCC e outros órgãos".
 (Foto: Cortesia/Peld Tams)
Foto: Cortesia/Peld Tams

Entre recordes de desmatamento -mais de 102 mil km² desmatados pela mineração na Amazônia -, o Brasil possui um papel fundamental nessa redução de emissão alertada pelo IPCC. Próximo da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, a COP 26, o país deve aumentar a meta para 50% de redução. Em 2020, o Brasil assumiu o compromisso de redução de 43% até 2030 em relação ao nível emitido em 2005, porém, a meta é considerada insuficiente pelo IPCC. A cúpula vai acontecer em Glasgow, na Escócia, de 31 de outubro a 12 de novembro.

Leilão da ANP
No início deste mês de outubro, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) realizou um leilão de exploração marítima de petróleo com 92 ofertas, incluindo áreas próximas a Fernando de Noronha e ao Atol das Rocas. Apesar de não receber nenhuma oferta, a possibilidade preocupa a comunidade científica por colocar a área em risco. 
 
“Já existem muitas evidências de que o óleo prejudica muito os corais, então qualquer derramamento de óleo pode afetá-los. Acidentes com derramamento de óleo são comuns no desenvolvimento das explorações. Tem blocos desses que estão sendo ofertados que estão diretamente em cima de bancos oceânicos que têm formações recifais importante”, explica Beatrice sobre as consequências de um possível derramamento de óleo na área.
 (Foto: Cortesia/Peld Tams)
Foto: Cortesia/Peld Tams
Em nota, a ANP afirmou que os ministérios do Meio Ambiente (MMA) e de Minas e Energia (MME) não identificaram nenhuma restrição para a decisão. O leilão ocorreu dois anos após o derramamento de óleo cru que atingiu todos os nove estados do Nordeste no mesmo período.
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