Enfrentando a crise
Motéis apostam na reinvenção de suítes, tecnologias e culinária para reaquecer setor
Mercado moteleiro busca unir diversão e economia ao oferecer solução completa para uma noite agradável
Por: Augusto Freitas
Publicado em: 29/03/2016 17:23 Atualizado em: 30/03/2016 15:04
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Mercado moteleiro teve perdas em 2015, mas empresários continuam confiantes em uma melhora no desempenho este ano. Foto: Thais Arruda/Esp.DP |
A crise econômica atinge quase todo o setor de serviços, e os móteis não são exceção. Apesar das perdas, que podem chegar a 15%, o nicho acredita em uma recuperação ainda neste ano e, para isso, tem recorrido a estratégias diferentes para voltar a chamar atenção dos clientes. Uma delas, segundo a Associação Brasileira de Motéis (Abmotéis), é oferecer aos visitantes descontos nas diárias e estadias, culinária diferenciada, bebidas de alto padrão, tecnologias de ponta, entre outros. Tudo para enfrentar a escalada dos preços em restaurantes, bares, cinema e outros grupos de entretenimento.
Na Região Metropolitana do Recife (RMR) o setor moteleiro possui, de acordo com a associação, cerca de 150 motéis. Os estabelecimentos faturam algo em torno de R$ 25 milhões por mês, somando R$ 300 milhões anualmente, e empregam aproximadamente 30 funcionários por estabelecimento, gerando 5 mil postos de trabalho e uma média de mil empregos indiretos.
"Em 2015, tivemos uma perda de clientes entre 10% e 15%, embora as nossas redes estejam dando lucro. Mas a crise atingiu o segmento. Umas das estratégias é oferecermos aos clientes de alguns motéis refeições criadas por um chef de cozinha, como saladas, almoço ou jantar, como cortesia. Também mudamos o horário do pernoite no fim de semana, que antes era das 23h às 10h e agora é das 19h às 10h", explicou Carlos Rique, proprietário das redes Lemon, Fórum e Hotel dos Prazeres.
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Segundo a Abmotéis, umas das táticas dos estabelecimentos é investir em culinária refinada para atrair mais clientes. Foto: Blenda Souto Maior/DP |
De acordo com o economista do Instituto Fecomércio-PE Rafael Ramos por se tratar de um grupo de serviços ligado à família, os motéis têm tido obstáculos para lidar com a margem de lucro e a pouca demanda. "Com o orçamento apertado, as perdas salariais e o desemprego, as famílias deixam de gastar com o supérfluo. Motel não é um item essencial, embora clientes das classes A e B demonstrem não deixar de frequentá-los. Empresários que possuem uma percepção melhor do negócio, sentem menos o impacto da crise", afirmou.
Inovação e mercado
No ano passado, algum estabelecimentos chegaram a registrar uma queda de 40% no movimento. "Os lucros caíram um pouco e isso não é bom, pois trabalhamos com custos fixos elevados, como energia, funcionários, fornecedores. Quem tinha poder de compra antes, hoje não tem mais tanto e o setor sentiu. Toda inovação é bem-vinda, até porque os clientes gostam de novidades. O obsoleto, no ramo de motéis, significa quebra. Hoje, investimentos em um cardápio mais tradicional, como por exemplo picanha, filé e camarão, três pratos que os visitantes gostam", pontuou Marcos Queiroz, dono das redes Fidji, Gôa, Praia Norte e Cristal. Os três primeiros fazem parte do Clube dos Motéis, segundo Queiroz.
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O obsoleto, no ramo de motéis, significa quebra, segundo o empresário Marcos Queiroz. Foto: Jaqueline Maia/DP |
Promoções coletivas, aliás, têm sido uma outra opção atraente que os motéis têm recorrido para driblar a crise e manter eles, o tesão e os estabelecimentos, aquecidos. “Temos ofertas interessantes em sites como Peixe Urbano e Groupon, para as redes Eros e Via Norte, onde os preços das suítes variam entre R$ 49,90 e R$ 600. Houve uma queda no movimento nos dias da semana, sem contar sábado e domingo, e é necessário criar soluções inovadoras”, destacou Carlos Melo, proprietário das redes Eros, Nexus e Via Norte. No caso do Nexus, cuja proposta é de um público-alvo com maior poder aquisitivo, os valores de pernoite permanecem inalterados, com suítes entre R$ 160 e R$ 600. "Também estendemos o horário de almoço, das 11h às 22h, onde o cliente pode escolher duas refeições", reforçou Melo.
Noite completa, menos gastos
Diante do cenário atual, na avaliação da Abmotéis, a estratégia é mesmo a de aliar conforto, diversão e valores que cabem no bolso, tudo num só lugar. "Nos últimos dez anos, o setor de motéis vem investindo nesta questão da inovação, atualizando suas estruturas, reestruturando interiores e oferecendo algo além de uma simples estadia. O setor, mesmo diante de uma redução no faturamento de 10% em 2015 no Brasil, continua aquecido", disse Eusébio Ribeirinha, presidente da Abmotéis.
Para o dirigente da associação, a análise da questão é simples: uma noite completa, incluindo restaurante, cinema e motel, se for substituída por uma ida direto ao estabelecimento moteleiro para desfrutar com conforto as opções oferecidas, chega a representar uma economia de cerca de 50%. Segundo Ribeirinha, os motéis estão investindo justamente em soluções que atraiam os hóspedes interessados em fazer todos esses programas em um único lugar, com cardápios preparados por chefs, cartas de vinhos e cervejas importadas.
Atualmente, de acordo com a Abmotéis, o Brasil possui aproximadamente 5 mil motéis que movimentam R$ 4 bilhões por ano. A perspectiva para 2015 era de crescer 20% em faturamento, mas pelo cenário atual de crise a entidade observou que nesse primeiro semestre, em média, os motéis tiveram uma retração 10% a 15% e um aumento de custos em torno de 20%, principalmente com energia elétrica.
Hoje, conforme dados fornecidos pela associação, o setor emprega, em média, 50 funcionários por motel ou quase 230 mil funcionários diretos, sendo 80% mulheres. Indiretamente, emprega mais de 300 mil pessoas, que prestam serviços terceirizados ou são empregados de empresas fornecedoras. Além disso, estima-se que os motéis hospedem cerca de 100 milhões de pessoas por ano. Os novos motéis, que investem em ambientes com qualidade e serviços de hotelaria vão crescer, na avaliação do órgão, a uma taxa média anual de 10%, sendo que em 2022 o mercado moteleiro brasileiro estará movimentando cerca de R$ 10 bilhões anualmente.
Fórum
Recife recebe nesta quarta-feira o 4º Fórum de Gestão Moteleira, evento idealizado pela Abmotéis. O fórum discutirá temas relevantes para gestores de motéis, como o uso de celular pelos funcionários no ambiente de trabalho e os serviços prestados pelos estabelecimentos. Entre os debatedores estão o diretor da Abmotéis, Felipe Martinez, e o diretor do Guia de Motéis, Silas Augusto. O 4º Fórum de Gestão Moteleira será realizado no Marante Plaza Hotel, na Av. Boa Viagem, nº 1070, e, para participar, basta confirmar a presença por meio dos telefones (11) 3223-7834 ou (11) 3223-2353, ou ainda pelo e-mail abmoteis.info@abmoteis.com.br.
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