Rain24° / 26° C
Cobertura Maroon 5 no Nordeste: mais pop que rock, lágrimas, gritos e declaração ao Brasil Depois de quatro séries de apresentações no Brasil, banda norte-americana liderada por Adam Levine leva multidão a shows em Salvador e Fortaleza, antes de encerrar turnê no Brasil no eixo RJ-SP

Por: Ed Wanderley - Diario de Pernambuco

Publicado em: 16/03/2016 11:00 Atualizado em: 16/03/2016 12:42

Vocalista Adam Levine causou frisson no público feminino (Salvador). Foto: Magali Moraes/Divulgação
Vocalista Adam Levine causou frisson no público feminino (Salvador). Foto: Magali Moraes/Divulgação

É mais difícil de respirar, cada vez que a banda Maroon 5 volta ao Brasil. Desde suas primeiras apresentações no país, em 2008, para públicos de cerca de 15 mil pessoas, sua audiência foi multiplicada - e rejuvenesceu. Para públicos de 30 mil presentes, Salvador (BA) e Fortaleza (CE) receberam nos últimos domingo (13) e terça (15) um grupo fortemente influenciado pelo pop eletrônico, recheado em agudos elevadíssimos - tanto por parte do frontman Adam Levine quanto de um mar de garotas adolescentes a cultuá-lo a plenos pulmões.

Esse amor pela música, e pelo vocalista, tem um nome: The Voice. Desde que estreou no horário nobre da TV Americana como um dos jurados do programa que revela novos nomes da música, Levine passou a surfar numa onda de popularidade que influenciou fortemente o repertório de sua banda. Querendo aproveitar exposição e o fiel, porém volátil, público jovem, a banda apostou no pop-chiclete de Moves Like Jagger, que motivou o relançamento de seu terceiro álbum Hands all over, até então, sem muita expressão de vendas. Foi o bastante para que a sequência de hits pop, pré-enlatados para adolescentes, guiasse os dois álbuns seguintes do grupo que, desde 2011, reside na parte de cima de todos os rankings.

À luz do dia, desde as 7h, em ambas as cidades, já havia fãs na fila, esperando para guardar lugar próximo ao palco. O frisson se traduziu nos primeiros acordes de Animals, segundo single do álbum V, que abriu o concerto e impressiona pela força com a qual o público entoou cada estrofe. No palco, a Maroon 5 - agora com sete integrantes, em vez do tradicional quinteto - abusava das luzes verdes em uma mega-estrutura composta por um palco com mais de 30 metros acima do chão expondo dois gigantes telões verticais. É a selva artificial que o grupo propôs e levou dezenas de pernambucanos às duas capitais nordestinas que sediaram o evento. "Sou fã há uns 4 anos. Vim para Salvador, que era a passagem mais barata e trouxe os amigos. Ver aquele homem (Adam) vale qualquer investimento. Não conheço o trabalho mais antigo, mas não pode faltar This Love", disse a advogada Karinne Lucena, 26, marcando na privilegiada (e enorme) área de frontstage, bem estruturado e com área elevada reservada a pessoas com deficiência - o único porém ficou por conta da pista, bem distante do palco e com obstáculos que iam da mesa de som a até algumas árvores em Fortaleza.
 




















Mais uma noite na hiperbólica turnê mundial V, que passou por todos os continentes. É como se pode descrever a primeira passagem dos garotos da Califórnia pelo Nordeste. Em nenhum momento o vocalista mencionou o nome das cidades e pouco se dirigiu ao público, optando por destilar mecanicamente hit após hit numa setlist de apenas 16 músicas diluídas em 1h30 de espetáculo. Sem qualquer variação entre um show e outro, inclusive com as mesmas pausas programadas para uma conversa mínima, o espetáculo se faz uma sequência protocolar. Das poucas interações, no entanto, em Salvador, Adam disparou: "Com todo o respeito aos outros lugares, mas o Brasil é f*da. Aqui, temos os melhores fãs do mundo". Com cerca de 200 mil ingressos vendidos em questões de horas e um histórico de públicos recordes para a carreira da banda no país, a reverência é compreensível.

Mapas, orelhão, celulares (dentro de bolsos)... Os objetos inanimados tomaram o lugar da Jane, a musa inatingível que embalou os primeiros sucessos que lançou o grupo ao estrelato. Agora, tudo virou ponto de partida para músicas da nova fase da banda, que resulta num show dançante, servido bem ao gosto do público adolescente. Talvez por isso, certas escolhas pareçam anacrônicas, como longos solos de guitarra que, por alguns segundos, oferecem uma lembrança aos fãs mais antigos do rock melódico que originalmente definia a Maroon 5. Enquanto isso, a banda se volta mesmo ao "radio friendly", o que fica evidente na montagem de uma setlist que exclui carros-chefe de álbum como a vencedora do Grammy de 2008, Makes Me Wonder, que cedeu espaço para músicas mais "batidão de festa" que sequer se tornaram singles, como Lucky Strike.

Açúcar nos ouvidos e doce aos olhos das que insistentemente gritam "Tira a camisa, Adam" (pedido só atendido em Fortaleza), o vocalista esbanja energia o tempo inteiro, indo de lado a outro do palco, pulando alto e conduzindo os gritos da plateia, convocada para cantar junto com ele. Tanta dinâmica, acaba deixando passar batida as falhas na voz do cantor, que não repetiu ao vivo as superlativas notas agudas que viraram marca registrada de seus últimos lançamentos.

Segredo não é - e, na verdade, é quase lugar-comum no show business: para ampliar as bases, bandas como a Maroon 5 se distanciam do que seriam suas raízes para experimentar sons novos, mais ao gosto das multidões, tornando-se mais relevantes ao público que à crítica. De toda forma, os artistas ficam suscetíveis a duras críticas, vide Adele e seu "mais do mesmo", ainda que o tal "mesmo" seja sempre bom. Talvez por isso, ouvir um dos "deslizes bons" que inspiram traços do que a banda originalmente trouxe ao cenário musical como "Lost Stars", trilha de "Mesmo se nada der certo" indicada ao Oscar, na reta final do show, exatamente antes de She Will Be Loved, Moves Like Jagger e a derradeira Sugar, sugira que há um leque ilimitado de boas possibilidades para que boas músicas, com moderado sucesso, façam parte de uma banda com espaço garantido no olho do furacão fonográfico.

Setlist incluiu sucessos de todas as fases da banda (Salvador). Fotos: Magali Moraes/Divulgação
Setlist incluiu sucessos de todas as fases da banda (Salvador). Fotos: Magali Moraes/Divulgação


Amar alguém e não "dar certo" é como reinventar-se na indústria da música. No caso da banda californiana, abandonou-se Jane para abraçar uma miscelânea de um nome por noite, como um movimentado pós-término de um relacionamento com o mundo inteiro. Tudo isso em nome de um show divertido, que cumpre a difícil missão de agradar crianças de 9 anos, acompanhadas dos pais, na mesma medida que vários trintões que acompanharam os primeiros passos do então quinteto em 2002. Naquela época, como que falando de sua própria musicalidade, a Maroon 5 entoava a letra "Não são apenas arco-íris e borboletas, mas o compromisso que nos move". Atualmente, a verdade é que a banda despeja mesmo arco-íris e borboletas, mas, ainda assim, ela será amada...


Mais notícias

Acompanhe o Diario de Pernambuco no WhatsApp
Acompanhe as notícias da Xinhua