IMUNIZANTE
Cientistas consideram que podem ter descoberto "vacina universal"
O artigo da pesquisa foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of SciencesPublicado em: 16/04/2024 19:55
Segundo o grupo de cientistas, a nova estratégia eliminará a necessidade de criar vacinas diferentes (foto: Freepik ) |
Um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, revelou uma nova estratégia para a vacina baseada em RNA que é eficaz contra qualquer estirpe de um vírus, sendo segura até mesmo para bebês e para aqueles com baixa imunidade.
O artigo da pesquisa foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, no qual é apresentada e descrita a vacina, como funciona e uma demonstração da sua eficácia em ratos. "O que quero destacar em relação a esta estratégia de vacina é que ela é ampla e aplicável a qualquer número de vírus, eficaz contra qualquer variante de um vírus e segura para um amplo espectro de pessoas. Esta pode ser a vacina universal que procurávamos", disse Rong Hai, virologista da UCR e também um dos autores do artigo.
Todos os anos, os pesquisadores tentam prever as quatro estirpes do vírus da gripe com maiores possibilidades de prevalecer na próxima temporada da doença e a vacina atualizada deve ser tomada anualmente. O mesmo aconteceu com as vacinas contra o SARS-CoV-2, coronavírus que causa a covid-19, que foram sendo reformuladas para atingir subvariantes das estirpes dominantes em circulação.
Ao visar uma parte do genoma viral que é comum a todas as estirpes de um vírus, a nova estratégia eliminará a necessidade de criar vacinas diferentes. Segundo os cientistas, tradicionalmente, as vacinas contêm uma versão viva, morta ou modificada de um vírus. O sistema imunológico do corpo reconhece uma proteína no vírus e organiza uma resposta imunológica, produzindo células T que atacam o vírus e impedem a sua propagação e células B de memória que treinam o sistema imunológico para evitar futuros ataques.
A vacina agora revelada usa uma versão viva modificada de um vírus, mas não depende da referida resposta imunitária, por isso pode ser tomada por bebês com um incipiente sistema imunitário ou por imunodeprimidos, mas sim de pequenas moléculas de RNA que silenciam os genes causadores da doença. "Um hospedeiro que pode ser uma pessoa, um rato, quem quer que esteja infectado, produzirá pequenos RNAs interferentes como resposta imunológica à infecção viral. Esses RNAi então abatem o vírus", explicou Shouwei Ding, professor de microbiologia da UCR e principal autor do artigo.
Os vírus causam doenças porque produzem proteínas que bloqueiam a resposta de RNAi do hospedeiro, a criação de um vírus mutante que não consegue produzir a proteína para suprimir o RNAi, enfraquece o vírus. "Ele pode se replicar até certo ponto, porém depois perde a batalha para a resposta do RNAi do hospedeiro", disse Ding, acrescentando, que um vírus enfraquecido desta forma pode ser usado como vacina para reforçar o nosso sistema imunitário RNAi.
A nova estratégia foi testada em ratos mutantes, sem células T e B, e se descobriu que com uma injeção de vacina os ratos ficavam protegidos de uma dose letal do vírus não modificado durante pelo menos 90 dias (alguns estudos mostram que nove dias em ratos equivalem aproximadamente a um ano humano). Mesmo os ratos recém-nascidos produzem pequenas moléculas de RNAi, pelo que a vacina também os protegeu.
A UC já obteve uma patente nos Estados Unidos para esta tecnologia de vacina RNAi e o próximo passo dos investigadores é criar uma vacina contra a gripe para proteger as crianças. Os cientistas dizem ser baixa a hipótese de um vírus ter uma mutação para evitar esta estratégia de vacinação. "Os vírus podem sofrer mutações em áreas não visadas pelas vacinas tradicionais. No entanto, neste caso, o alvo dos milhares de pequenos RNAs é todo o seu genoma. Eles não podem escapar", afirmou Hai.
Com um processo de "corta e cola" da estratégia, os investigadores acreditam igualmente poder fazer uma vacina única para qualquer tipo de vírus. "Existem diversos patógenos humanos bem conhecidos, como a dengue e o SARS. Todos eles têm funções virais semelhantes, pelo que a nova estratégia deve ser adequada a esses vírus", avançou Ding.
Mais notícias
Mais lidas
ÚLTIMAS