Perfil empresarial

Lucinha Cascão transforma tradição familiar para doces

Marly & Lucinha Cascão - Oficina do Açúcar teve origem com a bisavó da cake designer, sendo oficialmente fundada em 1960, se tornando referência no setor

Publicado em: 23/09/2018 10:00 | Atualizado em: 21/09/2018 16:08

Formada em psicologia, Lucinha acompanhou a atividade da mãe e se viu na empreitada. Foto: Antônio Félix/Divulgação


Quando o dom vem de família não tem como fugir: uma hora o negócio fala mais alto. Foi assim com Lucinha Cascão. A profissional cresceu ouvindo as receitas da bisavó, que era portuguesa e sempre trabalhou com culinária. As receitas e as habilidades na cozinha passaram para a avó e, em seguida, para a mãe de Lucinha, que sempre comandarem o fogão com a facilidade de quem lê um livro. Mesmo tendo a culinária no dia-a-dia, a profissão não foi a primeira escolha de Lucinha. Inicialmente, ela tomou um rumo profissional diferente. Psicóloga por formação, ela se viu envolvida nos projetos da mãe e, quando percebeu, já não dava mais para conciliar as duas profissões.

A decisão de se dedicar à fábrica de doces veio há 15 anos, logo após um acidente na casa da mãe. “Nós tínhamos alugado um apartamento em cima do dela para funcionar como ateliê e tinha uma escada ligando um local ao outro. Na correria eu levei uma queda da escada e quase me comprometo realmente. A partir daí, eu decidi me dedicar ao negócio e alugar uma casa para ser o nosso ateliê”, relata. Até hoje o ateliê está funcionando em Piedade.

Hoje, Lucinha fica à frente do negócio, mas, a mãe, Marly, aos 80 anos, também participa da produção. “O bolo de noiva é ela quem faz. Bate a mão. A transição do negócio foi muito difícil porque eu queria que ela entendesse que já tinha feito muito e estava na hora de aproveitar a vida mas ela não abria mão. E assim estamos até hoje. Ela participa de toda a produção e atende junto comigo”, ressalta.

Hoje, a fábrica conta com 33 funcionários fixos. Por semana são produzidos pelos menos 30 bolos. Mensalmente são 20 mil doces, muitos desses criados pela profissional. Na bagagem, mais de 90 novas variedades de doces. “Fazer doce é alquimia. Minha avó era muito isso. Ela pegava um caju, desidratava, botava leite de coco e a gente pensava que tava comendo lagosta. As pessoas mais antigas tem receitas impressionantes. Então, começamos assim”, relembra.

Além dos produtos inovadores, Lucinha acredita que o atendimento é um diferencial. No ateliê, a agenda com os clientes é marcada de segunda a quinta. Os demais dias são dedicados a produção.”Entre um atendimento e outro eu corro para fazer algum teste, conferir acabamento, ver a produção... Mas eu não posso deixar de conversar com cliente até para entender qual o desenho, o sonho que vou trabalhar”, pontua.

Sempre em busca de inovações, Lucinha passou um período de 45 dias na Bélgica estudando o chocolate que é utilizado em suas iguarias. “Eu quis entendê-lo, saber usá-lo da forma correta”, diz. Mas não é apenas do exterior que vem a inspiração. “Eu penso que o que deixa você antenado para as coisas é estudar, pesquisar, fazer cursos. Eu faço cursos em Caruaru, em cidades do interior, assim como já fui para Dubai, China, Londres, Paris e vários lugares do mundo atrás de novidades. Vou para feira de panificação até exposição de Natal. Sempre tem algo inspirador”, diz.

Entre as metas a serem conquistadas está a industrialização do processo. “Temos uma máquina de mexer o produto e estamos investindo em uma máquina que faz dois mil doces em uma hora. Ela já solta a bolinha pronta, precisaríamos apenas modelar o doce. É uma inovação que estamos buscando”, ressalta.

E ao mesmo tempo que busca a industrialização da produção, Lucinha também tenta abrir as portas do mercado internacional para os seus produtos. A internacionalização da marca é um dos sonhos que estão na lista de desejos. “Quero que a linha seja conhecida mundialmente. Eu digo sempre: pernambucano tem açúcar nas veias e precisamos entender que tem muita história enraizada”.

O desejo pode estar mais perto do que ela imagina. Alguns contatos estão sendo feitos e reuniões agendadas com um empresário do mercado internacional. Ainda em tratativas iniciais, o primeiro destino a receber o produto, ou quem sabe uma franquia da marca, seria Dubai. Mas, apesar de já haver conversas em andamento, ainda não há prazos para o sonho se realizar.

Festas na praia são principal mercado

Fernando de Noronha, Carneiros, Porto de Galinhas, São Miguel dos Milagres (Alagoas), Trancoso (Bahia)… Destinos turísticos nacionais conhecidos e que se tornaram os queridinhos dos casais para a realização das cerimônias de casamento. E foi neste nicho que Lucinha Cascão tem se especializado.   Quer um exemplo do sucesso? Foi dela a assinatura da mesa de doces do casamento dos atores Klebber Toleto e Camila Queiroz, realizado no mês passado em Jericoacoara, praia localizada no Ceará. A demanda por eventos com vista para o mar é tanta que, hoje, 50% dos casamentos que levam a sua assinatura são em praias. Até o fim do ano, são 12 agendados apenas em Fernando de Noronha, o destino mais requisitado na empresa.

“Eu fui me especializando neste nicho. Os mercados de praia são uma coisa interessante porque você tem que ter uma estrutura e cada evento é um aprendizado. Em Noronha eu já tenho uma estrutura montada. Tenho peças lá do meu acervo. Mas, sempre temos novos projetos desenvolvidos em praias e cada um é um aprendizado”, conta.

O início desse projeto foi desprentencioso. “Um evento aqui, outro ali. Fui aprendendo. Noronha me abriu muitas portas e assim fui aprendendo e adaptando o meu produto. Para o casamento na praia tivemos que ver o doce que resiste e o que não resiste. O chocolate, por exemplo, é muito sacrificado no calor, porque geralmente os casamentos na praia são na época do verão. Mas não deixamos de realizar o sonho do cliente. Se ele quer um doce de chocolate, tentamos nos adequar ao doce que resiste”, ressalta.

De acordo com Lucinha, dependendo do tamanho da encomenda é necessário a sua ida e da equipe até o local. “Os naked cakes conseguimos enviar mas quando é um bolo decorado temos que ir. Fazer no local. Eu tenho que estar presente e às vezes toda uma equipe também”, diz.

Por falar em distribuição, a empresária montou uma estrutra logística para garantir a entrega da encomenda ao cliente com segurança. “Eu entendi como gestora que muita coisa você precisa terceirizar. Não adianta querer fazer tudo. Então, nessa questão da distribuição eu trabalho com uma companhia aérea, onde desenvolvemos juntos um trabalho de pesagem de todo o material e também de embalagem do mês para garantir a perfeição na entrega. Fiz isso depois de ter um problema com uma outra companhia que levou meu produto para um destino errado e me deixou na mão. Eu tive que dar o meu jeito para entregar o material no dia e na hora do evento. Agora temos desenvolvido esse trabalho mais profissionalizado”, relata.
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