Cinema Movimento Ocupe Cine Olinda divulga manifesto Texto publicado no Facebook explica as motivações e esclarece as posições dos participantes e colaboradores da ocupação

Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco

Publicado em: 20/10/2016 15:56 Atualizado em: 20/10/2016 18:39

Ocupação começou no dia 30 de setembro. Foto: Ocupe Cine Olinda/ Facebook/ Reprodução
Ocupação começou no dia 30 de setembro. Foto: Ocupe Cine Olinda/ Facebook/ Reprodução
 
O movimento Ocupe Cine Olinda lançou no Facebook, nesta quinta-feira (20), um manifesto que explica as motivações e posições políticas dos participantes das atividades que têm sido realizadas desde o dia 30 de setembro no prédio do cinema, desativado há mais de 30 anos. O texto é assinado por 40 coletivos e entidades envolvidos na ocupação, que reativou o espaço cultural com uma programação de projeções de filmes organizada de forma cooperativa, sem a participação do poder público.

Confira os horários dos filmes em cartaz no Divirta-se


Nas últimas três semanas, já foram exibidos curtas e longas-metragens como Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, Mãe só há uma, de Anna Muylaert, e Martírio, de Vincant Carelli, cedidos pelos diretores em apoio à causa. A programação tem sido elaborada coletivamente e será renovada a cada semana a partir de propostas enviadas por meio de um formulário disponibilizado no local (e também na internet). A principal reivindicação é a reabertura do Cine Olinda, que há três décadas aguarda a conclusão da restauração, a compra de equipamentos e a contratação de funcionários, entre outras pendências.

As atividades têm sido garantidas graças a doações e colaborações. Participantes do movimento têm dormido no cinema para garantir a permanência da ocupação. As sessões de filmes têm alcançado públicos de até 350 espectadores por noite. Nesta quinta-feira, às 19h30, será exibido o documentário Freenet, de Pedro Ekman, seguido de debate com representantes do Fórum Pernambucano de Comunicação. O filme aborda a questão da liberdade na rede e do Marco Civil da Internet.

Leia o texto do manifesto do Ocupe Cine Olinda:

POR UM CINEMA PÚBLICO POPULAR
O Cine Olinda está de portas abertas! No último dia 30 de setembro, depois de mais de 50 anos trancado, pessoas mobilizadas de forma legítima decidiram devolver ao cinema a função pública que ele tem e ocuparam o espaço. Nessas primeiras semanas de atividades, cerca de 50 filmes já foram exibidos dentro da sala, com mais de 2000 pessoas circulando pelo local! Isso comprova que, diante da ineficiência do Estado, o poder da autonomia e da autogestão consegue gerar espaços incríveis: de sonho, de união, arte, cinema e de direitos a todas as pessoas. O Cine Olinda é todo nosso e está ocupado, de portas abertas, para realizarmos esses sonhos.

A ocupação física do espaço é ao mesmo tempo um importante instrumento de pressão popular para que este equipamento cultural público, abandonado por sucessivas gestões, seja devolvido de maneira permanente para a população que deseja e têm direito a mais opções de cultura e lazer na cidade de Olinda. A reabertura e manutenção do cinema é nosso objetivo. Para vê-lo realizado, exercitamos a prática diária de criar o cinema e o mundo que queremos. Entre mutirões de limpeza, organização, melhorias e debates políticos, acreditamos que o Cine Olinda é e tem que se efetivar como espaço público popular. Isso significa que a formulação da programação e a gestão do lugar devem estar abertas à participação, com mecanismos simples e diretos para a intervenção das pessoas. Isso está sendo praticado com reuniões abertas de programação, mecanismos simples de recebimento de propostas e diálogo permanente com todxs que passam pelo cinema. Desejamos que as obras da reforma que leva mais de 30 anos (!!!) sejam concluídas e que haja transparência e eficiência nessa fase final. Mas não permitiremos que o cinema fique fechado enquanto o poder público lida com a burocracia. Nós, junto com vocês, cuidaremos do espaço, mantendo-o aberto à todxs. Acreditamos que essa é a maneira mais eficiente de preservá-lo – com vida, corpos ocupando e filmes na tela!

É essencial lembrar que as ocupações são um explícito rompimento ao modo como são geridos e sucessivamente sucateados os espaços públicos culturais. Em Olinda, podemos citar ainda o Cine Duarte Coelho, além de diversos outros prédios de valor histórico, que encontram-se fechados com obras inacabadas ou mesmo em ruínas. Com a ocupação, mostramos ao poder público que enquanto procuram desculpas e justificativas para manter a tela apagada e o prédio abandonado, a população mobilizada age, organiza-se e articula eventos que buscam fazer desse cinema um lugar acessível para moradoras e moradores da cidade de Olinda e arredores. Sabemos que manter equipamentos culturais ativos contribui para a ocupação das ruas, potencializando encontros e inclusão das diferenças, e assim cria-se um ciclo social que colabora para redução da violência urbana e da opressão. Nossa luta é anticapitalista acima de tudo, e assim entendemos que o embate é pela defesa e manutenção dos espaços públicos, geridos democraticamente de forma participativa, em face à histórica presença dos interesses privados nas instituições governamentais.

O contexto político nacional no qual foi desferido um golpe contra o sistema representativo, abalando o que se chama de ordem democrática no país – e que agora aprofunda o ataque a áreas vitais para a população que precisa do serviço público, com a PEC 241 congelando investimentos em saúde e educação por 20 anos –, serve para alimentar ainda mais a necessidade da mobilização popular. Se estamos vivendo em um estado de exceção no Brasil, há séculos o estado de exceção é a regra para boa parte da nossa população. Por isso, acreditamos que é possível aprender com esses grupos historicamente excluídos e que encontraram formas de insurgência e transformação no compartilhamento, na ação coletiva e na solidariedade comunitária.

O cinema que queremos deve ser aberto à cidade e coerente com a política que queremos. É, portanto, um cinema construído coletivamente, horizontalmente, autônomo e projetando na tela nossos anseios e desejos. Uma ocupação só se constrói com a participação das pessoas. Com nossos corpos, talentos, declarações de apoio. Abrimos as portas do Cine Olinda para ser tomado por gente e devolvido a quem pertence: todxs nós. Te convidamos a chegar junto, ocupar, assistir filmes lado a lado, construir um Cine Olinda para as pessoas!

Olinda, 20 de Outubro de 2016.

Assinam:
Ocupe Cine Olinda
ABD - Associação Brasileira de Documentaristas
Cabelaço PE
Casa Coletivo
CAUS – Coletivo Arquitetura, Urbanismo e Sociedade
Centro de Cultura Luiz Freire
Centro Popular de Direitos Humanos – CPDH
Cine Chinelo NoPE
Cineclube Alumia
Cineclube Amoeda digital
Cinema na Mata – Curta a Palavra
Cinema Volante Luar do Sertão
Colativa
Coletivo Coiote
Controverso Urbano
Direitos Urbanos | Recife
Diretório Acadêmico Fabiana Moraes - Jornalismo UFPE
Distro Dysca
Dhuzati Coletiva
Federação Pernambucana de Cineclubes – FEPEC
FINCAR - Festival Internacional de Cinema de Realizadoras
Marcha das Vadias | Recife
Marcha Mundial das Mulheres
Mostra Agrícola de Cinema Orgânico
Movimento Ocupe Estelita
MOV – Festival Internacional de Cinema Universitário de PE
MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
Mulheres no Audiovisual Pernambuco – MAPE
Nanoproducoes LTDA ME
Plataforma de Comunicação Amaro Branco
Ponto de Cultura Coco de Umbigada
Produto Coletivo
Rádio Aconchego
Recifest – Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero
Rede Coque Vive
RUA – Juventude Anticapitalista
Terral Coletivo de Comunicação Popular
Troça Empatando Tua Vista
Vídeo nas Aldeias



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