Disco de inéditas do Boi da Macuca e Henrique Albino presenteia o carnaval com frevo revigorado
Nesta quinta-feira (11), disco "Frevo Macuca", do Boi da Macuca e Henrique Albino, chega às plataformas digitais trazendo doze frevos inéditos, interpretados por nomes como Lenine, Siba e Juliana Linhares.
Publicado: 11/12/2025 às 07:42
"Frevo Macuca" traz frevos pensados especialmente para a formação das orquestras que fazem os cortejos de rua (Reprodução/Instagram)
Consolidado como um dos blocos mais populares do carnaval de Olinda atualmente, o Boi da Macuca já trabalha há alguns anos para diversificar o repertório de frevo nas ruas. No entanto, sua maior contribuição para a folia pernambucana até então chega nesta quinta-feira (11), quando é lançado nas plataformas digitais o disco “Frevo Macuca”, do Boi da Macuca com o maestro Henrique Albino, trazendo doze frevos-canção inéditos, sob interpretação de grandes nomes da música nordestina contemporânea, como Lenine, Siba, Juliana Linhares, Silvério Pessoa, Isaar e Buhr.
Antes, a agremiação já havia inovado a cena levando diversas músicas do universo do forró, rearranjadas para o frevo, para as ruas de Olinda. Títulos como “Pedras que Cantam”, de Dominguinhos e Fausto Nilo, e “Lamento Sertanejo”, de Dominguinhos e Gilberto Gil, passaram a embalar as festas de milhares de foliões, promovendo um intercâmbio entre as culturas pernambucanas do litoral e do agreste, onde o Boi nasceu.
Com “Frevo Macuca”, esse diálogo é aquecido por letras que trazem diversas referências contemporâneas desses dois cenários. Em “Axé de Fala”, por exemplo, Zé Manoel, Surama Ramos e Mãe Beth de Oxum cantam sobre a bebida homônima, muito apreciada nos dias de hoje pelos pernambucanos durante a folia. Já em “Frevo Sucesso”, Siba canta sobre se entorpecer com o cheiro da amada - no melhor estilo “Oh Bela”, de Capiba - fazendo um trocadilho com os efeitos entorpecentes do cheiro de loló, popularmente conhecido nas ladeiras de Olinda como o “sucesso”.
O músico Henrique Albino assina a produção do disco e compôs todos os arranjos, considerando especialmente instrumentos de sopro e percussão, que tradicionalmente estão na formação das orquestras de rua. “Isso se diferencia das outras gravações de frevo, que contam com instrumentos harmônicos de corda ou teclado, por exemplo”, observa Rudá Rocha, conselheiro de arte e cultura do Boi da Macuca.
Porém, mesmo sem recorrer a tantos instrumentos, as músicas chamam atenção pelos arranjos engenhosos de de Albino, que é conhecido pela habilidade de compor peças musicais nada básicas. Com isso, o disco se propõe a trazer um frevo revigorado, com a cara da música contemporânea, mas dentro da estética musical das orquestras de rua.
A proposta evidencia o desejo de ouvir o repertório nos cortejos carnavalescos. Não é à toa que Albino e a agremiação já distribuíram todas as partituras entre as principais orquestras do estado. De acordo com Rudá, o intuito é que o projeto possa contribuir com a produção fonográfica de frevo, buscando oferecer novos hits para as pessoas cantarem. “Acho que desde a década de 1990 a gente não tem algo desse tipo. O último que me lembro é ‘Beijando a Flora’, de Alceu (Valença)”, relembra Rudá, que diz ter se inspirado também em projetos como a série “Asas da América”, de Carlos Fernando.
Como já é de se esperar, o próprio Boi da Macuca vai dar o primeiro passo para colocar as novas músicas na boca do povo. A partir deste ano, o cortejo da agremiação já passará a contar com “Vedado no Boi”, que é interpretada pela potiguar Juliana Linhares no álbum. Contando com triângulo e zabumba, a música é um frevo forrozado que reverencia a trajetória da Macuca desde o município de Correntes, onde fica a fazenda-sede do Boi, até Olinda.
Segundo Rudá, a inserção das demais músicas deve ser gradativa, considerando a resposta dos foliões, para que o bloco mantenha a vocação dos cortejos de frevo, com o público cantando junto. Porém, a julgar pela beleza do repertório e seu potencial sucesso, essa iniciativa não deve demorar muito.
Sob a interpretação de Lenine, a música “Joga tudo na folia” faz referência a variantes do frevo de rua, como abafo, coqueiro e ventania, prometendo comover, assim como outras faixas, os amantes do gênero. Dificilmente alguém ficará parado também com o fervo de músicas como “Frevo F”, defendida por Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi, e “Frevo pra alinhar o céu”. Essa última saúda o povo do sertão com interpretação de Jéssica Caitano, cantora de Triunfo, que destaca-se na cena pernambucana por projetos como o Radiola Serra Alta.
Aliás, o Boi da Macuca vai além dos limites de Correntes e de Olinda não só dentro de Pernambuco. Em canções como “Ouvidor”, interpretada por Tiné, o bloco viaja até o Rio de Janeiro, onde fica a Rua do Ouvidor, numa tentativa de trazer outros cenários para o frevo. O mesmo acontece em “Queimada”, com Isaar e Buhr, que fala do folclore brasileiro e do misticismo em torno da Amazônia e do Pantanal.
Até mesmo a melancolia dos frevos de bloco foi lembrada em “Regresso do Boi do Macuca”, cantada por Silvério Pessoa e Isadora Melo. A música parece fazer alusão ao clássico “Último Regresso”, de Getúlio Cavalcanti, fechando o álbum para deixar o ouvinte com saudade e pedindo pro Boi ficar.