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ARTE URBANA

Grafites de Carlos André colorem as ruas de Recife e Olinda com a cultura nordestina

Há quase 20 anos, o grafiteiro Carlos André transforma os muros de Olinda e do Recife em uma galeria a céu aberto da cultura popular nordestina

Allan Lopes

Publicado: 10/12/2025 às 04:00

Grafiteiro Carlos André tem a cultura popular como marca registrada/Foto: Crysli Viana/DP Foto

Grafiteiro Carlos André tem a cultura popular como marca registrada (Foto: Crysli Viana/DP Foto)

Diante do caos urbano, dos engarrafamentos e da sensação de insegurança, surgem nos muros do Recife e de Olinda verdadeiros refúgios visuais. São as obras do grafiteiro Carlos André, que convidam quem passa a uma pausa contemplativa. Mas esse diálogo não se limita aos olhares apressados dos motoristas e dos pedestres. Nas cores vibrantes de Carlos, a nossa pernambucanidade, nossas histórias e nossas lutas se eternizam em uma arte que pertence à rua e ao olhar de todos.

Os primeiros desenhos de Carlos André remontam à infância, quando seus traços já anunciavam um talento promissor. “Meus pais perceberam que aquilo era especial e passaram a dar mais atenção”, relembra, em entrevista ao Viver. Depois, veio a pichação, seu contato inicial com a arte de rua, como um grito de autoafirmação. O grafite, no entanto, foi onde sua linguagem artística amadureceu e se tornou, de fato, uma carreira há quase 20 anos, em que hoje acumula parcerias com o poder público, empresas multinacionais e projetos de alcance nacional, como a Caravana do Silvinho, do SBT.

A influência da cultura hip-hop fez Carlos se dedicar ainda mais à grafitagem. Ele começou a colecionar revistas especializadas, livros e qualquer material que pudesse aprimorar sua técnica e entender o movimento. Nesse processo, além de estudar referências, entendeu que também precisava olhar para suas próprias origens. “Não adianta eu ser de Sapucaia, em Olinda, e copiar um trabalho 'gringo' ou estilos de São Paulo. Claro, a inspiração pode vir de qualquer lugar, mas minha essência é nordestina”, diz o artista.

O resultado é uma assinatura visual que transita do lúdico ao visceral, sem nunca abrir mão de celebrar a cultura popular local. “É o que realmente me diferencia dos outros artistas”, destaca. Até mesmo nas encomendas, quando o cliente pede algo específico, ele traz um pedaço das nossas expressões. Em um mural para a Rádio Clube, por exemplo, Carlos traduziu a identidade da emissora reunindo pontos turísticos, manifestações e figuras como o Caboclo de Lança. Incluiu também o peixe voador, personagem de suas primeiras obras. “É um símbolo da luta, da sobrevivência e da capacidade de ir além dos seus limites”, explica.

Antes de executar qualquer projeto, seja um mural ou uma obra externa, o processo de criação começa no ateliê, que permanece em Sapucaia. “É no papel que estudo, pesquiso e desenvolvo a ideia para o cliente”. Dali, Carlos André conta que a obra pode seguir para qualquer destino. “A arte pode ser produzida em parede, tela, piso… o suporte é variado. Hoje não existe mais limites no grafite”, completa.

Os limites foram rompidos de fato, com o grafite chegando a lugares antes inimagináveis. “Saiu dos muros e chegou às telas, às galerias, aos museus, aos quarteis, aos shoppings e às grandes empresas, nacionais e internacionais”, celebra ele. A grafitagem de hoje, portanto, pertence a outro patamar, amadurecido, técnico e valorizado, mesmo que alguns ainda confundam com pichação. “Tudo isso foi conquistado com muita luta dos pioneiros, que não desistiram”, diz Carlos, cujo nome e arte estão gravados na parede dessa evolução.

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