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Cinema Já vimos Cinquenta tons de cinza: confira o que achamos Convidamos três leitores a analisar conosco a adaptação do enredo de E.L.James para o cinema

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/02/2015 18:00 Atualizado em: 11/02/2015 19:17

 
Sem "beijo de língua", 50 Tons de cinza ganha clima morno na adaptação ao cinema. Foto: Divulgação
Sem "beijo de língua", 50 Tons de cinza ganha clima morno na adaptação ao cinema. Foto: Divulgação

Não fosse o "quarto de jogos" do protagonista (com diversos apetrechos e brinquedinhos sexuais) e o conhecimento prévio - fornecido pelo livro homônimo - sobre seu sadismo, o Sr. Grey do longa Cinquenta tons de cinza passaria somente por um jovem abastado com vida sexual um pouco mais apimentada do que a comum. Não há muito o que esperar das cenas de sexo que "esquentaram" cabeceiras mundo afora  em sua versão para as telonas: você não verá nada que não já tenha feito ou pensado em fazer, ainda que secretamente. O sadomasoquismo intenso - violento mesmo, em algumas passagens - descrito nos mínimos detalhes por E.L. James, dá lugar a cenas de sexo mornas. É ensaiado um nu frontal do ator Jamie Dornan, mas somente ensaiado. Já a nudez feminina, como de costume, é o destaque das tomadas. Curvas, seios e contorcionismos da atriz Dakota Johnson não são poupados.

As mordidas nos lábios denotam a tensão sexual, atenuada no longa. Foto: Divulgação
As mordidas nos lábios denotam a tensão sexual, atenuada no longa. Foto: Divulgação


Rebeca esperava mais cenas de nudez. Foto: Larissa Lins/DP/DA Press
Rebeca esperava mais cenas de nudez. Foto: Larissa Lins/DP/DA Press


“Christian não se destaca nas telas. No livro, as punições aplicadas pelo dominador são muito mais cruéis. Enquanto a Anastasia do filme demonstra algum humor e curiosidade nas cenas de masoquismo, inclusive prazer, a versão literária da protagonista sofre e sente bastante dor. Nas telonas, ela parece “gostar” dos jogos. No primeiro castigo [no livro], ela passa um tempo sem sequer conseguir sentar. No filme, tudo isso é muito mais suave. ”, diz a estudante e blogueira Rebeca de Arruda (20), comparando as duas versões do enredo. Rebeca esperava mais cenas de nudez, mais “agressividade” e mais tempo dedicado aos jogos sexuais do Sr. Grey. Porém, se diz surpreendida positivamente pela atuação da protagonista.


 
 
 
Dakota, inclusive, rouba os holofotes do pouco expressivo Dornan na pele de Christian Grey. A formanda em literatura inglesa Anatasia Steele, que detém o ponto de vista da trilogia, ganha desenvoltura nas telas. A Anastacia de Sam Taylor-Johnson já apresentada tão sagaz, irônica e charmosa quanto a versão de E.L. James chega a ser ao fim da trilogia. Apesar da condição de "submissa" nos atos sadomasoquistas arquitetados por Grey, fica clara a dominação emocional que ela exerce sobre ele. Enquanto um testa os limites fisícos da outra, esta se empenha em forçar as barreiras emocionais erguidas pelo primeiro. O jogo de intimidade entre eles ganha mais peso do que o fator erótico - sensivelmente menos explorado em relação à obra original.

Marco elogiou a trilha sonora e o jogo psicológico dos personagens. Foto: Larissa Lins/DP/DA Press
Marco elogiou a trilha sonora e o jogo psicológico dos personagens. Foto: Larissa Lins/DP/DA Press
 
 
“Os trailers denotavam mais tensão. Exploraram as cenas mais quentes do filme, que terminou sendo morno. A eletricidade sexual que existe entre eles é muito mais intensa nos livros”, conta o também estudante e blogueiro Marco Vieira (23). Para ele, os destaques ficaram por conta da trilha sonora e atuação da protagonista, que classifica como mais expressiva do que o “mocinho”. Marco espera que a evolução psicológica do casal, individualmente e no relacionamento, seja mais explorada nos títulos que darão continuação ao longa.



 
 
 
 
 
 
A omissão de algumas cenas mais picantes - como o polêmico trecho em que Christian retira absorvente interno da protagonista e a leva para transar no banheiro - atenuou e muito o clima pornô criado por James. Como Dakota Johnson havia dado a entender ao anunciar que proibira familiares de assistirem ao longa, não é o tipo de filme para curtir ao lado dos pais ou avós. Mas não chega, em nenhum momento, a ser constrangedor. A tensão sexual se resume, na maior parte do tempo, a ser demonstrada por mordidas nos lábios. Quem espera beijos mais quentes também vai se decepcionar. O medo e a dor provocados pelas "punições" do Sr. Grey perdem destaque, enquanto seu poder aquisitivo se transforma em mais uma ferramenta de intimidação.

Juliana espera que os próximos títulos tenham mais cenas de ação. Foto: Larissa Lins/DP/DA Press
Juliana espera que os próximos títulos tenham mais cenas de ação. Foto: Larissa Lins/DP/DA Press
 
“Apesar dos cortes das cenas picantes mais esperadas, o filme não se mostrou entediante. A narrativa escrita por E.L.James às vezes se repete e cansa o leitor. No filme isso não acontece. Os próximos títulos devem ter mais ação, seguindo o enredo dos livros, que se tornam mais dinâmicos no segundo e terceiro volumes”, explica Juliana Mattos (23), administradora e colecionadora de livros. Ela acredita que o passado do personagem Christian Grey devesse ter mais peso nos acontecimentos do longa, como tem na versão literária. As cicatrizes no corpo do jovem não recebem, segundo ela, o destaque merecido, assim como sua obsessão por fome e comida. "No livro, Anastasia não pode deixar nada no prato durante as refeições", compara.
 
 
 
 
 
Além da atuação enriquecedora de Dakota, jogos de iluminação são usados para dar vida a algumas cenas cujos diálogos ou propósitos não fossem essencialmente interessantes - como a assinatura do contrato de submissão da protagonista ou o momento melancólico em que ela se refugia no quarto após discutir com o Sr. Grey. O figurino respeita o perfil dos personagens originais - inclusive a substituição das calças compridas pelos vestidos, no caso de Anastasia. Pontos-chave do universo literário são pouco ou nunca explorados - como a aversão de Christian a tirar a camisa ou sua obsessão para que todos estejam bem alimentados. A trilha sonora, em compensação, abrilhanta algumas tomadas com excelente timing. Crazy in love, de Beyoncé, dá nova atmosfera à primeira experiência da mocinha no misterioso "quarto de jogos". A atmosfera tem fim abrupto, mas obedece à cronologia do livro e deixa em aberto a evolução do relacionamento entre os personagens. As poucas e mornas cenas de sexo - que correspondem a apenas 20% do tempo do longa - não vão impedir, entretanto, uma bilheteria massiva das mesmas fãs que renderam ao best seller uma tiragem superior aos 100 milhões de exemplares.

As performances com "brinquedinhos" sexuais são menos exploradas e as cenas, mornas. Foto: Divulgação
As performances com "brinquedinhos" sexuais são menos exploradas e as cenas, mornas. Foto: Divulgação





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