Diario de Pernambuco
Busca
Imagens Livro de fotografias refaz os passos de Lampião em cinco estados do Nordeste Obra faz pesquisa imagética do sertão a partir da trajetória do líder cangaceiro desde o nascimento, em Serra Talhada, até a morte, em Alagoas

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 02/06/2016 11:00 Atualizado em: 01/06/2016 21:11

Vestes de vaqueiro são retratadas como símbolo do sertão nordestino. Foto: Márcio Vasconcelos/divulgação
Vestes de vaqueiro são retratadas como símbolo do sertão nordestino. Foto: Márcio Vasconcelos/divulgação


Sete décadas após a morte de Virgulino Ferreira da Silva, o fotógrafo maranhense Márcio Vasconcelos refez os passos do líder do cangaço, percorrendo mais de 4 mil quilômetros, em cinco estados do Nordeste. A jornada começou na casa onde o personagem  histórico nasceu, em Serra Talhada, Pernambuco, e se encerrou dois meses depois na Grota de Angicos, em Alagoas, local da morte do Robin Hood do sertão. O ensaio fotográfico resultante da expedição é agora publicado no livro Na trilha do cangaço - O sertão que Lampião passou (Vento Leste, 104 páginas, R$ 99,90), junto com texto de apresentação do historiador Frederico Pernambucano de Mello, uma das autoridades do assunto. A curadoria é da fotógrafa Inglesa Maureen Bisiliat. O lançamento será nesta quinta-feira (2), às 19h, na Livraria Cultura do Shopping RioMar (Avenida República do Líbano, 251, Pina). 

“Tinha essa ideia há muito tempo. Como nordestino, tinha a tendência de querer mostrar a caatinga, as paisagens sertanejas. Alimentei o projeto com a história do cangaço, sobretudo com a trajetória de Lampião. Ao fazer essa trilha imaginária, tentei locais e personagens simbólicos. Entrevistei ex-integrantes das volantes que perseguiam os cangaceiros”, comenta Márcio Vasconcelos. Uma das inspirações para o trabalho foram as fotografias e vídeos gravados pelo libanês Benjamin Abrahão, um dos poucos a capturar a imagem do Rei do Cangaço. O livro venceu o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia e foi finalista no Prêmio Fundação Conrado Wessel de Fotografia.

As lentes de Vasconcelos fazem registros os mais diversos, como casinhas construídas com taipas, ruínas, locais de conflitos entre cangaceiros e volantes, animais mortos em consequência da seca, homens em vestes de vaqueiro, fotógrafos lambe-lambe, romeiros. Entre os personagens fotografados, estão o cangaceiro Manuel Dantas Loiola (Candeeeiro), Dona Minó, filha de Zé Saturnino, inimigo número um de Lampião, e Elias Matos Alencar, ex-volante.

Manifestações de fé sertaneja são alvo das lentes do autor. Foto: Márcio Vasconcelos/divulgação
Manifestações de fé sertaneja são alvo das lentes do autor. Foto: Márcio Vasconcelos/divulgação


Para a curadora Maureen Bisiliat, a obra é uma feliz conjuntura entre as imagens do fotógrafo - “silenciosas, sensíveis, estrofes de um poema” - e a saga de Lampião. “O livro cavalga célere, levado pelas esporas do cangaço e pelo vento forte do sertão”, elogia. Conhecido pela fotografia documental de manifestações populares, religiosas e folclóricas, Márcio Vasconcelos aposta em projetos com influência da antropologia. Antes da investigação sobre o cangaço, ele havia lançado Nagon Abioton – Um registro fotográfico e histórico sobre a Casa de Nagô. 

SERVIÇO
Lançamento de Na trilha do cangaço - O sertão que Lampião passou (Vento Leste, 104 páginas, R$ 99,90)
Quando: quinta-feira (2), às 19h
Onde: Livraria Cultura do Shopping RioMar (Avenida República do Líbano, 251, Pina). 
Informações: 3256-7500

+Arte cangaceira
“O cangaceiro, a exemplo do índio, fazia do corpo seu suporte de arte. Uma arte vestida, portada à tiracolo, pendurada, calçada, entrançada, por vezes. Arte de projeção do homem, não custa repetir. Pelo orgulho, pela sobranceria, pela vaidade, pelo desassombro da imagem ostensiva, pela força de formação de uma subcultura à de derivações nada desprezíveis na música, na poesia, na dança, na culinária, no artesanato, na medicina, nos costumes, na moral, na religiosidade, na arte militar intuitiva e mesmo na arte de expressão plástica, a partir da herança pastoril, o cangaço sumaria, aos olhos do brasileiro de hoje, a franja de todas as insurgências, sua saga confundindo-se com a própria ideia de resistência contra poderosos”.
Frederico Pernambucano de Mello, na apresentação do livro 


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL