Identificação
Mesmo após cadastro de flanelinhas, insegurança faz parte da rotina
Há um ano e meio, prefeitura cadastrou 118 guardadores de carros no Bairro do Recife, mas crachás estão vencidos e o clima não mudou com a medida
Publicado em: 29/06/2016 15:42 Atualizado em: 29/06/2016 15:50
Projeto lançado no início de 2015 não apresenta muitos resultados e não tem previsão de ampliação. Foto: Everson Verdião/Esp. DP |
Em janeiro de 2015, 118 guardadores de carros que trabalhavam no Bairro do Recife foram cadastrados, em uma iniciativa polêmica da prefeitura. A ideia era que, identificando os chamados flanelinhas, diminuíssem incidentes de extorsão e constrangimento, reclamações comuns sobre a abordagem destes prestadores de serviço na cidade. Um ano e meio depois, no entanto, a insegurança ainda faz parte da rotina de quem estaciona nas ruas do bairro, onde guardadores usam crachás vencidos desde dezembro do ano passado e vários outros, não identificados pela prefeitura, exercem a atividade normalmente.
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Jurandir sente falta de fiscalização para proteger flanelinhas e motoristas. Foto: Julio Jacobina/DP |
Jurandir do Nascimento, 41, guarda carros há 20 anos em ruas movimentadas do Bairro do Recife, onde já é conhecido. Todos os dias faz questão de usar o crachá emitido pela Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano, embora este já não tenha mais validade desde 31 de dezembro de 2015. Na avaliação de Jurandir, quase nada mudou desde o cadastramento realizado pela Prefeitura do Recife. “Não tem fiscalização e, por isso, mudou pouca coisa. Ainda tem gente que não é cadastrada e invade nossa área e cobra preços absurdos dos motoristas. Se tivesse mais fiscalização, protegeria a gente e os clientes”, explicou o flanelinha.
É o mesmo que defende o guardador Antônio Vicente, que também trabalha no bairro há quase duas décadas. Ele diz que, sem a fiscalização, não acontecem as mudanças previstas pela iniciativa. “Eu acho que os motoristas se sentem mais seguros quando a gente está de crachá, mas sem a fiscalização não adianta muita coisa”, queixou-se.
Amaro José, que também trabalha como flanelinha no bairro, não participou do cadastro da prefeitura em 2015 e atua na área mesmo sem ter crachá. Para ele, que ainda espera uma oportunidade de ser cadastrado, a falta de identificação não afeta a relação com os motoristas. “Não estava aqui no período do cadastramento, mas já trabalho aqui há mais de cinco anos e meus clientes me conhecem. Ter ou não ter o crachá faria mais diferença se tivesse fiscalização, mas não tem muita. Estou esperando eles abrirem o cadastramento de novo”, contou.
Crachás usados por guardadores cadastrados venceu em dezembro do ano passado. Foto: Julio Jacobina/DP |
Para Gustavo Hipólito, que trabalha no Bairro do Recife e usa o carro todos os dias, a exibição do crachá dá, ao menos, uma sensação de segurança. “Em algumas ruas, que o flanelinha não é cadastrado, acontece um constrangimento, uma intimidação. Com o crachá, a gente pelo menos sabe o nome da pessoa, dizer o local e aumenta a nossa segurança caso aconteça alguma coisa com o carro ou com nós mesmos”, refletiu.
Arquiteto e urbanista Geraldo Marinho defende que, do ponto de vista da gestão pública, qualquer tentativa de regularizar uma atividade informal, ainda que bem-intencionada, “não gera muita expectativa positiva”. Ele explicou que essas atividades fazem parte da economia informal que, por isso, sempre será difícil de formalizar. “É informal porque é casual, eles fazem espontaneamente, é uma possibilidade imediata de renda, que eles podem largar sem nenhum compromisso com nada”, descreveu o especialista, que vê uma polêmica ainda maior no caso dos guardadores de carro.
“Sem nenhuma maldade, mas também sem nenhuma demagogia: qual é o papel social dessa atividade? Na realidade, eles não cumprem nenhum serviço. Se tiver lavando um carro, tudo bem, é uma atividade, um lavador, mas na maior parte do tempo ele fica cuidando do carro, o que não faz nenhum sentido se você tem uma política de segurança pública”, avaliou Marinho, que também vê riscos na atividade. “Se eu cobro que o guardador cuide do carro, exponho ele a um risco. Se chega um ladrão eu não espero que ele defenda, reaja. Ele não tem formação para isso”, explicou. “A intenção de regularizar, por mais intencionada que seja, ou é demagógica ou é tecnicamente inconsistente”, concluiu.
Guardadores ficam com chaves dos carros e defendem relação de confiança com motoristas. Foto: Julio Jacobina/DP |
A Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano se manifestou através de uma nota, na qual explicou a intenção do projeto e frisou a importância dos condutores denunciarem condutas inadequadas por parte dos guardadores. O Diario também questionou a secretaria sobre o vencimento dos crachás e sobre a possibilidade de expandir o projeto, além da possível abertura do cadastramento, mas até a publicação desta matéria ainda não tinha recebido resposta da pasta.
Confira na íntegra a nota enviada:
O trabalho de cadastro dos guardadores de carros do Bairro do Recife, feito no início de 2015, teve como finalidade facilitar a identificação dos mesmos e coibir irregularidades e abusos contra os condutores. É fundamental, além da fiscalização da pasta, que a população denuncie os possíveis desrespeitos aos agentes públicos, que estão dispostos pelo bairro, para que medidas punitivas sejam tomadas, inclusive com o auxílio do órgão de segurança do Estado - também envolvido no projeto. Fica a critério do cidadão a opção de gratificar o flanelinha, bem como o valor dessa gratificação.
É importante salientar que o combate à ação dos flanelinhas compete ao mesmo órgão de segurança - uma vez que muitas das ações são consideradas uma forma de extorsão e essa prática é considerada crime pelo Código Penal. Ao poder público municipal, cabe a fiscalização de desrespeito às normas de trânsito. Ações de fiscalização, inclusive contra o estacionamento irregular, são rotineiras em toda a cidade. Uma das áreas que apresentam maior incidência da irregularidade, o Centro do Recife tem uma operação específica chamada "Estacione Legal". Cerca de 20 agentes são responsáveis pelas atividades.
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