Diario de Pernambuco
Busca
Música Johnny Hooker: como o pernambucano rebelde se transformou em astro do pop nacional Artista pernambucano grava DVD nesta quinta (21), no Baile Perfumado, com sucessos como Volta, Amor marginal e Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 21/04/2016 16:12 Atualizado em:

Johnny grava DVD no Baile Perfumado e credita nome de todos os presentes. Foto: Erica Colaço/Divulgação
Johnny grava DVD no Baile Perfumado e credita nome de todos os presentes. Foto: Erica Colaço/Divulgação

A combinação entre glam rock e tropicalismo, entranhada nas performances sensuais, nos versos anarquistas e no ousado figurino negro, somada ao título de Melhor Cantor no 26° Prêmio da Música Brasileira, acendeu os holofotes sobre Johnny Hooker. Avivadas as luzes, o palco já estava feito: John Donovan, nascido leonino em agosto de 1987, na capital pernambucana, se preparava para o ministério de astro do pop desde a pré-adolescência.

Pelo menos três EPs amadores, a participação em um punhado de filmes pernambucanos e extensa pesquisa no campo da música separam John Donovan e Johnny Hooker. “Muita gente não sabe, mas são 12 anos entre as idas e vindas da vida”, diz o artista, agora conclamado, em referência à estrada do anonimato à fama -  por sobre a qual deposita os adjetivos dura e bonita, ambos precedidos por advérbio de intensidade. Sobe nesta quinta (21) ao palco do Baile Perfumado, Zona Leste do Recife, para gravação do DVD Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!, dando início às despedidas da turnê que lhe rendeu estrelato.

Johnny Hooker vai colocar nos créditos do DVD o nome de todos que forem à gravação


No passado rebelde, John ofertava insubordinação às figuras de autoridade que tentassem tolher as inclinações artísticas. Filho da cineasta Liz Donovan e do fotógrafo Gil Vicente - carregados, os dois, dos ideais libertários de uma geração sedenta por liberdade, dedicada à redemocratização política e à quebra de paradigmas culturais -, John se rebelava com convicção. “Sempre gostei de provocar.” Apurava os ouvidos quando a mãe desatava a cantarolar David Bowie pela casa. Embalado por hits do pop internacional, como Under pressure, Heroes e Rebel rebel, John tomou o camaleão britânico por referência. Somente mais tarde chegaria ao cerne daquela inspiração: “No final das contas, minha maior referência acabou sendo ela”, conclui, se referindo à mãe. “Como ela via Bowie, como ela via a arte. Eu digo que Johnny é uma mulher em fúria dentro de um homem com os olhos marejados de lágrimas. Ela é essa mulher.”

Hooker, em 2004, no Festival Microfonia. Foto: Alexandre Gondim/Arquivo DP
Hooker, em 2004, no Festival Microfonia. Foto: Alexandre Gondim/Arquivo DP
Munido dos conceitos de desconstrução de gênero e empoderamento feminino repassados por Liz, John circulava com desenvoltura nos bastidores dos filmes encabeçados pela mãe. Cinéfilo, pesquisava também sobre música, arte, livre expressão. Lançou, aos 17 anos, o primeiro EP: The blink of the whore’s pussy. Depois, vieram Ultra violence discotheque (2007) e Fire! (2008), seguidos do disco Roquestar, em 2011, já como Johnny & The Hookers. A gênese do nome artístico, propagado pela primeira vez nessa fase, remete aos anos 1970, quando Robert Redford deu vida ao personagem Johnny Hooker, em Golpe de Mestre - vencedor do Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor (George Roy Hill).

Da comédia de assalto estadunidense, Johnny Hooker pinçou, por efeito do codinome, o aval de reinventar-se. Alter ego de si mesmo, deu vazão à carga dramática que sempre atribuiu à própria natureza. Participou de festivais, penetrou a cena como Johnny Hooker & Candeias Rock City. Cruzando o Recife em  coletivos lotados, anotava versos, caderninho em mãos. “Me lembro do exato momento em que estava escrevendo a canção Só pra ser teu homem. Foi em 2011, dentro de um ônibus, naquele calor característico do Recife”, descreve. O glamour ficou para os palcos.

Nesta quinta (21), como na mitologia do ouroboros mordendo a cauda, volta à cidade de origem para dar início à despedida da turnê Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!. Encerra um ciclo, a fim de gestar outro: “A próxima fase será mais solar, romântica e tropical”, revela. Antes dela, porém, se contorce no palco do Baile Perfumado, onde recebe Otto, Karina Buhr, Isaar e Fafá de Belém para sua performance visceral. Nos créditos do DVD, o músico estampará os nomes dos fãs presentes na gravação desta noite. Alma sebosa, Volta e Amor marginal embalam o ocaso da turnê, enquanto John Donovan aplaude Johnny Hooker, quem ele queria ser ao crescer.

