Sérgio Gabrielli

No Recife, ex-coordenador da campanha de Haddad diz que papel do petista é reconhecido internacionalmente

Ex-presidenciável foi convidado a participar de uma frente internacional para combater o avanço do autoritarismo no mundo

Publicado em: 22/11/2018 06:00 | Atualizado em: 21/11/2018 22:15

Sérgio Gabrielli, na campanha de Haddad, no canto, ao lado direito da foto. Crédito: Ricardo Stuckert/Foto de arquivo

José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras e ex-coordenador da campanha de Fernando Haddad (PT), candidato derrotado à Presidência da República, esteve ontem no Recife para se reunir com integrantes do PT, discutir a conjuntura política nacional e os próximos passos do partido no cenário pós-eleição e vitória de Jair Bolsonaro (PSL). Em entrevista ao Diario de Pernambuco, ele afirmou que o papel de Haddad, como liderança democrata, já começou a ser reconhecido internacionalmente, a partir do momento em que ele foi convidado a participar de uma frente internacional para combater o avanço do autoritarismo no mundo. O convite ao ex-presidenciável foi feito pelo ex-ministro das Finanças da Grécia Yanis Varoufakis e o movimento progressista, que também conta com a participação do senador norte-americano Bernie Sanders, será lançado em Nova York, no dia 1º de dezembro.

Gabrielli, contudo, evitou melindrar os aliados e não disse, claramente, se Haddad deve liderar a oposição no Brasil. “Quem vai liderar a oposição ou não, isso é o processo que vai se decidir”. O ex-presidente da Petrobras, por outro lado, falou sobre a preocupação que o partido tem com a indicação do juiz Sérgio Moro para o ministério da Justiça, porque o PT entende que seu papel, como magistrado, foi parcial. “O ministério da Justiça tem que cuidar da implementação da Justiça e não a perseguição aos adversários políticos”.

Indagado se já havia uma orientação para a militância e os movimentos sociais, que têm se reunido em pequenos núcleos, mas continuam em guerra nas redes sociais, sem saber como agir, ele disse ser natural, nesse momento, “não ter uma clareza completa de uma tática política”. Veja, abaixo, a entrevista exclusiva, que durou 12 minutos.

Qual o objetivo dessa visita ao Recife, quais os próximos passos do PT e as orientações para o partido?
A discussão é a seguinte: precisamos fazer um diagnóstico da realidade atual para orientar a tomada de posições frente a essa nova conjuntura.Temos um processo eleitoral que deu resultado de vitória a Bolsonaro. Essa vitória de Bolsonaro traz uma série de implicações para a sociedade brasileira, uma série de novas questões e o PT e os movimentos sociais, os governadores do Nordeste e aqueles que se opuserem ao Bolsonaro vão ter que ter um posicionamento de como enfrentar o novo governo que promete adotar políticas muito severas contra o povo.

O senhor já tem uma ideia de como enfrentar essa realidade?
Evidentemente têm várias frentes. Os governadores estão tentando fazer uma pauta e discutir com eles, eles têm obrigações institucionais de defender a solução dos problemas institucionais dos seus governos, a transferência dos recursos do governo federal para os estaduais, e a situação dos problemas sociais e dos investimentos nas suas regiões. Uma outra discussão está acontecendo com os parlamentares. Vamos ter uma posição muito mais de contestação às posições que o governo vai fazer de destruição das políticas sociais. No parlamento, você vai ter uma arrumação e uma organização que vão envolver vários tipos de frentes que vão atuar coordenadamente ou não no Congresso.

Preocupa o fato de o PT ficar isolado de um lado e os partidos de centro-esquerda, como o PDT, PCdoB e o PSB estarem em outro bloco?

Não, os partidos de esquerda estão juntos. Blocos parlamentares são questões de sobrevivência parlamentar. No movimento social, a esquerda está muito mais unificada, é outro campo de luta. A intensificação das lutas. Você tem uma nova redefinição partidária no país. O grande derrotado no país não foi o PT, foram os partidos de centro, foi o PSDB, o MDB. O PT foi o partido que menos perdeu senador, sai com quatro governadores eleitos e não sai derrotado do ponto de vista parlamentar.

