ESPÉCIE EXÓTICA

Coral nocivo à natureza avança para áreas de proteção ambiental de Pernambuco

Por: Aline Melo

Publicado em: 12/05/2021 20:45 | Atualizado em: 12/05/2021 20:46

 (Foto: Herton Escobar/USP Imagens)
Foto: Herton Escobar/USP Imagens
Mesmo com esforços de contenção em âmbito nacional e estadual, espécies de Coral-sol chegaram ao litoral de Pernambuco em 2020 e estão avançando em direção a áreas de proteção ambiental. Cientistas do Projeto Conservação Recifal (PCR) em parceria com o WWF-Brasil e o Instituto NeoEnergia analisaram as áreas de proteção ambiental onde esses corais podem se instalar, como é o caso Costa dos Corais, Recifes Serrambi e  Canal de Santa Cruz.

Por não ser uma espécie nativa do litoral brasileiro, o avanço de suas colônias causa desequilíbrio ecológico e impactos na economia. “Esse coral mata as espécies nativas da região, diminui a produção pesqueira e pode prejudicar até o turismo”, explica Pedro Henrique Pereira, biólogo e membro do Projeto Conservação Recifal. Os biólogos estão monitorando essa proliferação das espécies de coral-sol (Tubastraea tagusensis e Tubastraea coccínea) desde novembro de 2020. Além disso, a invasão de espécies é considerada a segunda maior causa da perda de biodiversidade.

O coral-sol saiu do oceano pacífico e chegou na costa brasileira, literalmente, de carona: ele se prende em cascos de navios e é transportado para diferentes locais do planeta. Como não encontram predadores nessas novas regiões, acabam se proliferando e ocupando o espaço de espécies de corais nativas.

“O setor petrolífero gera um impacto ambiental muito grande ao carregar os corais-sol, que atinge um ecossistema prioritário para os oceanos, os recifes de corais”, comenta o analista de conservação do WFF-Brasil Vinícius Nora. Por isso, ele acredita que a contenção da espécie deveria ser uma agenda importante para esse setor, além das áreas interessadas na conservação dos recifes de corais.

De acordo com o biólogo Pedro Henrique, é preciso controlar o avanço da espécie removendo dos lugares em que é encontrada.“A medida mais importante para conter essa invasão é a remoção. A gente tem feito ações para remover ele dos locais que já foram observados para que diminua essa propagação”, avalia o especialista. Uma das áreas onde o Coral-sol tem se proliferado sem controle é o Porto de Suape, onde as medidas de contenção ainda não começaram.

A preocupação não é de hoje. A espécie foi registrada pela primeira vez no Brasil nos anos 1980, em plataformas de petróleo na Bacia de Campos, Rio de Janeiro. Desde 2018 existe o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Coral-Sol no Brasil, formulado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Humanos (IBAMA) junto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ambos ligados ao Ministério do Meio Ambiente. “Apesar da existência do plano, pouco foi feito na prática para evitar o avanço do coral”, ressalta o biólogo.

Mesmo com o plano, não há incentivo da União. Com apoio de pesquisadores locais, o governo de Pernambuco precisou impor medidas para barrar a proliferação do coral-sol em suas regiões. Um decreto editado pelo estado em 2021 impede novos naufrágios propositais dentro de Unidades de Conservação na costa, para reduzir as chances de proliferação dos corais exóticos. Com a medida, o governo estadual tenta proteger sua costa das pretensões anunciadas em 2020 pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido/RJ) e pelo presidente do Instituto Brasileiro do Turismo (Embratur), Gilson Machado Neto, que anunciaram mais de cem pontos de naufrágios em toda a costa brasileira como medida para incentivar o turismo na região . A ideia foi rejeitada pela comunidade científica.

“Uma das principais dificuldades que a gente tem enfrentado é a redução dos orçamentos pelo governo federal e isso impacta os estados também. A gestão estadual tem tentado apoiar mas infelizmente sem recursos as ações ficam travadas. Esse corte em pesquisa, em conservação, tem agravado essa situação do Coral-sol”, reforça Pedro.

Coral-sol
As duas espécies invasoras citadas na matéria (Tubastraea tagusensis e Tubastraea coccínea) são conhecidas pelo nome genérico “Coral-sol”. A diferença entre elas está no tamanho, no tipo dos pólipos (corpo do coral) e na cor, que vai do amarelo intenso ao laranja. O coral-sol não tem predadores naturais fora da sua área de origem, o que facilita o avanço no território de espécies nativas com rapidez. Sua taxa de crescimento é acelerada por liberar larvas que dão origem aos pólipos, que se dividem e formam colônias. As larvas se espalham pelas correntes marinhas, dando origem a novas invasões. 
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