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TEMPERATURA

Cientistas climáticos preveem um aquecimento global de 2,5°C neste século

Quase metade dos entrevistados calcula um aquecimento de pelo menos 3°C e somente 6% ainda consideram que o Acordo de Paris, feito em 2015, será cumprido

Publicado em: 08/05/2024 14:00 | Atualizado em: 08/05/2024 14:48

Temperaturas globais devem aumentar pelo menos 2,5°C ainda neste século, dizem cientistas (Foto: Freepik)
Temperaturas globais devem aumentar pelo menos 2,5°C ainda neste século, dizem cientistas (Foto: Freepik)
Segundo uma investigação realizada pelo jornal britânico The Guardian, a conclusão da maioria dos principais cientistas climáticos do mundo prevê que as temperaturas globais aumentem pelo menos 2,5°C ainda neste século, ultrapassando as metas acordadas internacionalmente. “As consequências desta elevação da temperatura são catastróficas para a humanidade e para o planeta”, alertam os cientistas.
 
O The Guardian entrevistou centenas de cientistas que integram o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a maioria, 80% deles, prevê que, até o final do século, o planeta aqueça no mínimo 2,5°C. 
 
Quase metade dos entrevistados calcula um aquecimento de pelo menos 3°C e somente 6% ainda consideram que o Acordo de Paris, feito em 2015, será cumprido e o aquecimento ficará limitado a 1,5°C, acima dos níveis pré-industriais.
 
No entanto, pela primeira vez, o aquecimento global já ultrapassou 1,5ºC durante um ano inteiro, em 2023, segundo o serviço climático da União Europeia. De acordo com o ex-presidente do organismo das Nações Unidas responsável pelo clima, Bob Watson, isto excede em muito tudo o que é aceitável. "Vejam o que aconteceu com apenas 1,5ºC. Vimos inundações, secas, ondas de calor e incêndios florestais em todo o mundo, e estamos começando a ver menos produtividade agrícola e alguns problemas com a qualidade e quantidade da água", advertiu.
 
A crise climática já provoca danos profundos, num momento em que a temperatura média do planeta chegou a 1,61°C, acima da média registrada no período pré-industrial. “Nos últimos 11 meses, todos os recordes de temperatura mensais foram ultrapassados e o mês de abril de 2024 foi considerado o mais quente desde que há registro”, revelou os dados do Observatório Europeu Copernicus. 
 
Uma boa parte dos especialistas tem um prognostico negativo se medidas urgentes não forem tomadas, com um futuro “semi-distópico”, com fomes, conflitos e migrações em massa, impulsionados por ondas de calor extremo, secas devastadoras, safras destruídas, incêndios florestais, inundações e tempestades com uma intensidade e frequência muito superiores às que acontecem atualmente. “Este é apenas o começo: apertem os cintos”, alertou Jesse Keenan, da Universidade de Tulane, nos EUA.

“Penso que estamos caminhando para uma grande ruptura da sociedade nos próximos cinco anos. As autoridades ficarão sobrecarregadas com evento extremo após evento extremo, a produção de alimentos será interrompida. Eu não poderia sentir maior desespero em relação ao futuro”, acrescentou Gretta Pecl, da Universidade da Tasmânia. 

Para os cientistas, a adoção de medidas urgentes para reduzir as emissões de carbono ainda pode abrandar o aquecimento. Entretanto, a investigação do The Guardian também demonstrou que poucos especialistas ambientais esperam que os Governos mundiais tomem as medidas e ações necessárias para prevenir e conter o aquecimento global. A falta de vontade política foi apontada por quase três quartos dos entrevistados a principal razão pela qual o mundo não está conseguindo enfrentar a crise climática, enquanto 60% dos cientistas ainda culparam interesses empresariais, como, por exemplo, a indústria dos combustíveis fósseis. 
 
Mas, muitos também apontaram a desigualdade e o fracasso dos países desenvolvidos em ajudar os países mais pobres, que sofrem mais com os impactos e alterações climáticos. “Se o mundo, inacreditavelmente rico como é, ficar parado e fizer pouco para resolver a situação dos pobres, todos nós acabaremos por perder”, observou Dipak Dasgupta, do Instituto de Energia e Recursos de Nova Deli, na Índia.
 
Os especialistas alertam que os esforços para proteger a população dos graves desastres climáticos que se avizinham são agora críticos, explicando que cada fração de grau diminuída reduz o sofrimento humano. “Estou extremamente preocupada com os custos em vidas humanas”, admitiu Letícia Cotrim da Cunha, Doutorada em Oceonografia e Coordenadora do Laboratório de Oceanografia Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e uma das autoras líderes dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), criado pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
 
Na última Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28), em dezembro de 2023, o relatório anual apresentado apontava que o limite do aquecimento global estabelecido pelos líderes mundiais no Acordo de Paris poderia ser ultrapassado em apenas sete anos. Os cientistas do Global Carbon Projet alertaram na ocasião para a inevitabilidade que o limiar de 1,5ºC para o aquecimento global fosse ultrapassado de forma consistente e permanente ao longo de vários anos e para a possibilidade de que isso aconteceria dentro de sete anos. Um cenário mais pessimista do que o ano anterior quando se estimava que fosse atingido dentro de nove anos.

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