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Chuvas

Moradores de Igarassu ainda não sabem quando voltarão para casa

Famílias desalojadas pelas chuvas foram direcionadas a um abrigo improvidado no Serviço de Convivência do Loteamento Agamenon Magalhães, uma das locaizadas mais atingidas pela enchente

Marília Parente

Publicado: 30/06/2025 às 22:38

Arrecadação de roupas/Rafael Vieira

Arrecadação de roupas (Rafael Vieira)

Quinze minutos. Esse foi o tempo que o Rio Igarassu levou para carregar boa parte do patrimônio que a técnica de enfermagem Iasmin Borges construiu durante sua vida. Moradora da Rua Rouxinol, no Loteamento Agamenon Magalhães, ela conseguiu deixar sua casa ilesa ao lado dos três filhos, mas não sabe quando poderá voltar ao local.

A família está alojada em um abrigo improvisado pela Prefeitura de Igarassu no Serviço de Convivência do Loteamento Agamenon. De acordo com a gestão municipal, 65 pessoas desabrigadas foram acolhidas no espaço.

Segundo a Prefeitura de Igarassu, a Defesa Civil não pode estipular uma previsão para reocupação segura dos imóveis afetados até que as chuvas cessem.

“A gente já espera alagamento e cheia em Igarassu, mas dessa vez a água quase cobre o telhado da casa num piscar de olhos. Minha casa é a mais alta da localidade, salvei um sofá e um guarda-roupa. Um dos meus filhos cortou o pé na corrente da bicicleta, mas estamos bem”, conta Iasmin.

A dona de casa Patrícia Souza, moradora do bairro ribeirinho Cortegada há trinta anos, pretende se mudar antes do próximo inverno. “Tenho medo que a chuva continue e volte a ter esse transtorno novamente. Queria sair por causa das crianças, minha filha, que é a autista, e uma neta do meu marido que mora com a gente”, lamenta.

O imóvel da família é próprio e foi construído pelo marido de Patrícia. “Lá, moram 125 famílias. Era uma área verde, de mangue, em que a gente, pela necessidade, foi construindo casas. Não tinha outra opção de moradia. Muita gente quer ficar, mas nós queremos sair”, conta.

Segundo a dona de casa Daline Silva, quem mora nas proximidades do rio é conhecido na região como o “pessoal da cheia”. “Porque qualquer chuvinha dá cheia. Eu acho que a prefeita [Professora Elcione] deveria tirar o pessoal que mora nessa área, porque é um sofrimento muito grande”, comenta.

Poluição
Além do avanço das construções, o rio sofre com assoreamento e com o despejo de resíduos de empresas e moradores. Em suas margens, é possível observar a presença do lixo, que entope canaletas e dificulta a circulação da água. “Na minha rua não passa coleta de lixo. Parte do pessoal queima, mas muita gente deixa lá acumulando, porque não quer subir uma ladeira grande para colocar o lixo onde recolhem”, disse uma moradora do Loteamento, que preferiu não se identificar.

Em entrevista ao Diario de Pernambuco, o secretário de Comunicação e Imprensa de Igarassu, Alex Moriá, disse que a coleta de lixo do Loteamento está regularizada. “A limpeza dos rios, canais e canaletas é feita regularmente. Inclusive, fizemos uma limpeza desses rios que transbordaram recentemente. O problema é que a cidade está praticamente na mesma altura do mar, então junta maré com chuva e temos uma inundação. A limpeza de cada bairro é feita de forma regular, com seus dias de coleta”, afirma.

A prefeitura está recolhendo doações para as famílias desabrigadas, tanto de roupas quanto de alimentos não perecíveis. “Nosso município declarou emergência e criou alguns pontos de arrecadação. Os populares que quiserem ajudar podem levar os materiais para a sede da Guarda Municipal”, orienta o secretário.

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