Cobertura Coquetel Molotov 2016: shows vigorosos superam falhas estruturais; confira cobertura Céu, BaianaSystem, Karol Conka e Deerhoof foram alguns dos destaques do festival, ambientado na Coudelaria Souza Leão

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Por: Matheus Rangel

Publicado em: 23/10/2016 13:16 Atualizado em: 23/10/2016 14:43

Jaloo, Karol Conka e Céu foram alguns dos destaques do Festival No Ar Coquetel Molotov. Fotos: Beto Figueiroa e Tiago Calazans/Divulgação
Jaloo, Karol Conka e Céu foram alguns dos destaques do Festival No Ar Coquetel Molotov. Fotos: Beto Figueiroa e Tiago Calazans/Divulgação

Em sua 13ª edição, o Festival No Ar Coquetel Molotov teve ingressos esgotados enquanto suas mais de 20 atrações se revezavam sobre os palcos. Entre os artistas pernambucanos, nacionais e estrangeiros escalados para o evento, a paulistana Céu, a curitibana Karol Conká, o paraense Jaloo, os norte-americanos da Deerhoof e os baianos da BaianaSystem estavam entre os mais aguardados. Não decepcionaram: os destaques da noite entregaram shows vigorosos, demonstrando domínio de sua música e sintonia com a plateia local.

Falhas estruturais, contudo, prejudicaram em parte o andamento do festival. Entre o fluxo intenso de veículos na Av. Caxangá, principal via de acesso à Coudelaria Souza Leão, na Várzea - ponto que foge ao controle da organização do evento - e a logística de transporte do público entre a entrada principal da Coudelaria e a subida até os palcos, não se gastava menos de uma hora. Entre as 19h e as 22h, pouco antes das principais atrações da segunda metade do evento, houve quem permanecesse na fila de revista - bastante simplificada - e acesso às vans por cerca de 60 minutos. As queixas eram repassadas entre o público durante o festival.

Estrutura não comportou o público deste ano. Transporte era insuficiente para chegar aos palcos. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
Estrutura não comportou o público deste ano. Transporte era insuficiente para chegar aos palcos. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
À reportagem, um dos condutores dos veículos informou que havia 20 vans à disposição do público - as ladeiras da Coudelaria inviabilizam a subida e pé -, cada uma com capacidade para 15 pessoas. Às 22h, eles estimavam mais de 40 viagens concluídas, entre subida e descida, por motorista. Dada a quantidade estimada de pessoas presentes no Molotov, seriam bem vindos micro-ônibus particulares ou maior número de vans. Os trajetos logo se tornaram cansativos para os condutores dos veículos e demandavam longas filas e espera para os passageiros.

Nos bares, a boa iniciativa do copo retornável foi repetida pela organização do festival. Com o custo de R$ 5 para o público, os copos poderiam ser devolvidos - se não deteriorados - ao fim do evento ou levados como lembrança da festa, impedindo o descarte de material plástico e o acúmulo de entulho em torno dos palcos. O acesso às bebidas, contudo, foi bastante conturbado: havia poucos funcionários nos bares, também poucos para o volume de público, e era necessária cerca de meia hora para o atendimento. As discussões entre público e atendentes - estes esgotados pela longa jornada e pressionados pelas reclamações dos clientes - foram inevitáveis. 

LIÇÃO
As dificuldades, no entanto, não ofuscaram a grandeza das atrações escaladas para o No Ar Coquetel Molotov, um festival reconhecido nacionalmente pela bem sucedida reunião de expoentes da música independente brasileira e internacional. Mas exigiram, sobretudo, paciência. Os ingressos - que no último lote custavam R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia) - abriam as portas, por custo acessível, a mais de 12 horas de excelentes shows. Dos problemas logísticos e estruturais, ficam referências para o amadurecimento do evento nas próximas edições. A magnitude do Coquetel Molotov, original e necessário no panorama dos festivais de música nacionais, sobretudo os independentes, é tão desafiadora quanto afortunada. Deve e merece atrair público tão generoso quanto o deste ano na sua 14ª edição.

Festival No Ar Coquetel Molotov chega à 13ª edição com mais de 20 atrações e mais de 12 horas de shows. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
Festival No Ar Coquetel Molotov chega à 13ª edição com mais de 20 atrações e mais de 12 horas de shows. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação


COMUNICADO
A organização do Coquetel Molotov emitiu nota à imprensa sobre o assunto: "Tivemos um contingente de bares, banheiros e transporte que atendeu bem ao público no ano passado, mas que se mostrou insuficiente para a demanda desta edição. Se por um lado ficamos muito contentes com a vinda de todos e os shows de excelente nível, por outro lado estamos desapontados conosco por não termos conseguido manter a qualidade do espetáculo que é o No Ar em seu lado operacional. Assim como um adolescente de 13 anos, o festival, que é feito por várias pessoas, também erra e peca por sua ousadia ao dar passos maiores que a própria perna às vezes. Estamos conscientes das falhas e de eventuais transtornos que não foram de nossa responsabilidade, mas que impactaram na apreciação do festival. Sabemos que ainda é longe para isso, mas já nos comprometemos a melhorar esta infra estrutura e o atendimento para a edição do ano que vem assim como viemos melhorando em outros apectos ano após ano", diz o comunicado.