SERVIÇO

Gravação do DVD Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!
Quando: Hoje, às 21h (abertura dos portões)
Onde: Baile Perfumado (R. Carlos Gomes, 390 - Prado)
Quanto: R$ 100 (inteira), R$ 50 (meia estudante), R$ 50 (meia social + 1 Kg de alimento não-perecível), à venda na loja Avesso e no Eventick
Informações: 3033 4747



ENTREVISTA: Johnny Hooker, músico

Podemos apontar nomes como David Bowie, no cenário internacional, e Ney Matogrosso, no cenário brasileiro, como referências? Há outros nomes que você gostaria de destacar?

Bowie é pra mim uma referência de vida, herdada da minha mãe. Ela sempre amou o trabalho dele, lembro de pequeno vê-la cantar emocionada as músicas dele pelos cantos da casa. Ela mesma sempre desconstruiu muito dessas imposições de gênero, tanto na forma com vestia, quanto na profissão que exerce. Acho que no final das contas minha maior referência acabou sendo ela. Como ela via Bowie, como ela via a arte, digo que Johnny é "uma mulher em fúria dentro de um homem com os olhos marejados de lágrimas", ela é essa mulher em fúria, poderosa, com uma visão forte e sincera sobre o mundo.

Ao fim da turnê, como avalia os resultados do álbum, dos shows? Em que o Johnny Hooker de hoje é diferente do Johnny Hooker que lançou Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!?
Foi um abalo no meu coração esse sucesso todo. Acho que essa turnê na minha avaliação foi um sucesso absoluto, estou muito feliz. Não acho que o Johnny de hoje seja muito diferente, continua dramático do mesmo jeito, sendo que mais realizado e a cada dia mais cheio de dúvidas e de arte e de amor pelo mundo.

Johnny diz que sempre foi um rebelde convicto. Foto: Erica Colaço/Divulgação
Johnny diz que sempre foi um rebelde convicto. Foto: Erica Colaço/Divulgação
O que diria ao garoto que você era antes de encontrar o caminho da música?

Não me arrependo de nada. Fiz o meu caminho como quis, sempre fui atrás das oportunidades e bati na porta delas com muita vontade de fazer acontecer. Tive o privilégio de poder amadurecer minhas idéias artísticas, de estudar e isso é fundamental. Espero muito um dia poder retribuir isso e poder dar essa oportunidade para jovens artistas daqui do Recife e do Brasil.

Há uma frase que diz que o melhor sempre está por vir. E agora, o que virá? Quais os planos para dar continuidade à carreira? Novo disco? Poderia detalhar essa fase pós-turnê?
A despedida da turnê começa por Recife mas ainda temos o Brasil inteiro para nos despedir. Daqui pra frente vão ser muitos shows e a luta continua todo dia. Acho que a próxima fase vai ser mais solar, romântica e tropical. Pra dançar juntinho e pra sofrer juntinho também. É um novo momento, onde as tragédias pessoais são processadas com mais maturidade.

E quanto ao incentivo à sensualidade - elemento marcante em suas performances -, à liberdade sexual dos fãs, dos ouvintes… essa é uma bandeira sua? Ou um efeito espontâneo do seu trabalho?

Acho que é um efeito espontâneo. Dentro da minha música e dos meus shows as pessoas graças aos deuses se sentem a vontade de se expressar.

Como era Johnny Hooker antes da fama?
Sempre fui um rebelde, sempre tive um problema severo com figuras de autoridade, sempre me rebelei com muita convicção. Sempre gostei de provocar, e sempre fui muito intenso e continuo sendo cada vez mais. Acho que vou virar um velhinho bem revoltado. Um velhinho comunista (risos)

E em relação ao cenário político atual, às possibilidades que se desenham, gostaria de se posicionar? Isso o motiva a seguir cantando, se impondo? Esse seria um momento em que os artistas e suas vozes se fazem mais necessários?
Acho que domingo o Brasil se viu no espelho e ficou muito chocado com sua representação política acho que daqui pra frente teremos que escolher qual caminho teremos que tomar. Se é o da empatia, da liberdade ou do obscurantismo. Acho que o público grande que minha música e a de outros artistas novos tem tomado começa a responder de alguma forma essa pergunta.



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL