Alceu Alceu Valença 70 anos, sete capítulos: o roqueiro nostálgico Na terceira reportagem da série dedicada aos 70 anos de Alceu, a nostalgia de sua fase mais psicodélica, nos anos 1970, motiva gravação de DVD e relançamento de sucessos

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 28/06/2016 19:50 Atualizado em: 27/06/2016 23:08

Alceu resgata fase marcante da carreira no DVD Vivo! Revivo!, gravado em outubro de 2015 no Santa Isabel. Foto: Fundarpe/Divulgação
Alceu resgata fase marcante da carreira no DVD Vivo! Revivo!, gravado em outubro de 2015 no Santa Isabel. Foto: Fundarpe/Divulgação

Capítulo três de sete: o nostálgico


O primeiro sucesso de Alceu Valença nas rádios, Vou danado pra catende, com o qual ele venceu o Abertura – Festival da Nova Música da TV Globo em 1975, fora encartado em Molhado de suor (1974), seu primeiro disco solo - à parte do gravado com o amigo Geraldo Azevedo (Quadrafônico, lançado em 1972), a sua primeira compilação oficial. Nos anos 1970, Alceu lançaria, ainda, Vivo! (1976) e Espelho cristalino (1977), cerrando a tríade mais psicodélica de sua produção. Os três discos serão relançados em vinil neste ano pela gravadora Deck. “É uma homenagem ao aniversário, mas principalmente àquela fase”, revela Alceu, que mesclou os repertórios dos três álbuns no DVD Vivo! Revivo!, gravado no Teatro Santa Isabel em outubro do ano passado, com direção de Lula Queiroga.

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“A grande graça do projeto é esse arco, o resgate que Alceu fez da própria história e da história do país, voltando 40 anos no tempo. Na época em que Vivo!, Molhado de suor e Espelho cristalino foram lançados, em plena ditadura militar, ele cantou aquelas letras no Teatro de Santa Isabel, ao retornar da Europa. Voltar a esse cenário, agora, foi muito simbólico”, conta Lula, que diz já ter assistido às gravações dezenas de vezes, dado o perfil perfeccionista de Alceu. O material, captado em duas noites de gravação (nas quais o músico repetiu duas vezes o mesmo show), está em fase de finalização e deve ser lançado em setembro, com 16 faixas. “Nas duas noites, a primeira para convidados e a segunda para o público em geral, com ingressos esgotados, Alceu executou duas vezes o mesmo repertório. Isso nos deu a chance de deslocar câmeras, registrar outros ângulos”, diz o diretor, com quem Alceu havia trabalhado em Tem juízo, mas não usa (2009), disco de Lula em que o amigo faz participação.

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No palco, durante as gravações, Alceu recitou Castro Alves, homenageou a mãe, Dona Adelma, e rechaçou a ditadura militar. "Esse show reflete a década de 1970. Na verdade, a década de 1960 em diante, uma época horrível em muitos sentidos. Havia sempre o risco de você ser preso, torturado, às vezes sem ter nada a ver com a história. É por isso que eu digo sempre que, apesar do quão ruim pode ser a democracia, apesar de todos os roubos e corrupção, a ditadura é sempre pior", discursou, entre músicas como Pontos cardeais, Agalopado, Anjo de fogo, Papagaio do futuro, Sol e chuva e Dia branco. Alceu vê a retrospectiva como oportunidade de lançar luz sobre época sombria da história nacional, analisando a produção artística daquele tempo com a consciência - política, sobretudo - dos dias atuais. A Deck relança, ainda, em vinil, o álbum Saudades de Pernambuco (1979), considerado icônico por marcar o momento em que Alceu se distancia do rock genuíno e abraça definitivamente as raízes nordestinas, influenciado pelo forró, baião, coco, frevo e maracatu.

Molhado de suor
(1974)

O primeiro álbum solo de Alceu Valença reúne Pedras de sal, Cabelos longos e Borboleta, entre outras composições. Foi encartado pela Som Livre e vendeu mais de 100 mil cópias. Geraldo Azevedo assume viola e assina arranjos em algumas faixas. O álbum foi bem recebido pela crítica.

Vivo!
(1976)

Vivo! gravado no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro. Para divulgar o show, Alceu percorreu as ruas da capital carioca acompanhado por Zé da Flauta, distribuindo panfletos. Sucessos como Papagaio do futuro, Sol e chuva e Você pensa estão no repertório.

Espelho cristalino
(1977)

Além da faixa homônima, Agalopado, Veneno e Anjo de fogo estão nesse álbum, que mistura guitarra, baixo e bateria do rock a instrumentos da música tradicional nordestina como pífano, zabumba, agogô, viola e sanfona. Anuncia a “regionalização” da obra de Alceu.

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