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Jornalista pernambucano narra trajetória da imprensa erótica no Brasil em livro premiado

Vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico 2025, o jornalista e pesquisador pernambucano Valmir Costa preenche lacuna histórica em livro sobre a imprensa erótica no Brasil

Allan Lopes

Publicado: 09/09/2025 às 12:43

Jornalista e pesquisador Valmir Costa é o autor da obra/Foto: Leopoldo Conrado/Divulgação

Jornalista e pesquisador Valmir Costa é o autor da obra (Foto: Leopoldo Conrado/Divulgação)

No momento em que a internet transforma radicalmente a produção e o consumo de conteúdo erótico, o jornalista e pesquisador Valmir Costa recua 150 anos para reconstituir, em Repórter Eros: A História do Jornalismo Erótico, como a imprensa ajudou a moldar a percepção moralista da sociedade brasileira. O autor desenterra histórias do arquivo nacional e revela que os jornais sempre caminharam na linha tênue entre o permitido e o proibido.


Publicada pela Cepe Editora, a obra acaba de receber o Prêmio Jabuti Acadêmico 2025 na categoria Comunicação e Informação. Para Valmir, o reconhecimento coroa três décadas de pesquisa e resgata do limbo historiográfico um tema fundamental, porém negligenciado. “O conteúdo não se restringe à academia. Pelo contrário. É sobre a história social do Brasil. Se esse registro ficar como uma memória viva para as próximas gerações, já me sinto realizado”, afirma ele, em conversa com o Viver.


Desde a graduação em Jornalismo, quando investigou o tratamento do sexo na imprensa brasileira em seu TCC, Valmir percebeu a escassez de registros sobre a trajetória do jornalismo erótico, em contraste com a abundante documentação de cobertura policial, política e econômica. A digitalização de acervos pela Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional abriu caminho para explorar séries de revistas dos séculos 19 e 20, enquanto as décadas mais recentes foram garimpadas em bancas de revista e sebos físicos e online.


As 696 páginas de Repórter Eros estão organizadas em dez fases cronológicas que percorrem desde os primórdios da imprensa brasileira, quando o gênero surgiu disfarçado em publicações moralistas, como o jornal O Corsário (1880), que denunciava os podres da elite imperial, a prostituição, os sodomitas, a cafetinagem e com críticas ao imperador Pedro II. O jornal foi taxado de “imprensa pornográfica” e tornou-se o responsável pelo uso do termo “pornografia” no vocabulário nacional. “Quando o obsceno aparece, é pornográfico. O erotismo é o que é socialmente aceito”, explica Valmir.


Centenas de anos depois, a lição do O Corsário revela-se mais atual do que nunca, migrando das bancas de jornal para os feeds de redes sociais. “Sem um conteúdo com formato jornalístico, os nus de homens e mulheres, por exemplo, são considerados pornográficos. É o que ocorre atualmente na internet”, aponta o pesquisador. O título aborda também veículos do fim do século 20 e começo do 21. É o caso de Ele Ela, Close, Playboy, Penthouse, Sex Symbol, G Magazine e Lolitos.


Operando nesse limbo entre o aceitável e o proibido, essas publicações refletiam as complexidades de um Brasil que, mesmo sob a forte influência da Igreja Católica, a censura do Estado Novo, a ditadura militar de 1964, ainda testemunhava a popularização do erotismo através de fenômenos como as dançarinas da Discoteca do Chacrinha. “As revistas sempre foram reflexo da sociedade e sua época”, sintetiza Valmir. Um jogo de espelhos que ainda hoje define o erotismo brasileiro.

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