Cinema GRAMADO 2015: Fragmentação familiar tem sido um tema predominante no festival Todos os longas-metragens brasileiros exibidos giram em torno de famílias em momentos de crise, por diferentes fatores

Por: Júlio Cavani - Diario de Pernambuco

Publicado em: 14/08/2015 11:20 Atualizado em:

Marcos Palmeira entregou troféu especial ao pai, Zelito Viana. Foto: Edison Vara/Agência PressPhoto/Divulgação
Marcos Palmeira entregou troféu especial ao pai, Zelito Viana. Foto: Edison Vara/Agência PressPhoto/Divulgação
 
Famílias que vivem algum tipo de crise, por fatores internos ou externos, são o núcleo central de personagens de todos os longas-metragens brasileiros exibidos desde a última sexta no Festival de Gramado, que termina neste sábado com cerimônia de premiação marcada para as 21h. Na noite de quinta, foi projetado o longa gaúcho Ponto zero, de José Pedro Goulart, que transmite a angústia existencial de um adolescente cujos pais estão em crise conjugal.

No festival, a temática da fragmentação familiar foi retratada ainda nos filmes Que horas ela volta?, O fim e os meios, Introdução à música do sangue, O último cine drive-in, Ausência e O outro lado do Paraíso. O assunto voltará nesta sexta, última noite da mostra competitiva, com a projeção de Um homem só, com Vladimir Brichta no papel de um personagem "preso a um casamento falido", segundo a sinopse oficial.

Ponto zero é claramente dividido em duas parte (o título do filme surge na tela no meio entre elas). Na primeira, é mostrada a rotina enfadonha de um garoto que acompanha as brigas entre o pais enquanto vive as ansiedades sexuais da vida pré-adulta. Na segunda, o menino perde-se em um labirinto psicológico sob uma intensa chuva noturna nas ruas de Porto Alegre. O longa-metragem começa como um drama familiar mais intimista e depois transforma-se em uma viagem expressionista bastante sombria (com efeitos especiais criativos) que tem parentesco com obras de artistas gaúchos, como os quadros do pintor Iberê Camargo e a novela urbana Noite, do escritor Érico Veríssimo.

Também na quinta, o cineasta Zelito Viana recebeu o Troféu Eduardo Abelin em homenagem ao conjunto da obra. Ele dirigiu Minha namorada e Villa-Lobos: Uma vida de paixão, entre outros filmes, além de ter trabalhado na produção de clássicos como Terra em transe, de Glauber Rocha, A grande cidade, de Cacá Diegues, e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho. "É uma honra ter pertencido a esta geração do Cinema Novo. Eu tive a chance de estar no lugar certo e na hora certa", afirmou ao dedicar o prêmio a Leon Hirszman, Glauber e Joaquim Pedro de Andrade. Também criticou o excesso de burocracias e prestações de conta atualmente necessários para a realização de um filme com recursos públicos. Zelito também dirigiu Sons da esperança, documentário sobre a Orquestra Criança Cidadã, filmado em Pernambuco.


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