Religião

Igrejas guardam tesouros arquitetônicos

Museu de Arte Sacra possui acervo com peças de diferentes períodos históricos

Publicado em: 09/04/2018 11:33 | Atualizado em: 09/04/2018 12:43

Foto: Peu Ricardo/DP

Cada templo religioso guarda pedaços da história. Para além do valor intrínseco ao monumento, e apesar do caráter evangelizador e de conexão com o divino, o acervo que compõe uma igreja tem um potencial cultural. Da disposição arquitetônica ao detalhe de cada imagem exposta, revelam-se características de um tempo. Não à toa, esses são espaços de visitação turística em diversos lugares do mundo. Não é diferente em Pernambuco, sobretudo em Olinda e no Recife, berços da colonização local, onde a arte sacra pode ser apreciada em museus e templos. 

As esculturas, pinturas e peças de um templo religioso são arte sacra. São objetos dispostos com o objetivo de intermediar o contato do profano com o sagrado. Cada imagem, explica o historiador do Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe), Iron Mendes de Araújo Júnior, reproduz a biografia daquela pessoa que representa e também da liturgia, o cultor ao texto bíblico. “É diferente da arte religiosa, que é vinculada à devoção popular. Toda arte sacra é de temática religiosa, mas nem toda arte de temática religiosa é sacra”. 

Os elementos que compõem a arte sacra, segundo ele, resguardam a identidade, a história cultural da nação. “A arte sacra acompanhou a evolução da formação cultural brasileira. Quando as ordens religiosas chegaram, muitas delas usaram arte como meio de evangelização”, destaca Iron. Um exemplo era a Companhia dos Jesus, a Ordem dos Jesuítas, que fazia imagens de santos com feições indígenas, para provocar a identificação da população local com o exemplar. 

Outros religiosos traduziam os cânticos para a língua tupi. A arte sacra, além da escultura, música e pintura, compreende também a literatura e até a forma de se portar. Apesar da ideia popular de que toda imagem tem o mesmo padrão, por exemplo, ela se diferencia em estilo a depender da origem geográfica. Assim, há peças com feições negras, europeias e até mesmo asiáticas. Isso fica claro na imagem de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Detalhe curioso é que muitas peças não eram assinadas porque, durante um tempo, o trabalho braçal não era bem visto pela sociedade. 

Ou ainda porque as pessoas não se sentiam dignas de representar com fidelidade alguns santos e personagens bíblicos. “É importante entender que arte sacra se aplica a qualquer religião. A definição de sagrado varia de acordo com a ótica do observador”, lembra Iron. 
Para apreciar a arte sacra, existem duas possibilidades na Região Metropolitana. Uma delas é ir ao Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe), localizado no Alto da Sé, em Olinda. Lá, a disposição museológica traz exposições contextualizadas, com dados de cada uma das peças expostas. Outra forma é ir a algumas igrejas. “Temos a convicção de que a principal função dos templos sagrados é o culto e o louvor divino. Porém, não podemos negar e obviamente reconhecemos e até promovemos, a arte. Nossos templos também são um lugar de cultura, onde você se depara com os símbolos das escolas de arte”, explica Padre Rinaldo Pereira, diretor do museu. 

Dentro das igrejas, a preservação desse material é responsabilidade dos administradores paroquiais. A arquidiocese tem uma comissão pastoral para a cultura e outra de restauro, responsáveis por acompanhar esse trabalho. Algumas igrejas também têm sido utilizadas como palco de expressão artística. Caso da São Pedro dos Clérigos, em Santo Antônio, que receberá um concerto neste domingo, às 17h. E da Madre de Deus, no Bairro do Recife, que terá no domingo 28, às 19h30. 

Museu guarda investimentos
 
As primeiras igrejas católicas de pernambuco foram fundadas na primeira metade de século 16. Mas nem toda a arte sacra do estado está disponível para apreciação pública. Cerca de 40% do acervo da Arquidiocese de Olinda e Recife e do Museu de Arte Sacra de Pernambuco permanecem guardados, à espera de captação de recursos que viabilizem a exposição. Em 2017, por meio da Lei Rouanet, foi aprovado um projeto de requalificação e restauro do Maspe e do acervo, orçado em R$ 10 milhões. Desse valor, seriam necessários pelo menos 20% para início das obras. 

“Estamos à procura de patrocinadores. Isso tem nos desafiado e motivado. A obra de restauro prevê todo o acervo, a acessibilidade, a construção de um anexo e uma nova expografia para o museu, além da construção de uma nova reserva técnica”, explicou o padre Rinaldo Pereira, diretor do museu. Entre as peças que não estão expostas, alguns castiçais, ostensórios e imagens de santos. O Maspe completa 41 anos no próximo dia 11 de abril. Como parte das comemorações, foi lançado um catálogo, que descreve as peças divididas em 12 categorias. O material está à venda no próprio museu e nas igrejas de São 
Pedro dos Clérigos e Madre de Deus, a R$ 80. O valor arrecadado será revertido para o restauro do acervo.  

Capela Dourada
Capela Franciscana do século 17. Tem rica decoração barroca com talhas de 
madeira cobertas de aplicações em ouro. Integra o Museu Franciscano de Arte 
Sacra. A visitação pode ser das segundas às sextas-feiras, das 8h às 11h30 e 
das 14h às 17h, e aos sábados, no horário da manhã. Entrada: R$ 5. 

Conjunto Carmelita 
Compreende vários monumentos no Recife: a Basílica de Nossa Senhora do Carmo, 
o Convento do Carmo, onde Frei Caneca fez seus votos religiosos, e a igreja de 
Santa Teresa D’Ávila da Ordem Terceira do Carmo. 

Concatedral de São Pedro dos Clérigos do Recife 
Construída em 1782, difere das demais igrejas barrocas do Centro por sua 
verticalidade. Foi reaberta à visitação recentemente. 

Igreja da Madre de Deus 
Erguida no século 18, é uma das igrejas mais disputadas do Recife para 
casamentos. É considerada um dos mais belos templos barrocos do Brasil, com 
talhas preciosas ornando o interior. 

Museu de Arte Sacra de Pernambuco (Maspe) 
Possui mais de 1,4 mil peças, que remontam não só à história da arquidiocese, 
mas de boa parte da história do estado. Pode ser visitado de terça a domingo, 
das 10h às 17h. A entrada custa R$ 5,00 (inteira), R$ 2,50 (meia). 

Convento de São Francisco 
Erguido o Sítio Histórico de Olinda, foi construído para ser a primeira base 
dos franciscanos no Brasil, no século 16. Nele está o maior acervo de azulejo 
português de Pernambuco. Funciona das 9h às 12h e das 14h às 17h30. A entrada 
custa R$ 3. 

Mosteiro de São Bento 
Integra um importante complexo arquitetônico barroco em Olinda, sendo tombado 
nacionalmente. No ano de 1998, foi elevado à Basílica Menor por João Paulo II. 
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