Estreias Tangerine e A Garota Dinamarquesa levam personagens transgêneros aos cinemas Os dois filmes estão em cartaz ao mesmo tempo no Recife

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/02/2016 07:27 Atualizado em: 11/02/2016 14:09

Mya Tailor, Kitana Kiki Rodriguez, Alicia Vikander e Eddie Redmayne personificam a sororidade (Zeta Filmes e Universal / Divulgação)
Mya Tailor, Kitana Kiki Rodriguez, Alicia Vikander e Eddie Redmayne personificam a sororidade
 
Dois filmes que estão em cartaz ao mesmo tempo a partir desta semana são protagonizados por personagens do universo transgênero, que tem conquistado cada vez mais espaço na cultura de massa. Com abordagens completamente diferentes entre si, A garota dinamarquesa e Tangerine contam histórias de pessoas que quebram convenções sociais tradicionais de identidade.

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A garota dinamarquesa é ambientado na Europa da década de 1920, principalmente em Copenhague e Paris. Na época, a transexualidade ainda era um enigma. A artista interpretada pelo ator Eddie Redmayne, que concorre ao Oscar neste ano (e venceu no ano passado com A teoria de tudo), sofre bastante por causa da orientação sexual e chega a procurar médicos e psiquiatras.

Dirigido por Tom Hooper (Os miseráveis, O discurso do rei), o filme divulga uma mensagem positiva sobre o direto de assumir a identidade transexual, apesar de alguns detalhes que podem levar a associações negativas. Uma deficiência de saúde, por exemplo, é apresentada no mesmo momento de um beijo entre a garota dinamarquesa e um homossexual, sem a necessidade da coincidência entre os fatos.

A garota dinamarquesa é baseado na vida real do artista Einar Mogens Wegener, um pintor de paisagens, que aos poucos se transformou na modelo Lili Elbe. Durante o processo de mudança, ela sempre recebeu apoio da esposa, que era uma pintora de retratos, interpretada por Alicia Vikander, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Assim como em Tangerine, a sororidade (expressão usada para definir a fraternidade entre mulheres) e o valor da lealdade entre amigas é um dos temas principais.

Tangerine retrata as personagens com naturalidade no cotidiano da Los Angeles contemporânea, onde elas vivem como querem. São prostitutas e enfrentam algum preconceito em uma ou duas cenas, mas isso não chega a virar o assunto principal da trama. A maioria das pessoas as respeita.

Kitana Kiki Rodriguez e Mya Tailor, que interpretam as protagonistas do filme, não foram indicadas ao Oscar, mas as duas estavam oficialmente inscritas para concorrer respectivamente nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante. Foi o primeiro caso de candidatura transgênero na história do prêmio. Mereciam indicações. Outro personagem importante é um taxista armênio (vivido Karren Karagulian) que parece estar apaixonado por uma delas, apesar de ser casado com uma mulher que respeita os segredos íntimos do marido.

A garota dinamarquesa é um filme triste e bonito, que também concorre ao Oscar nas categorias de Direção de Arte e Figurino). Tangerine é um filme celebratório, alto astral (com a tristeza apenas em detalhes), divertido e também bonito, com atores principais negros e impressionante direção de fotografia feita com um iPhone. Vistos em conjunto, eles mostram que o mundo ainda tem muito o que melhorar (como mostram recentes ondas de intolerância e conservadorismo), mas já evoluiu bastante.

A GAROTA DINAMARQUESA
Indicado a 4 Oscars
Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino

Televisão
A atriz norte-americana Laverne Cox tornou-se, em 2014, a primeira artista transgênero a ser indicada ao Emmy Awards (considerado o Oscar da televisão norte-americana) por sua atuação na série Orange is the new black. No seriado, ela interpreta a personagem Sophia Burset, presidiária condenada por fraudar cartões de crédito para custear uma operação de troca de sexo. Na cadeia, ela administra um salão de beleza.

Laverne Cox foi indicada ao Grammy (Netflix/ Divulgação)
Laverne Cox foi indicada ao Grammy

Pernambuco
O filme pernambucano Boi neon, que está em cartaz no São Luiz e no Cinema do Museu, também tem uma atriz trans no elenco. É a uruguaia Abigail Pereira, bastante famosa no seu país, principalmente na televisão. Ela participa da sequência do leilão de cavalos e contracena com os atores Juliano Cazarré e Carlos Pessoa. Abigail, que foi ao Festival de Veneza representar o longa-metragem junto com o cineasta recifense Gabriel Mascaro, também é cantora e bailarina e atualmente vive em Miami (os Estados Unidos concederam a ela documentos de mulher).

Abigail foi com Boi Neon ao Festival de Veneza (La Biennale di Venezia)
Abigail foi com Boi Neon ao Festival de Veneza


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