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Do terreiro aos olhos do mundo Pela primeira vez, Fenearte expõe peças ligadas ao candomblé e à jurema Yalorixá do Galpão do Vira, Mãe Nete de Oxum expõe indumentarias e ornamentações de cultos afro

Por: Alef Pontes

Publicado em: 12/07/2017 14:00 Atualizado em: 12/07/2017 14:41

Mãe Nete D'Oxum expõe artigos exclusivos produzidos de acordo com pedidos e energia dos visitantes. Foto: Antony T'Jagun/Divulgação
Mãe Nete D'Oxum expõe artigos exclusivos produzidos de acordo com pedidos e energia dos visitantes. Foto: Antony T'Jagun/Divulgação

Entre as dezenas de estandes nos corredores da 18ª Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), no Centro de Convenções, estão as peças da artesã Laurinete de Moraes, a Mãe Nete D’Oxum. É a primeira vez da exposição do trabalho ligado aos cultos religiosos afropernambucanos no evento. São vestidos, turbantes e indumentárias representativos dos orixás que regem os rituais sagrados do candomblé e da jurema.

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Dotados de significados ocultos e saberes ancestrais, as obras chamam a atenção e marcam abertura inédita para parcela da cultura pernambucana. "São todas peças exclusivas, que faço para cada pessoa de acordo com os pedidos. Muitas vezes, confecciono de acordo com a energia que sinto da pessoa. Também tem pessoas que compram para fazer decoração", ela explica. A confecção de uma roupa completa dura em torno de dois dias para ser finalizada. Uma cabeça de orixá pode ser montada no mesmo dia. Ela explica que, no mês de julho, dedicado à Oxum, a maior quantidade de pedidos tem sido feita na cor amarela, em homenagem à Deusa do Amor.

O ofício de Laurinete foi herdado das matriarcas da família. Bisneta, neta e filha de costureira, ela começou na infância a fazer as primeiras peças. "Minha mãe fazia roupas para caboclinhos e eu ficava olhando. Comecei a fazer roupas para as minhas bonecas", relembra. No mercado há 16 anos, Nete D’Oxum faz as roupas acompanhada dos filhos e já exporta o material. "São dez anos de luta tentando conquistar esse espaço para divulgar nossa religiosidade", celebra a yalorixá, que já teve peças expostas no Museu da Abolição e no Núcleo Afro do Pátio de São Pedro.

Para ela, a maior alegria é representar a cultura afropernambucana e a comunidade de terreiro, ultrapassando as barreiras de preconceitos sócio-culturais e religiosos: "É o sentimento de uma criança que quer muito um doce ou um brinquedo e os pais não têm condições de comprar. Quem tem condições não ajuda. Nossa religião foi muito pisoteada, meus avós sofreram muito preconceito. Hoje, estou aqui para mostrar o trabalho do terreiro para o mundo".

Nete D’Oxum não economiza na ornamentação e no brilho das peças. Nas roupas e "cabeças", utiliza pedrarias sintéticas para simbolizar as riquezas e as forças da natureza. Vestida diariamente de "baiana de candomblé", a yalorixá vibra com a receptividade dos visitantes e faz questão de explicar cada peça do trabalho. "Nesses dias, ouvi de dezenas de pessoas a frase ‘isso é um encanto’. É o nosso espaço que passa a ser visto com outros olhos", comenta, orgulhosa. Além dos cultos religiosos do candomblé e jurema, a yalorixá promove, no terreiro Galpão do Vira, no bairro de Dois Unidos, cursos de manufatura de indumentárias, esculturas, maquiagem e confecção de adereços de carnaval.

Choro
"Para quem não saía do terreiro, não podia abrir a própria porta, estar aqui é uma conquista", diz Laurinete, lembrando que chorou de emoção ao receber a notícia de que tinha espaço na feira. "Meu filho olhou pra mim sem acreditar e começou a dizer: ‘Mãe, nós conseguimos!’". O ateliê Axó Odara Ayê, que em português significa "roupa bonita da terra", fica localizado entre os corredores nove e dez do espaço expositivo. "Axó Odara Ayê porque nós estamos justamente saindo de nossa terra e também em homenagem aos orixás da terra", celebra.

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