Literatura Nascido há 170 anos, Eça de Queiroz está mais que presente entre pernambucanos Presidente da Sociedade Eça de Queiroz do Recife, Silvio Neves Baptista, faz palestra sobre como a infância do autor influenciou os romances publicados posteriormente

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 24/11/2015 11:00 Atualizado em: 24/11/2015 12:30

Os Maias, Primo Basílio e O Crime do Padre Amaro estão entre as obras mais conhecidas de Eça. Fotos: Divulgação
Os Maias, Primo Basílio e O Crime do Padre Amaro estão entre as obras mais conhecidas de Eça. Fotos: Divulgação
“O sotaque brasileiro é o português com açúcar”, poetizava Eça de Queiroz (1845-1900) sobre o jeito tupiniquim de falar. Embora seja um dos mais destacados escritores da literatura portuguesa, foi filho de brasileiro e, até os 5 anos de idade, foi criado por ex-escravos pernambucanos, uma costureira e um alfaiate. Os seios da ama-de-leite foram o primeiro contato de Eça com um estado nordestino onde a obra escrita por ele seria lembrada com afinco mais de um século depois da morte. Nesta quarta-feira (25), quando são lembrados os 170 anos do nascimento, o presidente da Sociedade Eça de Queiroz do Recife, Silvio Neves Baptista, faz palestra sobre como a infância do autor influenciou os romances publicados posteriormente. Será no Gabinete Português de Leitura (GLP), às 15h, com acesso gratuito.

“Atribuo a ligação inicial de Eça com Pernambuco a esse fato de ter sido criado por um casal, mas é difícil explicar como essa conexão permanece até hoje. Gosto dele pelo estilo, pela obra, pelos personagens. É uma atração surgida na juventude, e sentimento é algo que a gente não racionaliza”, comenta Sílvio. O evento é boa oportunidade para conferir a obra completa de Eça, disponível no Gabinete, além de parte do manuscrito do livro A cidade e as terras, considerado uma das maiores preciosidades da instituição.

O escritor português chegou a ser mais lido no Brasil do que em Portugal e exerceu influência sobre a literatura. Temas polêmicos, como incesto, recheavam os romances cujas histórias faziam troça da sociedade lusitana da época. O crime do Padre Amaro, por exemplo, chegou a ser censurado pela igreja, ao ser colocado em índice de obras não recomendadas pelos católicos. “Obviamente, até hoje, você pega romances assim e lê com prazer”, diz a diretora de cultura do GLP, Maria de Lourdes Hortas, portuguesa radicada no Recife desde os 10 anos de idade.

Ter revolucionado o idioma português foi uma das heranças deixadas pelo autor de Os Maias, haja vista a renovação da linguagem utilizada na ficção, até aquela época bem diferente da falada nas ocasiões coloquiais. Contemporâneo de Machado de Assis, Eça importou do francês um estilo novo e verteu a novidade para romances escritos em português “com sotaque brasileiro”. Crítico da política e dos costumes da terra natal, já carregava nas costas a reputação de articulista da revista As farpas, publicação com repercussão em Pernambuco, sobretudo Goiana, na Mata Norte, onde os moradores espancaram, em 1872, imigrantes de origem portuguesa.

Na praça

No sábado, às 15h, o GPL e a Sociedade Eça de Queiroz promovem evento que leva o nome do escritor, no bairro da Madalena. Haverá troca-troca de livros, apresentações de Sambê, brincadeiras, dominó, contação de histórias e exposição fotográfica de João Castelo Branco. Lançam livros os escritores Wilson Freire, Miró, Cida Pedrosa, Pedro Izidio, Carlos Sierra e Marina Negromonte.

Escritor português chegou a ser mais lido no Brasil do que em Portugal e exerceu influência sobre a literatura. Foto: Reprodução da Internet
Escritor português chegou a ser mais lido no Brasil do que em Portugal e exerceu influência sobre a literatura. Foto: Reprodução da Internet


Pedaços de Eça

A castidade em O crime do Padre Amaro
Romance entre o pároco Amaro e a jovem Amélia, que surge num ambiente em que o próprio papel da religião é alvo de discussões e a moralidade de cada um é posta à prova.

O incesto em Os Maias
A obra se ocupa da história de uma família ao longo de três gerações, centrando-se depois na última com a história de amor incestuoso entre os irmãos Carlos da Maia
e Maria Eduarda.

A traição em O primo Basílio
Jorge, bem-sucedido engenheiro, e Luísa, moça romântica e sonhadora, protagonizam o típico casal burguês da classe média da sociedade lisboeta do século 19. Quando ele viaja, ela fica entediada e o primo conquistador e bon vivant chega do interior. Logo se engatam em um tórrido romance.

Serviço

Palestra sobre vida e obra de Eça de Queiroz, com Silvio Neves Baptista
Quando: Quarta-feira (25), às 15h
Onde: Gabinete Português de Leitura
Quanto: acesso gratuito.
Informações: 3224-2002



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