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Crítica: Filme Medo Profundo é uma trama que se perde nas profundezas do mar

Com a falta de um tema claro e premissa fraca, longa peca na credibilidade da história

Publicado em: 12/03/2018 21:00

As protagonistas precisam lidar com perigos e improvisam para sobreviver. Foto: PlayArte Pictures/Reprodução


Por Daniel Bydlowski*

Medo profundo, dirigido por Johannes Roberts, traz de volta as profundezas do oceano com todos os seus mistérios, perigos e, mais importante, tubarões. Este animal, mais do que explorado no cinema, precisa de muito cuidado se usado em enredos novos, já que qualquer passo errado pode tornar o filme um clichê ou uma cópia de outros já consagrados, como Tubarão, de Steven Spielberg, de 1975.

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E é exatamente como este que o longa começa. Com uma trilha sonora que lembra a música que deu ao compositor John Williams seu segundo Oscar, Medo profundo parece fazer homenagem ao título que lhe foi inspiração. Porém, o filme logo mais quebra a tensão dos primeiros minutos e mostra que seu estilo será diferente: ao invés da protagonista, Lisa (Mandy Moore), ser atacada logo de início por este monstro do mar, ela salta de sua boia depois de uma brincadeira de sua irmã, Kate (Claire Holt).

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A pergunta acaba ficando, então, quando a criatura irá finalmente aparecer, e como o cineasta conseguirá fazer a aparição excitante e original. A princípio, a estratégia de Medo profundo parece uma jogada de gênio. Se todos já estamos cansados de esperar o momento em que o tubarão aparecerá na narrativa, talvez a inversão desta estrutura dê mais certo. E, assim, são os protagonistas que vão até os tubarões, usando estes como uma atração por meio de uma grade de ferro que os protegem enquanto podem tirar fotos da criatura. Tudo estaria bem, se não fosse pelo fato desta "gaiola" ter um repentino problema mecânico e cair 47 metros dentro do oceano, levando as duas garotas junto que agora precisam lutar sozinhas contra os perigos do mar (algo que todos já esperavam desde o momento que elas aceitaram participar da aventura).

Quando as duas caem, também cai a credibilidade da história. Isso, porém, começou antes da aventura. As personagens não são bem desenvolvidas e o maior problema da protagonista é que seu namorado acabou o relacionamento por ela ser entediante. Qual a melhor maneira de mostrar que o namorado está errado do que se jogar contra tubarões? Esta é, por mais inacreditável que seja, a premissa da história.

Porém, não é por isso que o filme afunda. O próprio gênero do horror é muitas vezes baseado em personagens bobos, que fazem erros inacreditáveis e que levam o público ao desespero. Porém, estes personagens, quando escritos com sucesso, reagem aos horripilantes acontecimentos e aos sustos de maneira mais ou menos realista. Lisa e Kate, porém, continuam conversando sobre relacionamentos e ciúme entre irmãs como adolescentes mimadas, mesmo depois de terem caído em um mar cheio de tubarões. Isto não somente faz a tensão da produção se dissipar, mas também deixa as personagens antipáticas. Como é que, então, poderíamos ligar para sua trama?

O mais interessante é que o longa rapidamente se desliga das regras criadas por Tubarão e parece ingressar em um novo estilo, usado por Alfonso Cuarón em Gravidade. Assim, as protagonistas, que não são especialistas em como sobreviver oceanos, se veem sozinhas na vastidão azul, precisando lidar com perigos e improvisar para sobreviver. Assim como no longa de Cuarón, Medo profundo conta com um expert que fala com as personagens por meio de rádios. Até mesmo alucinações fazem parte do enredo. A diferença é que, em Gravidade, não somente as imagens são incríveis (também por conta do seu orçamento muito maior), mas a protagonista é muito bem desenvolvida, já que conhecemos seus medos e traumas. Com a falta de um tema claro, Medo profundo se perde no fundo do mar. 

*Daniel Bydlowski é cineasta brasileiro e artista de realidade virtual com Masters of Fine Arts pela University of Southern California e doutorando na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. É membro do Directors Guild of America. Trabalhou ao lado de grandes nomes da indústria cinematográfica como Mark Jonathan Harris e Marsha Kinder em projetos com temas sociais importantes. Seu filme NanoEden, primeiro longa em realidade virtual em 3D, estreia em breve.

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