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CINEMA

Gabriel Mascaro fala ao Viver sobre estreia de 'O Último Azul' no Festival de Berlim

Cineasta pernambucano de 'Boi Neon' e 'Divino Amor' representará o Brasil na competição de um dos mais importantes eventos do cinema mundial

Publicado em: 11/02/2025 06:00

 (Foto: Guilhermo Garza)
Foto: Guilhermo Garza
Um aguardado intercâmbio cultural entre o cinema pernambucano e a Amazônia está prestes a desembarcar em um dos maiores eventos do mundo da sétima arte. Representando o Brasil na mostra competitiva do 75º Festival de Berlim, o longa O Último Azul, de Gabriel Mascaro, é o primeiro filme brasileiro na competição pelo cortejado Urso de Ouro desde Todos os Mortos (2020), de Marco Dutra e Caetano Gotardo. A exibição será no próximo domingo, dia 16, em uma das sessões mais esperadas do evento, que começa na quinta e vai até o dia 23.

O cineasta já esteve em Berlim com o seu longa anterior, a distopia Divino Amor, que passou na Mostra Panorama. Agora, com o novo projeto, escrito em parceria com seu amigo Tibério Azul, respeitado cantor e compositor pernambucano, Mascaro dá continuidade à aproximação distópica sem perder as raízes na realidade. Na trama de O Último Azul, Denise Weinberg interpreta uma senhora de 77 anos, que tenta realizar seu último desejo em um Brasil no qual os idosos são transferidos para uma colônia habitacional para viver o resto de suas vidas, enquanto a ‘juventude produtiva’ pode trabalhar despreocupada.

A ficção especulativa conta ainda com Rodrigo Santoro entre os personagens principais e tem a maior parte de sua história ambientada na Amazônia, buscando uma representação Norte-Nordeste na equipe de produção, que intenta dar mais visibilidade cinematográfica ao pulmão do planeta. 
 
A ideia do roteiro surgiu da vontade de investigar e retratar o ímpeto pela vida na terceira idade, inspirado pela sua avó, que aprendeu a pintar aos 80 anos. O parceiro Tibério teve sua primeira experiência na escrita de um roteiro e usou sua potencialidade literária (além de escrever canções, ele é autor do livro Líquido ou o Homem que Nasceu Amanhã) para agregar à narrativa.
 (Foto: Guilhermo Garza)
Foto: Guilhermo Garza
Em conversa exclusiva com o Viver, Mascaro explica as origens do projeto. “Esse trabalho vem de um anseio grande de fazer um filme sobre etarismo. Eu vi na minha avó uma vitalidade enorme surgindo naquela idade e aquilo me mobilizou”, relembra o diretor. “Fiquei atento para desenvolver uma história em que a protagonista fosse uma mulher idosa, e, a partir daí, o filme tem toda uma alegoria que mistura distopia e fantasia, mostrando um Brasil populista e desenvolvimentista que decide que, para o bem da economia e da produtividade nacional, é importante isolar os idosos, as pessoas ‘improdutivas’”.

Ao discutir as temáticas abordadas no filme, o diretor comenta ainda sobre a relação de O Último Azul com o cinema de gênero, explicando que não é sua intenção abraçar um ideal clássico de ficção científica, mas tentar brincar a partir de algumas especulações. “O filme não é sobre futurismo, mas ele gira em torno da pergunta: ‘E se o Brasil desenvolvimentista tivesse a ideia de fazer isso com o corpo idoso nesse mundo?’. É uma obra muito lírica que, através da ludicidade, tenta fazer a personagem principal atravessar essa jornada em busca desse sonho”, elucida.

Sobre a oportunidade de retornar ao Festival de Berlim após cinco anos, Mascaro pontua a importância histórica que o evento tem para o cinema brasileiro. “É uma alegria enorme. O cinema nacional está em festa e bem representado nestes grandes festivais. Estivemos em Cannes, com Motel Destino, depois em Veneza, com Ainda Estou Aqui, e agora chegou a hora de O Último Azul”, rememora. “É a sedimentação de uma janela privilegiada, além de ser muita responsabilidade. Berlim já consagrou obras muito importantes para a cinematografia brasileira, como A Hora da Estrela, Central do Brasil e Tropa de Elite”, celebra.

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