Em Foco
O melhor amigo não é mais 'de carne e osso'
Uns fazem ar de riso, outros franzem a testa, poucos querem fazer uma consulta breve e voltar a atenção para quem está ao lado, eles seguem com os olhos nas telas
Por: Luce Pereira
Publicado em: 21/03/2018 07:32
Ao analisar o impacto do smartphone nas relações interpessoais e do usuário com o ambiente físico e social, o estudo demonstrou que 33% dos entrevistados preferem a companhia dos aparelhos. Foto: Samuca/Arte DP (Foto: Samuca/Arte DP ) |
Definitivamente, esqueça aquela ideia poética de que melhores amigos são carregados do lado esquerdo do peito. Eles passaram a ser levados em bolsas e bolsos e a ser cada vez mais vistos como imprescindíveis, inseparáveis, inestimáveis, principalmente para a chamada geração Z (16 a 20 anos). E quem garante o novo status é um estudo encomendado pela inventora do primeiro celular de que se tem notícia no mundo, a Motorola. Os resultados da pesquisa mostraram o óbvio, porém, quando evidências são traduzidas em números, os queixos caem com mais facilidade. Neste caso, concluiu-se que 49% dos usuários brasileiros desta geração consideram o smartphone seu “melhor amigo”. Simples assim. E quando o trabalho (desenvolvido com a supervisão da psicóloga Nancy Etcoff, nome dos mais famosos quando o assunto diz respeito a Comportamento Mente-Cérebro e Ciência da Felicidade) se estende a outros países pesquisados – Índia, Estados Unidos e França – fica fácil entender a preocupação da Motorola em criar o movimento global Phone Life Balance, de ajuda ao uso mais equilibrado dos aparelhos.
Ao analisar o impacto do smartphone nas relações interpessoais e do usuário com o ambiente físico e social, o estudo demonstrou que 33% dos entrevistados preferem a companhia dos aparelhos a estar com gente da família, amigos ou pessoas importantes. No caso brasileiro, o percentual pula para 36%. Ficou assim: Índia (47%), Brasil (36%), Estados Unidos (30%) e França (18%). No entanto, 44% da geração Z reconhecem que passam muito tempo usando o telefone e 34% deles admitem que estariam mais felizes fazendo um uso mais racional. Tudo levaria mesmo a acreditar nisso, não fosse pelo fato de 65% (dois terços) se mostrarem desesperados quando acham que perderam o “melhor amigo”. A superdependência emocional pode, também, ser constatada pela frequência com que o celular é consultado, mas ao menos a metade diz que gostaria de não agir assim, o que, nas entrelinhas, sugere sentimentos transitando entre o prazer e a culpa.
Naturalmente, este é um caminho sem volta, pois ninguém ousa imaginar a humanidade retornando ao tempo em que eles, os smartphones, não passavam de vaga ideia na cabeça dos seus criadores. Mas que é preciso que a indústria trabalhe incessantemente por um uso equilibrado dessas tecnologias, a psicóloga não tem dúvida. Além disso, cita os estímulos comportamentais, fatores ambientais e a consciência como importantes aliados neste esforço. No entanto, inevitável mesmo é sonhar que esses níveis de consciência, se alcançados, levem a uma conclusão preciosa: de que ainda não inventaram nada melhor do que o afeto traduzido pelo toque e a palavra pronunciada frente a frente.
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