DESTAQUES

Público pernambucano é fã de Jaloo: sci-fi brega do paraense foi um dos shows mais festejados da noite. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
Público pernambucano é fã de Jaloo: sci-fi brega do paraense foi um dos shows mais festejados da noite. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
>> Jaloo anima plateia com sci-fi brega paraense


Marcado para as 21h, o show do paraense Jaloo teve início por volta das 22h. Seguiu o atraso de aproximadamente uma hora entre as atrações do palco Sonic, na área aberta da Coudelaria Souza Leão. Foi, entre os shows de destaque do espaço, um dos mais concorridos. Com visual andrógino e figurino neutro - escolhido por ele, assim como a maquiagem, a cargo do próprio artista cerca de uma hora antes dos shows -, Jaloo envolveu o público com seu sci-fi brega de batidas cadenciadas, uma mistura de pop e tecnobrega.

Jaloo lançou mão de hits da carreira, iniciada com a publicação online de covers do pop mainstream no YouTube, pondo em foco o disco de estreia, #1. Os pernambucanos conheciam suas letras, cantavam com ele. Jaloo agradeceu a plateia entregando faixas que lhe eram pedidas em torno do palco, como Insight, requisitada desde o início da performance e executada somente ao final, quando o paraense, em contato com a produção do evento, concluiu que haveria tempo para mais uma. "Não fiz assim que pediram porque acho Insight tão lenta, mas se vocês cantam comigo, então tudo bem", brincou. Breath me, Ah, dor! e Pa parará integraram o repertório dançante.

>> Batalha de vogue anima "pausa" do público no palco Sonic


Foi pouco antes do show da paulistana Céu ter início no palco Velvet, localizado no galpão principal da Coudelaria, que o público em torno do palco Sonic fez uma pequena pausa na atenção aos artistas. Jaloo saíra há pouco de cena, e os food trucks ganharam filas, os gramados foram ocupados. Era uma trégua antes da segunda metade do festival, que rolava desde as 15h - com abertura dos portões às 13h. Foi nesse momento, pouco antes das 23h, que se deu o Duelo de Vogue, Vogue Fever - Recife.

"Quero ver você segurar essa pose para mim!" era a frase mais recorrente, enquanto os competidores exibiam destreza com os passos de vogue, um estilo de dança de rua popularizado nos anos 1980. Gritos e aplausos da plateia escolhiam os vencedores. O público repetia alguns passos, vibrava com as performances, reproduzia as coreografias.

Ponto positivo para a organização do Molotov, que terminou por conceder uma "pausa" animada ao público, necessária para a maratona de atrações escaladas na grade. Boa oportunidade, ainda, para os dançarinos locais e de outros estados mostrarem suas habilidades, valorizando a dança de rua como uma das protagonistas do festival.

>> Céu faz show contido e emociona fãs


A leveza da voz de Céu foi suficiente para levantar o público na segunda parte de shows no palco Velvet. Depois de iniciar a apresentação às 22h50, no horário marcado, a cantora paulistana foi acompanhada com afinco pelo público, que cantou a plenos pulmões as canções dos álbuns Vagarosa, Caravana sereia bloom e Tropix. O ponto alto foi a performance de Perfume do invisível: a artista foi ovacionada depois de cantar os últimos acordes da faixa.

Céu fez show contido, com Perfume do Invisível como momento ápice da apresentação. Foto: Marcela Cintra/DP
Céu fez show contido, com Perfume do Invisível como momento ápice da apresentação. Foto: Marcela Cintra/DP


Com movimentos contidos porém singulares, a dona de sucessos como Cangote e Retrovisor entregou uma apresentação simples, mas suficiente para emocionar os fãs, encerrando sua participação no Molotov com A nave. Dentre os gritos de histeria da plateia, vez ou outra emergiram falas de “Fora Temer”, repetidos por Céu e sua banda.



>> Com protesto feminista, Karol Conka entrega performance energética

Karol Conka subiu ao palco com quase meia hora de atraso. A demora, no entanto, pouco desagradou o público, cujos gritos denunciavam: era a rapper curitibana uma das atrações mais aguardadas do festival. Bastou as caixas de som entoarem os primeiros graves de É o poder para que a plateia ficasse ensandecida. Com uma roupa que remete à Jamaica, Conka subiu ao palco e continuou a apresentação com outros hits como Bate a poeira, Gueto ao luxo e Boa noite, sempre acompanhada do mesmo entusiasmo da plateia.

