DIARIO Editorial: Eleições diretas ou indiretas

Publicado em: 24/05/2017 07:25 Atualizado em: 24/05/2017 07:31

O Brasil está sob uma divisão tão profunda que não se consegue construir o consenso sobre nada no país — nem sobre as qualidades de um perito nem sobre o acordo feito por um delator, para ficar apenas em exemplos recentes. Seria querer muito, portanto, que uma medida a ser tomada após uma eventual saída do presidente Michel Temer fosse consensual. Em mais uma das muitas fraturas com que nos deparamos, a sucessão imaginada por um pós-Temer coloca de um lado os defensores das eleições diretas e, do outro, os partidários da indireta.

Cada lado tem suas razões e prepondera onde o seu campo de ação é mais forte. Ontem, por exemplo, os aliados do presidente conseguiram adiar Na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara a votação do relatório da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) das eleições diretas, de autoria do deputado Miro Teixeira (Rede-RJ). Dois detalhes importantes na questão: 1) o projeto é para as situações de vacância da Presidência da República (como na hipótese aventada ultimamente, de afastamento de Temer); 2) o relatório é favorável ao que propõe a PEC.

Há no Congresso um sentimento majoritário a favor das eleições indiretas — caberia aos parlamentares a escolha do sucessor, condição que lhes daria um papel proeminente na situação de busca de uma solução para a crise. Essa maioria é formada principalmente pela base aliada do governo federal.
Nas ruas, porém, a situação é outra, conforme pesquisa do Instituto Datafolha. Aí a ampla maioria (85%) quer as diretas. Por meio da realização de manifestações, os partidos e movimentos de oposição tentam cavalgar essa tendência a ponto de fazê-la capaz de modificar vontades no Congresso. O parlamento é historicamente sensível à ”voz rouca das ruas”, quando ela consegue transformar-se em um grande galvanizador de massas.

Sem entrar no mérito de qual é a melhor opção neste momento, o fato é que temos hoje duas visões distintas claramente localizadas: uma, presente na cúpula da maioria dos partidos e de setores importantes da sociedade brasileira, adeptos de uma alternativa em que o controle da situação não lhes sairia das mãos, o que teoricamente seria mais eficaz para evitar instabilidades e controlar a crise; e outra, difusa e majoritariamente espalhada nas ruas, reflexo de uma insatisfaç&atild e;o contra todos os escândalos e descrente do papel do Congresso como protagonista da escolha do novo presidente.
São posições antagônicas, e no curto prazo é pouco provável que encontrem pontos de convergência. Não há consensos à vista e o mais provável é que a predominância de uma ou outra só se dê pelo enfrentamento, o que significa que a divisão permanecerá.
 


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