Vocês não acham que precisam do PSDB para construir uma frente democrática contra Bolsonaro?

Se o PSDB for adversário de Bolsonaro, evidentemente que vai participar de uma frente contra Bolsonaro. A dúvida é se vai ou não apoiar Bolsonaro. O Doria está defendendo apoio a Bolsonaro. Temos que observar o que vai acontecer.

Qual o papel que Haddad vai ter?
Haddad sai da eleição como a maior personalidade democrática do país. Como uma legitimação de uma votação significativa. Do primeiro para o segundo turno, ele aumentou 6 milhões de votos, o dobro do que Bolsonaro aumentou no segundo turno. Ele conseguiu conquistar um conjunto de votos que foram além do PT. Hoje, ele tem uma votação que vai além do PT, portanto, ele tem um papel importante na representação de um movimento democrático no país. Quem vai liderar a oposição ou não, isso é o processo que vai se decidir. Inclusive Haddad vai participar de uma articulação internacional dos democratas, nos Estados Unidos, no dia 1º de dezembro, contra os avanços das ideias conservadoras no mundo. É um reconhecimento.

Conversei com Teresa Leitão sobre o papel da militância, que ainda está perdida sobre como se comportar nesse momento. Já há uma definição, uma orientação?
Não pode ser definido a priori. Hoje é 21 de novembro. A eleição foi no dia 28 de outubro. Portanto, estamos a menos de mês da eleição. Primeiro, não ter uma clareza completa de uma tática política é normal neste momento. Segundo, não podemos definir, a priori, qual vai ser a atitude que será colocada. Pelo que Bolsonaro tem defendido, ele vai tentar fazer uma série de ações contra interesses populares consolidados. Vai tentar reduzir políticas sociais, tentar privatizar tudo que for possível, entregando riquezas nacionais a grandes grupos internacionais, avançar numa pauta antidemocrática, na redução de direitos e não temos a menor dúvida que seremos oposição a isso. Os governadores vão ter um tipo de oposição, os parlamentares terão outro e os movimentos sociais terão outro e o PT terá outro tipo de oposição.

No caso de Haddad, o senhor acha que ele deve continuar à frente da bandeira de Lula Livre? No segundo turno, ele deu uma amenizada nessa questão e a candidatura dele ultrapassou o PT.
A questão de Lula livre é questão de Justiça. Não é uma questão de tática política. Lula foi condenado num processo ilegítimo, num processo injusto, que não tem provas, não tem crime tipificado. Lutar por lula livre é uma questão de Justiça. Todos os democratas que acreditam na Justiça têm que continuar com a defesa do Lula Livre. Não é uma questão de tática política.

Mas muita gente antipetista apoiou Haddad no segundo turno
Muitos democratas apoiaram Haddad, mas a democracia exige Justiça. E a Justiça exija que os princípios elementares, a presunção da inocência, o direito a julgamento justo. O princípio elementar da Justiça é: quem acusa tem que provar. São princípios elementares que uma sociedade democrática não pode abrir mão. E Lula está sendo vítima nisso.

E com Sérgio Moro como ministro na Justiça. Vocês alegam que não há provas, vocês alegam que ele sempre foi seletivo. Preocupa que ele seja o futuro ministro da Justiça e atue de forma seletiva?
Esperamos que Moro, como ministro de Justiça, cumpra a lei. Apesar de como ele, como juiz, foi além do que a lei fez. Como ministro, ele precisa cumprir a lei. Nós temos preocupação que ele atue de forma seletiva, mas não é possível que ele utilize o Ministério da Justiça para fazer uma perseguição política a um partido. O Ministério da Justiça tem que cuidar da implementação da Justiça e não a perseguição aos adversários políticos.

Existe alguma orientação especial para Pernambuco, se o PT deve ou não entrar no governo Paulo Câmara?
Essa decisão ficará com os militantes do partido, os deputados federais e estaduais eleitos, o presidente Bruno Ribeiro... Essa conversa ainda não houve, o governador Paulo Câmara estava viajando
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