Karol Conka lotou galpão da Coudelaria Souza Leão e fez um dos shows mais aguardados e ovacionados da grade. Foto: Marcela Cintra/DP
Karol Conka lotou galpão da Coudelaria Souza Leão e fez um dos shows mais aguardados e ovacionados da grade. Foto: Marcela Cintra/DP


Além das usuais canções que integram o repertório de Karol há quase três anos, o show no Recife foi marcado por outros elementos inesperados: o coletivo feminista Vaca Profana começou uma intervenção durante a performance de 100% feminista, canção gravada em parceria com MC Karol que vai entrar nos novos álbuns de ambas as artistas. As integrantes do grupo subiram ao palco, com os rostos cobertos e seios à mostra. A intervenção surgiu de um convite da organização do Coquetel Molotov. Inspirada pelo protesto, Karol adiantou trechos de uma música ainda inédita do seu novo disco, intitulado Ambulante, conforme antecipou em entrevista ao Viver nos bastidores. A faixa fala sobre o machismo no sexo e aborda a prática de sexo oral de homens em mulheres.

Depois de fazer todos pularem incessantemente, Karol Conka tirou ainda mais o fôlego dos espectadores com um cover do clássico Back to black, de Amy Winehouse. A versão foi acompanhada verso a verso pela platéia.  “Sempre que eu venho pra cá meu público tá ali. É um público novo, muito interessado na mensagem que tá sendo passada.  No Recife tem muito isso. Mais do que uma batida, a gente quer saber a mensagem que você tem pra passar. Mesmo sendo música de festa, a galera gosta de uma mensagem que vale a pena”, disse a paranaense.



>> Deerhoof agrada com experimentalismo sonoro e rock vigoroso

A norteamericana Deerhoof entrou em cena uma hora após o previsto - marcada para a 0h20, subiu ao palco Sonic à 1h20 da madugada do domingo (23) -, bem recebida pelo público da área externa, menos apinhada que o galpão onde se apresentavam Céu, Karol Conká, BaianaSystem, no palco Velvet. O som experimental da banda, as letras enxutas e os grooves elétricos do grupo animaram o público pernambucano. "Obrigado", ensaiou a vocalista Satomi Matsuzaki. "We are Deerhoof", prosseguiu, preferindo fazer da música o cartão de visitas da banda. Com razão. Deerhoof entregou sonoridade precisa, vigor no palco, dedicação ao show, sintonia com a plateia. Os integrantes mostravam domínio de seus intrumentos e, com isso, conseguiam arranjos ovacionados pela plateia.

Rock experimental do Deerhoof atraiu o público de volta ao palco Sonic, após destaques como Céu e Karol Conka no palco Velvet. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
Rock experimental do Deerhoof atraiu o público de volta ao palco Sonic, após destaques como Céu e Karol Conka no palco Velvet. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
Deerhoof, que abre os shows do Red Hot Chili Peppers na turnê de outono pela Europa, agregou originalidade ao Coquetel Molotov. O repertório de The magic, álbum lançado neste ano, atendeu às expectativas do público que prestigiava o show, em sua maioria conhecedor do trabalho da banda. That ain't no life to me, Life is suffering e Nurse me estavam entre as faixas escolhidas pelo quarteto para a apresentação no Recife.

>> BaianaSystem faz tremer as estruturas da Coudelaria Souza Leão


Os integrantes do BaianaSystem, responsáveis por encerrar a noite no palco Velvet, tinham o que parecia ser uma difícil missão de manter aceso o fogo do público, em polvorosa após Karol Conka. Já era madrugada do domingo (23). O grupo baiano, todavia, literalmente fez tremer as estruturas da casa de shows com uma apresentação extremamente energética e eletrizante. Era impossível ficar parado. Equipe de produção, jornalistas, fotógrafos, profissionais da organização e, claro, o grande público, dançaram do começo ao fim do show, ao som das batidas de cumbia, samba, afoxé e rock - tudo misturado -, tocados pela banda.

De acordo com o vocalista do Baiana, Russo Passapusso, em entrevista ao Viver, é a capacidade de se reinventar que torna a banda tão especial para os fãs. “A gente sempre entra com pé no chão total, querendo conhecer, olhar as pessoas, sair do script. Fazer um show em que a pessoa entenda os erros, a forma como a gente se entrega, a forma como os caras tocam a guitarra. Tentamos não entrar em fórmulas. Para mim, é a melhor maneira de se fazer um show”, conta ele.



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL