EM PORTO DE GALINHAS

Facção usou dinheiro de tráfico para tentar eleger conselheiro tutelar e desviou remédios para consultas médicas ''clandestinas''

Polícia Civil descobriu esquema em Porto de Galinhas, em Ipojuca, e cumpriu quatro mandados de busca e apreensão

Publicado em: 03/05/2024 15:49 | Atualizado em: 03/05/2024 16:02

A polícia apreendeu medicamentos que foram desviados da Policlínica de Porto de Galinhas  (Foto: Divulgação/PCPE )
A polícia apreendeu medicamentos que foram desviados da Policlínica de Porto de Galinhas (Foto: Divulgação/PCPE )

Uma investigação da Polícia Civil revelou que o dinheiro movimentado pelo tráfico de drogas em Porto de Galinhas, em Ipojuca, no Grande Recife, foi usado para tentar eleger um candidato a conselheiro tutelar no município. 
 
Esse candidato é um advogado que  atuava como coordenador de uma policlínica de Porto de Galinhas.
 
Ele não conseguiu se eleger no pleito para o Conselho Tutelar, no ano passado. 
 
Ele e outros dois funcionários foram alvo de uma operação, que resultou no cumprimento de quatro mandados de busca e apreensão. 
 
Além disso, a polícia descobriu que medicamentos foram desviados da mesma unidade de saúde para tratamentos de traficantes  que buscavam atendimento clínico de forma "clandestina" após serem baleados em confrontos com a polícia. 
 
Parte desses medicamentos desviados era repassada para laboratórios clandestinos do tráfico na região para a produção de novos entorpecentes que seriam comercializados por traficantes na região. 
 
Todas essas informações foram repassadas pela polícia, em coletiva, nesta sexta-feira (3), na sede da corporação, no bairro da Boa Vista, na área Central do Recife. 
 
Detalhes

A polícia detalhou sobre a ação policial que culminou no cumprimento de quatro mandados de busca e apreensão na policlínica de Porto de Galinhas.
 
Imagens mostram que foram apreendidos medicamentos desvios e uma máscara provavelmente usada na prática de crimes. 
 
Quatro  funcionários são investigados por integrar um esquema criminoso em que traficantes eram atendidos de maneira informal por uma equipe médica da unidade para realizar tratamento clínico de suspeitos baleados em confronto com a polícia.
 
Além do coordenador da unidade de saúde, um porteiro e um secretário do local também são investigados por participar do esquema criminoso. 

Também é alvo da investigação uma enfermeira que atuava na policlínica e já havia sido presa em dezembro do ano passado.
 
Ela é suspeita de integrar o esquema criminoso e de envolvimento no assassinato de um homem de 30 anos, que era desafeto da profissional. Ele foi morto por traficantes a mando dela. 

Segundo o delegado Ney Luiz, responsável pelas investigações, o coordenador da policlínica de Porto de Galinhas recebia valores em dinheiro para atender traficantes de maneira informal, sem que o registro de atendimento fossem protocolados na unidade de saúde. 
 
O  investigador disse que, por muitas vezes, esses atendimentos eram feitos nas residências dos suspeitos. 
 
Além disso, foram desviados da unidade de saúde medicamentos e produtos de higiene pessoal. 
 
Segundo Ney Luiz, esse coordenador, que não teve o nome e idade divulgados, foi candidato para a eleição de conselheiro tutelar de Ipojuca, no ano passado, em que recebia valores da facção para comprar votos de eleitores.
 
“O investigado foi candidato a conselheiro tutelar no ano passado. A investigação revelou que ele saiu comprando votos para que as pessoas votassem nele. Ele também produzia eventos na comunidade local com dinheiro oriundo do tráfico de drogas. Inclusive, estamos investigando o fato de que ele corrompia outros funcionários para ajudar ele na compra de votos para tentar se eleger como conselheiro”, explicou o delegado Ney Luiz. 
O delegado Ney Luiz deu detalhes sobre o esquema criminoso revelado pela polícia  (Foto: Rafael Vieira/DP)
O delegado Ney Luiz deu detalhes sobre o esquema criminoso revelado pela polícia (Foto: Rafael Vieira/DP)

Ainda conforme  o investigador, a polícia solicitou à Justiça o mandado de prisão preventiva destes três funcionários, mas isso foi negado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e pelo judiciário. 
 
Com o avanço nas investigações, o delegado pretende  solicitar novamente  a prisão preventiva dos investigados. 


Medicamentos desviados 

Segundo o delegado Ney Luiz, o porteiro da policlínica investigado pela polícia era o responsável por desviar medicamentos para a facção. 

O investigador disse que esse porteiro já tinha sido transferido da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Porto de Galinhas para a policlínica da região por suspeita de furto de medicamentos. 

“O esquema era atender traficantes de forma informal em troca de valores em dinheiro. Já constatamos a participação de quatro funcionários, mas com o avançar das investigações poderemos descobrir o envolvimento de mais pessoas, inclusive, superiores destes investigados. Os traficantes requisitavam atendimento médico dos investigados porque possuem mandados de prisão em aberto, assim, ficam restringidos de acessar a unidade de saúde para não serem presos”, explicou o delegado Ney Luiz. 

Ainda segundo o investigador, o inquérito policial também revelou que parte destes medicamentos desviados estaria, sendo repassada para laboratórios clandestinos. 

“Estamos aprofundando as investigações para saber se os componentes destes medicamentos eram testados para a produção de entorpecentes que seriam comercializados pela facção criminosa”, disse o investigador.
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