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Violência Motoristas de Uber são vítimas de assaltos e sequestros Alvo constante dos bandidos, condutores já pensa em abandonar o serviço

Por: AE

Publicado em: 27/11/2016 10:02 Atualizado em: 27/11/2016 09:43

Bandidos já fizeram motoristas como refém e até usaram falsos passageiros para criar emboscadas. Foto: Nando Chiappetta/DP
Bandidos já fizeram motoristas como refém e até usaram falsos passageiros para criar emboscadas. Foto: Nando Chiappetta/DP
Os dados registrados pela polícia mostram que os bandidos já fizeram motoristas como refém e até usaram falsos passageiros para criar emboscadas. Na madrugada do dia 11 deste mês um motorista que trabalhava em Guarulhos relatou ter sido usado por bandidos para realizar um assalto. O condutor foi acionado pelo aplicativo até a Rua Acre, onde encontrou os dois passageiros em um posto de gasolina. Eles pediram para serem levados a uma farmácia e, em seguida, ao supermercado Extra. Só um dos homens entrou no carro e o outro veio depois, correndo. Como a vítima achou que havia algo de errado, fez menção de ligar o carro, mas era tarde: o passageiro o ameaçou com uma arma.

Só então o motorista percebeu que o homem carregava uma máquina registradora. Ao entrar no carro eles tentaram abri-la no trajeto, mas não conseguiram. Em seguida, determinaram que ele dirigisse até a Avenida Suplicy, onde fugiram. O caso foi registrado no 2.º Distrito Policial de Guarulhos. Em outro episódio, do dia 8 de outubro, o motorista da empresa recebeu uma solicitação para buscar uma passageira na Avenida Teresa Cristina, na Vila Monumento, na zona sul paulistana, para levar apenas bagagens. Quando chegou ao local havia uma adolescente, que já deu um nome diferente do identificado no aplicativo.

A menina embarcou, disse que não havia bagagem nenhuma e mudou o destino - de um shopping, que estava no aplicativo, para uma favela. Desconfiado, o motorista começou a fazer uma série de perguntas e, segundo relatou no boletim de ocorrência, a garota ficou nervosa e confessou que foi obrigada a fazer o chamado por um amigo, que assaltaria o motorista. Ele mandou a jovem descer e foi ao 56.º Distrito Policial para registrar o caso. 

Riscos
O motorista Claudio (nome fictício), de 41 anos, sofreu um assalto no dia 12 e já pensa em abandonar o aplicativo, após seis meses de serviço e até o financiamento de um carro para trabalhar. Ele tinha acabado de deixar um passageiro no limite de São Paulo com Santo André, no bairro de Utinga, quando recebeu um chamado próximo. Eram 14 horas, a rua era movimentada e ele não viu por que não aceitar o chamado. Quando chegou, foi surpreendido por três adolescentes que, segundo ele, tinham entre 13 e 15 anos.

“Perguntaram se eu era o tio do Uber. Na hora que abaixei o vidro já me dominaram. Todos estavam armados. O maior entrou, me segurou pelo pescoço e imobilizou”, diz. Os bandidos levaram o celular de Claudio, o dinheiro de sua carteira e até a bolsa com água para os passageiros. “Eles me ameaçaram de morte. Fiquei travado, não sabia o que fazer.” Quando os jovens deixaram o carro, ele teve ajuda de moradores da região. “Disseram que ali no bairro estava acontecendo muitos casos do tipo. Parece que alguns bandidos estão indo ali justamente para assaltar.”

Claudio só voltou a trabalhar no dia 16, mas diz que está desanimado. Trocou o horário que fazia, da tarde, para mais cedo - agora entra às 5 horas e sai às 12 horas. Ele reclama que o fato de a empresa obrigar o motorista a aceitar corridas com dinheiro causou insegurança. “A gente nunca sabe quem vai pegar.”

Cadastro
Outro problema seria a falta de controle da empresa com relação a cadastros. “Só precisa de um telefone e e-mail. Já o motorista tem de mandar até atestado de antecedentes criminais”, afirma o motorista. O condutor Flávio (que pediu para não ter o sobrenome identificado), de 34 anos, conta que foi assaltado pela segunda vez com o aplicativo na Vila Babilônia, região do Jabaquara, na zona sul de São Paulo. Ele tinha acabado de deixar um passageiro e recebeu um chamado para buscar outro. Ao chegar ao local, já percebeu a emboscada: o suposto cliente nem sequer sabia indicar o nome correto que havia colocado no perfil falso.

“Ele já esperou em um lugar estratégico. Veio um rapaz no cruzamento e mais dois escondidos atrás do carro. Eles mandaram abrir o veículo. Como eu já tinha ouvido falar de outro motorista que tentou fugir de um assalto e atiraram nele, achei melhor obedecer. Destravei o carro e eles entraram. Minutos depois, anunciaram o assalto e me colocaram no banco de trás.” Flávio precisou levar o trio até a Avenida Jornalista Roberto Marinho, onde o deixaram. “Comecei a orar dentro do carro e eles ficaram meio assustados. Mandaram parar e, em seguida, me largaram.”


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