Crítica: 1º álbum de estúdio de Neiff aproxima brega funk do pop global
"I.E.A.A.N" é o título do primeiro álbum de estúdio do cantor de brega funk Anderson Neiff. O trabalho foi lançado na última terça-feira (26) e está disponível nas plataformas digitais.
Publicado: 27/08/2025 às 13:33

Primeiro álbum de Neiff conta com participações de artistas do cenário nacional, como MC Ryan SP, MC Danny, MC Black da Penha, Borges e MC Don Juan. (Rasta Neiff/Divulgação)
Na madrugada da última terça-feira (26), o cantor pernambucano Anderson Neiff lançou o seu primeiro álbum de estúdio, intitulado “I.E.A.A.N”. Lançado duas semanas antes, o primeiro single do disco, “Prometeu Tudo, Entregou Nada” já soma quase 2 milhões de visualizações no Youtube, alimentando grandes expectativas em torno do trabalho.
O título é uma abreviação da frase “infelizmente eu amo Anderson Neiff”, que viralizou nas redes sociais após ser usada por uma fã, ao responder a uma pergunta que questionava se ela gostava do cantor. A sigla soa como uma brincadeira, mas também resume bem a relação paradoxal, que permeia o disco, entre um homem infiel e as mulheres que o adoram.
No álbum, mesmo se definindo como alguém “com cara de ‘Jurandir’ e pegando mais de cem”, Neiff também se apresenta como um amigo que incentiva as mulheres a não perdoarem tipos como o dele. Ele é uma espécie de conselheiro para elas em várias faixas, como “Tô nem aí”, com participações dos paulistas MC Ryan SP e MC Danny. Na música, ao descrever um mau relacionamento para a mulher, ele alerta: “Se toca, você não é lixo! Cê sabe que não compensa, linda passando por isso”.
É a mesma premissa de “Chifre Nesse Otário”, com participação de Luan no Beat, e a ja citada “Prometeu Tudo, Entregou Nada”, que trazem o cantor em uma conversa com interlocutoras. As composições em forma de diálogo têm se tornado uma marca registrada de Neiff, que já recorreu a esse tipo de narrativa em outros sucessos como “Tua ex é uma delícia”, lançado no final do ano passado. Porém, nesse último caso, a música foi direcionada ao “vacilão” que perdeu a namorada.
Compositor das dez músicas do álbum, Neiff tem a espontaneidade como trunfo para trazer metáforas originais, que dialogam diretamente com a linguagem da juventude periférica e conectada à internet. É notório que o cantor também suaviza o teor sexual das letras em uma tentativa de inserir o brega funk dentro do circuito comercial nacional e, diante do sucesso de seus trabalhos mais recentes, têm tudo para conquistar mais penetração no mainstream com essa proposta.
Porém, não é só na narrativa que o cantor busca romper os padrões do gênero musical. A estrutura de algumas músicas também demonstram sua preocupação em reinventar as fórmulas da cena. Em um momento em que a maioria dos bregas funk ainda é construída com uma introdução, uma ponte e um refrão, repetidos ao longo da música, Neiff mexe na ordem das seções em faixas como “Jurandir”.
Nesse aspecto, o ponto alto é a música “Maquinista”, composta em parceria com MC Black da Penha, que reporta uma viagem de metrô saindo do bairro da Penha, no Rio de Janeiro, em direção ao Recife. Além de reforçar o funk carioca como referência para o brega funk, a música não repete estrofes e não tem refrão, representando uma transgressão aos padrões do mercado pop.
Aliás, o intercâmbio com outros gêneros da rede de música pop periférica é uma das marcas de “I.E.A.A.N”, seja por meio de parcerias e participações, ou através de samples. Entre eles, o da música “Satisfaction”, de Benny Benassi, um grande hit do eletro house em 2002, que reaparece na base de “Prometeu Tudo, Entregou Nada”.
Produtor da maioria das músicas, o recifense Mano Cheffe assume um papel fundamental para agenciar uma sonoridade pop global para o brega funk. A única música que não leva sua assinatura é o trap “Menor indeciso”, produzida por Vt no Beat, e composta por Neiff, em parceria com o carioca Borges e o paulista MC Don Juan.
A lista de participações ainda conta com o recifense Danilo Chatinho, em “Toma Pa Pum”, e o mineiro MC Rick, em “Mexe na Minha Gaveta”. A combinação dos convidados para o disco, evidencia o interesse em trazer experimentações para o brega funk, sem abandonar as origens do brega funk.

